Media húngaros acusados de veicularem notícias falsas sobre imigrantes
Jornalistas húngaros admitiram que criaram propositadamente uma "atmosfera de medo" contra anti-imigrantes que ajudou a garantir o terceiro mandato de Victor Orbán. O Primeiro-Ministro húngaro e o seu partido de direita, o Fidesz - União Cívica Húngara, alcançaram a terceira maioria consecutiva no Parlamento depois de uma campanha que se focou principalmente num discurso contra a imigração. Monitores internacionais queixaram-se da retórica "intimidadora e xenófoba" da campanha e revelaram que a televisão pública "claramente favorecia o acordo político dominante, em desacordo com os padrões internacionais".
O jornal The Guardian falou com vários funcionários da rede estatal MTVA que revelaram terem veiculado mensagens do Governo, muitas delas falsas, com o objetivo de obter apoio para a mensagem anti-imigração do Primeiro-Ministro húngaro.
Histórias negativas sobre refugiados e migrantes, ligando-os ao crime e ao terrorismo, foram sendo veiculadas, inclusive na véspera da votação: o canal M1 noticiou que uma carrinha se dirigira em direção a uma multidão, em Münster, na Alemanha, naquele que teria sido um ataque terrorista islâmico. Era mentira, disse um dos jornalistas, que não quis revelar a sua identidade.
Segundo o jornal, o filantropo nascido na Hungria, George Soros, que investiu milhões de dólares na promoção da sociedade civil na Europa central e oriental, é retratado como parte de uma conspiração entre Bruxelas e a oposição política para destruir a Hungria ao permitir a entrada de estrangeiros.
"Isso criou uma atmosfera de medo. Os reflexos de Pavlov foram criados para palavras como perigo, terrorismo, migrantes, oposição, Soros e Bruxelas", disse o jornalista. Os telejornais mostram regularmente imagens de arquivo de confrontos entre refugiados e polícia de choque na fronteira entre a Hungria e a Sérvia, ou ataques terroristas na Europa.
De acordo com a investigação do The Guardian, os jornalistas acreditam que as indicações sobre os conteúdos a noticiar vêm diretamente do Governo e quem escreve sobre Orbán recebe uma lista de palavras-chave que deve usar. "Às vezes o editor entra no escritório ao telefone e dita uma história inteira para nós, palavra por palavra. Nós não sabemos quem está do outro lado do telefone", contou um dos jornalistas.
O Governo não quis responder às questões do The Guardian e o canal MTVA também não fez qualquer comentário ao assunto.
Nos últimos oito anos, o Governo passou a consolidar o seu domínio sobre os canais de rádio e televisão húngaros. Os meios de comunicação social conotados com o Governo são também acusados de ignorarem os escândalos de corrupção que surgiram antes da reeleição de Victor Orbán e que envolviam os principais líderes do Fidesz.