Eixo franco-alemão renova votos em tempos de populismo e Brexit
A chanceler alemã Angela Merkel classificou o tratado franco-alemão, que vai assinar com Emmanuel Macron, esta terça-feira, como "necessário" para dar um novo impulso à União Europeia. "Trabalhamos na Europa, queremos dar um novo impulso à unidade europeia", disse Merkel, durante este fim de semana, numa comunicação semanal aos cidadãos alemães.
Em causa está o tratado de Aix-la-Chapelle, que pretende renovar o tratado de Eliseu, documento fundador das relações bilaterais entre a França e a Alemanha, assinado em 1963 para marcar a reconciliação dos dois países após a II Guerra Mundial. Então, o tratado foi assinado por Charles de Gaulle (do lado da França) e Konrad Adenauer (do lado da Alemanha).
"O mundo transformou-se e necessitamos de um novo tratado que consolide os fundamentos do [tratado] de Eliseu", sublinhou a chanceler alemã, que chegou ao poder em 2005 e, desde então, já trabalhou com quatro presidentes franceses: Emmanuel Macron (centrista), François Hollande (socialista), Nicolas Sarkozy (direita) e Jacques Chirac (direita).
A chanceler alemã recordou ainda que a França e a Alemanha são aliados sólidos, tanto à escala bilateral como multilateral, sendo necessária uma estreita relação para fazer face aos "desafios globais" do meio económico, político e cultural. Recorde-se que também na origem do que hoje se conhece como União Europeia esteve igualmente a necessidade de sedimentar a reconciliação ao nível do eixo franco-alemão.
De acordo com o Palácio do Eliseu, o nome do tratado evoca ainda o encontro entre o presidente francês e a chanceler alemã a 10 de maio passado naquela cidade fronteiriça alemã, que em alemão se chama Aachen. Aí foram tomadas as mais importantes decisões políticas do império de Carlos Magno, também conhecido como Império Carolíngio (momento de maior esplendor do reino dos francos). O reinado de Carlos Magno, que se destacou por conquistas militares e pela organização administrativa implantada nos territórios sob o seu domínio, durou entre 768 e 814.
A 8 de janeiro, a presidência francesa indicou, em comunicado, que "os dois países procuram aprofundar os seus compromissos a favor da segurança e da prosperidade dos seus cidadãos no quadro de uma Europa mais soberana, unida e democrática". O pacto cobrirá também aspetos de educação, cultura, clima e ambiente e cooperação da sociedade civil.
O Eliseu garantiu ainda que, ao contrário do que alegou a líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen, o novo tratado nada diz sobre os franceses terem a intenção de partilhar o seu assento permanente no Conselho de Segurança da ONU com os alemães. "Emmanuel Macron quer agora partilhar este assento com a Alemanha", declarou a líder da União Nacional, tendo ainda afirmado que, de acordo com este novo tratado, uma parte da região fronteiriça da Alsácia "ficará parcialmente sob a autoridade da Alemanha".
Segundo a AP, existe uma provisão no tratado que fala do Conselho de Segurança da ONU (onde só EUA, França, Rússia, China, Reino Unido têm assento permanente atualmente). Porém, este diz apenas que ambos os países vão trabalhar no sentido de a Alemanha ser aceite, no futuro, como membro permanente do máximo órgão decisor desta organização.
A assinatura do documento entre Merkel e Macron vai decorrer na Sala do Trono da Câmara Municipal de Aachen. Este renovar de votos franco-alemão surge numa altura em que outras alianças, menos entusiastas do chamado ideal europeu, parecem estar também em formação. "É altura de contrapor o eixo franco-alemão com um eixo italo-polaco", declarou o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, também líder do partido de extrema-direita Liga. E também a poucos meses das eleições europeias e em tempos de grande incerteza em relação ao Brexit.
Para assinalar a assinatura deste novo tratado, os embaixadores de França e Alemanha em Lisboa, Jean-Michel Casa e Christof Weil, respetivamente, vão celebrar uma conversa sobre o tema, na embaixada de França, pelas 15.30.