Índia. Duas crianças espancadas até à morte por defecarem na via pública
Rajesh Chandel, superintendente da polícia de Shivpuri, um distrito no estado central de Madhya Pradesh, disse à agência Reuters que as crianças, identificadas como uma menina de 12 anos, Roshni, e o seu sobrinho Avinash, de 10 anos, foram atacadas na manhã de quarta-feira.
Dois suspeitos, homens, foram presos, adiantou o polícia. "Os acusados são mentalmente estáveis e, durante o interrogatório, confessaram ter cometido esse crime", afirmou Chandel, acrescentando que a investigação continua.
As duas crianças pertenciam a uma das chamadas castas baixas da Índia, "dalits", ou "intocáveis", termos referentes na antiga hierarquia de castas da Índia às camadas de população mais pobres, geralmente constituídas por operários braçais.
A discriminação com base nas castas é ilegal, mas ainda difundida na Índia, especialmente nas áreas rurais onde vivem centenas de milhões de pessoas.
Tanto o superintendente Chandel quanto o pai de Avinash, Manoj Balmiki, disseram que os assassinatos seguiram-se a um conflito verbal anterior entre famílias, em que foram usados insultos relacionados com as castas a que pertencem.
"Há muitas questões dessas na nossa aldeia", disse Balmiki, 32 anos à Reuters. "Os nossos filhos não podem brincar com os filhos deles".
O saneamento precário que força os indianos a defecar nas vias públicas é um dos maiores problemas de saúde do país e a sua erradicação tem sido uma das principais prioridades do governo do Partido Bharatiya Janata [Partido do Povo], liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi.
Modi lançou a missão Swachh Bharat, ou Índia Limpa, em 2014, e prometeu tornar a Índia "livre da defecação a céu aberto" (ODF) até 2 de outubro deste ano.
Esta semana, Modi recebeu um prémio da Fundação Gates, numa cerimónia em Nova Iorque, pelo seu papel nesta iniciativa.
O programa Índia Limpa construiu mais de cem milhões de casas de banho para alguns dos mais pobres da sociedade indiana, segundo dados oficiais, mas ainda existem problemas em algumas regiões.
Anugraha P, o principal funcionário público do distrito de Shivpuri, disse à Reuters que a vila de Bhaukhedi, onde vivem as duas famílias protagonistas deste conflito, tinha sido declarada livre da defecação a céu aberto em 2018, mas que a casa de uma das crianças mortas não tinha casa de banho.