Carga policial contra manifestantes que invadiram Parlamento
Centenas de manifestantes invadiram o Conselho Legislativo de Hong Kong, sede do governo, no 22.º aniversário da transferência da soberania para a China, destruindo quadros e pintando as paredes com graffiti. Por volta da meia-noite (hora local), a polícia respondeu usando gás lacrimogéneo para dispersar a multidão que estava no exterior e uma hora depois entrou no edifício vandalizado, onde apenas encontrou jornalistas.
Num comunicado partilhado na página do Facebook, a polícia de Hong Kong tinha avisado que ia usar "o nível de força apropriado" caso os manifestantes não deixassem o edifício. No comunicado, as autoridades consideraram que se estava perante um "motim" - os manifestantes podem ser condenados a dez anos de prisão por esse crime.
Nas imagens em direto do exterior do Conselho Legislativo, na altura da carga policial, viu-se pessoas a fugir dos agentes antimotim e das nuvens de gás lacrimogéneo. Os manifestantes usaram os guarda-chuvas para se proteger, além de película aderente à volta dos braços para evitar a irritação que o gás provoca em contacto com a pele. Muitos estavam também equipados com capacetes, máscaras e óculos protetores.
Segundo a Reuters, a polícia chegou de autocarro quando ainda se encontravam cerca de mil pessoas em redor do Conselho Legislativo, em pleno centro financeiro de Hong Kong. Antes de usarem o gás foram feitos vários avisos.
Horas antes, as autoridades já tinham recorrido ao gás lacrimogéneo para tentar dispersar os manifestantes, que ainda assim, ao final de várias horas de protesto, conseguiram entrar no Conselho Legislativo por volta das 21.00 locais.
Segundo o South China Morning Post, mais de 50 pessoas terão ficado feridas nos protestos de hoje. "Às 23.00, 38 homens e 16 mulheres foram levados para o hospital depois dos protestos", segundo o jornal, que especifica que um homem e duas mulheres estão em estado grave, enquanto cinco homens e três mulheres se encontram estáveis e os restantes tiveram alta. O balanço é anterior à carga policial.
Após quase um mês de manifestações maioritariamente pacíficas contra a polémica lei de extradição para a China, o aniversário da transferência da soberania do Reino Unido para a China ficou marcado por cenas de caos e violência.
"Sabemos que violamos a lei, mas não temos escolha", disse um dos jovens manifestantes, citado pela agência francesa AFP. Os manifestantes invadiram o Conselho Legislativo por volta das 21.00 locais, depois de horas a tentar entrar.
Segundo a Reuters, alguns manifestantes levaram sinais de trânsito, outros chapas de zinco e pedaços de andaimes para o protesto no Conselho Legislativo, no centro financeiro da antiga colónia britânica. Alguns sentaram-se nas cadeiras dos deputados, enquanto outros fizeram graffiti em que se lia "antiextradição". Foi ainda colocada uma faixa em que se lia: "Não há pessoas violentas, só governos violentos."
O governo apelou de imediato ao fim da violência afirmando que tinha suspendido todo o trabalho na polémica lei de extradição e que a legislação vai cair automaticamente em julho do próximo ano. "Alguns manifestantes radicais invadiram o complexo do Conselho Legislativo", disse um porta-voz num comunicado. "Estes manifestantes põem seriamente em risco a segurança dos agentes da polícia e membros do público. Tais atos de violência são inaceitáveis na sociedade", acrescentou.
Os manifestantes, que continuam a exigir a demissão da líder do governo, Carrie Lam, não reagiram. Contudo, à medida que a noite avançava, houve quem partisse, enquanto outros reforçaram as barricadas.
Quando a polícia finalmente entrou no espaço, cerca de uma hora depois da carga policial, era visível o rasto de destruição deixado pelos manifestantes.
Segundo o The Guardian, correram rumores de que a inação inicial da polícia teria sido uma armadilha, destinada a alterar a perceção pública do movimento que até agora tinha sido maioritariamente pacífico.
A 1 de julho de 1997, Hong Kong, que esteve 156 anos sob domínio britânico, regressou à soberania chinesa. Tal como em Macau, dois anos depois, a transferência de soberania decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
Propostas em fevereiro, as alterações à lei da extradição permitiriam que a chefe do executivo, Carrie Lam, e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
Pequim tem reagido às críticas de vários países ocidentais, como EUA e Reino Unido, em relação à legislação. Ainda nesta segunda-feira a China disse que o Reino Unido já não tinha qualquer responsabilidade em Hong Kong e criticou a "gesticulação" em relação ao território.
O chefe da diplomacia britânico, Jeremy Hunt, expressou o "apoio inabalável" do seu país a "Hong Kong e às suas liberdades neste dia de aniversário" do retorno deste território para a China. "Nenhuma violência é aceitável, mas HK [Hong Kong] deve preservar o direito a protestos pacíficos sob a lei, como centenas de milhares de pessoas corajosas mostraram hoje", disse Jeremy Hunt (que é também candidato a suceder a Theresa May como primeiro-ministro) no Twitter.
A União Europeia pediu restrição e diálogo para encontrar o caminho a seguir.