Guerra-fria de volta? EUA enviam bombardeiros para a Europa no aniversário da anexação da Crimeia
Na semana em que Putin viajou para a Crimeia, onde proclamou o nascimento de "uma nova e poderosa Rússia que não hesitará em defender os seus interesses", os EUA enviaram seis bombardeiros B-52 para a Europa. A manobra é considerada "uma mensagem forte para a Rússia" no momento em que esta celebra o quinto aniversário da anexação do território ucraniano, que teve lugar em março de 2014.
Nesta segunda-feira, quatro dos aviões voaram para vários locais do continente, incluindo o mar da Noruega, o mar Báltico e o Mediterrâneo. Outros B-52 baseados na base aérea de Andersen, em Guam, na Micronésia, juntaram-se aos voos de "familiarização e treino" dos estacionados na Europa, aproximando-se da península russa de Kamchatka, no extremo oriente do território do país. "Estes voos do Pacífico e Europa demonstram o compromisso militar americano global com os seus aliados e parceiros", disse a Força Aérea americana em comunicado.
O envio dos bombardeiros incluiu-se na recente escalada da tensão entre EUA e Rússia. Recorde-se que no final de novembro a Rússia apreendeu três navios ucranianos com a respetiva tripulação, criando uma crise internacional. Trump cancelou um encontro lateral com Putin durante a cimeira G20 na Argentina em dezembro. Apesar dos apelos dos EUA, a Rússia recusou devolver as tripulações e continuou o seu show de força militar; este envio dos B-52 é uma clara resposta.
Mas o comandante das forças americanas na Europa, o general Curtis Scaparrotti, considera que não chega. No início deste mês, queixou-se de falta de meios terrestres e navais, assim como de serviços de informação, vigilância e reconhecimento. "Não estou satisfeito com a estratégia de dissuasão que estamos a aplicar na Europa", afirmou. "Dada a crescente ameaça representada pela Rússia, não considero ter meios suficientes. Tendo em conta a modernização e a crescente agressividade das forças russas deveríamos aumentar o número das nossas forças no terreno para que a estratégia de dissuasão funcione."
A anexação da Crimeia e o fortalecimento das forças russas na região voltaram a ser, esta segunda-feira, denunciados pelo Conselho Nacional de Segurança dos EUA como "uma ameaça para os aliados regionais dos EUA". E se Trump passa a vida a queixar-se dos custos da NATO para o país, o certo é que durante a sua administração os EUA aumentaram a presença militar na Europa devido às ações da Rússia.
Também na segunda-feira representante especial americano na Ucrânia, Kurt Volker, disse não ser possível uma solução militar para a Crimeia. "Não podemos tomá-la pela força", admitiu. "Seria um desastre militar. Levaria à perda de milhares e milhares de vidas. Não é algo que se deva ponderar sequer."
Mas Volker anunciou que os EUA estão disponíveis para vender mais armas à Ucrânia, de modo a que o país aumente a sua capacidade de defesa. Questionado sobre se a Ucrânia pode entrar para a NATO num futuro próximo, respondeu que depende da velocidade do progresso do país em matérias como democracia, luta contra a corrupção e controlo civil das forças armadas, assim como da sensibilidade da NATO em relação ao timing apropriado para um convite. E acrescentou esperar que a Rússia não reaja mal quando isso suceder.
No entretanto, considerou, e enquanto a Rússia não sair da Crimeia, a comunidade internacional deve manter as sanções.
Conotados com a guerra fria, os B-52 entraram serviço na década de 1950. Foram originalmente desenhados para voos intercontinentais de grande altitude e com capacidade nuclear, com a potencialidade de atingir o interior da Rússia. Os aviões, que não são fabricados desde 1962, foram muito modificados e dispõem de tecnologia atual. Cada um deles tem capacidade para mais de 31 toneladas de bombas.