Freiras indianas exigem justiça. Bispo Mulakkal acusado de violação
Quatro freiras que exigem a prisão do bispo Franco Mulakkal, após as acusações de violação de que foi alvo, estão a sofrer pressões várias e receberam ordens para serem transferidas do convento onde se encontram para outros locais. As freiras Alphy, Anupama, Josephine e Ancitta acusam a Igreja de querer separar o grupo para fragilizar a freira que foi vítima dos abusos.
As freiras começaram a denunciar os comportamentos impróprios do bispo no início de 2018. Em março do ano passado, numa tentativa de abafar o caso, a sua congregação - Missionárias de Jesus -, ordenou-lhes que voltassem para os conventos onde se encontravam antes. Elas recusaram-se a mudar e preferiram continuar em Kuravialangad, Kerala, ao lado da companheira que denunciou os abusos. No verão, essa freira fez uma queixa oficial, na polícia, denunciando os constantes atos de assédio e violação por parte o bispo Mulakal, membro da Igreja Católica na Índia, ocorridos no convento de Kuraviagland entre 2014 e 2016.
Depois dessa queixa, cinco freiras organizaram um protesto pacífico exigindo a prisão do bispo. O protesto acabou por captar as atenções do público, tendo sido apoiado pelo movimento "Salvem as nossas irmãs" que só terminou quando o religioso foi detido em setembro passado. O bispo de 54 anos negou todas as acusações mas foi "temporariamente" afastado pelo Vaticano das suas responsabilidades pastorais como bispo da diocese de Jalandhar. Três semanas depois, após o pagamento da fiança, o bispo foi libertado pelo Supremo Tribunal de Kerala.
Em outubro, o padre Kuriakose Kattuthara foi encontrado morto numa igreja, poucos meses depois de ter testemunhado contra o bispo Mulakal.
No mês passado, quatro das cinco freiras voltaram a ser pressionadas pela Madre Superior Regina: "Escolheram não seguir as minhas instruções e ordens repetidas, deitando ao vento os vossos votos e compromissos religiosos", escreveu a responsável numa carta que enviou às freiras insubordinadas. Uma quinta freira, a irmã Nina, recebeu ordens para se apresentar às autoridades em Jalandhar.
Na sexta-feira passada, o bispo de Agnelo veio em seu auxílio: "Não haverá nenhum movimento da diocese de Jalandhar para expulsar-vos da igreja de Kuravilagand enquanto forem necessárias neste caso de tribunal", garantiu o bispo responsável por esta congregação.
E, um dia depois, mais um volte-face: "Apesar de a congregação das Missionárias de Jesus esteja sob o direito da diocese, a administração interna congregação é da responsabilidade da Superior e do seu Conselho. O bispo de Jalandhar normalmente não interfere, a não ser que os interesses gerais da Igreja exijam essa interferência", lê-se na nota assinada pelo padre Peter Kavumpuram, do gabinete de relações públicas da diocese, acrescentando que a ordem "de regresso às suas comunidades legítimas não foi cancelada, mas mantém-se".
As freiras escreveram uma carta ao primeiro-ministro, Pinarayi Vijayi e estão agora a preparar mais um protesto. "Nós só pedimos para nos deixarem em paz e para podermos continuar juntas neste convento até o caso estar resolvido", afirmou uma das religiosas este domingo.
Este será apenas um dos muitos casos de abuso por parte de padres católicos na Índia, de acordo com uma investigação da agência de notícias Associated Press:
Esta semana, o Papa Francisco admitiu pela primeira vez que bispos e padres da Igreja Católica abusaram de freiras, numa resposta a uma pergunta de um jornalista durante uma viagem de avião de regresso dos Emirados Árabes Unidos. "Havia padres e também bispos que faziam isso", concordou o Papa, que nunca tinha abordado a questão diretamente, considerando ainda que é um tema relevante na Igreja.
Depois disso, a maior associação de religiosas dos Estados Unidos pediu uma revisão da liderança da igreja, defendendo que a extensão dos abusos no clero "indicam que as estruturas atuais devem mudar" para que seja recuperada a credibilidade moral. Em comunicado, a Conferência das Mulheres Religiosas para a Liderança (LCWR, na sigla em inglês), que representa cerca de 80% das freiras católicas nos EUA, agradecem o facto de Francisco ter reconhecido a existência de abusos. "Somos muito gratas pelo reconhecimento público do Papa Francisco do abuso sexual de freiras católicas por membros do clero. As suas palavras francas lançam luz sobre uma realidade que tem sido amplamente escondida do público e acreditamos que sua honestidade é um importante e significativo passo à frente".
A organização adianta, contudo, esperar que esse reconhecimento seja uma força motivadora para todos na Igreja para retificar rapidamente a questão do abuso sexual pelo clero. "A próxima reunião de bispos sobre abuso sexual oferece a oportunidade para uma ação decisiva", refere a organização.
A Conferência das Mulheres Religiosas para a Liderança deixa algumas recomendações, nomeadamente, a criação de mecanismos para a denúncia dos abusos numa atmosfera onde as vítimas são recebidas com compaixão e onde se possam sentir em segurança. No comunicado, a associação recomenda ainda uma reflexão sobre as estruturas de liderança da igreja para abordar a questão do clericalismo e garantir que o poder e a autoridade sejam compartilhados com os membros do laicado. "As revelações da extensão do abuso indicam claramente que as estruturas atuais devem mudar para que a igreja recupere a sua credibilidade moral e tenha um futuro viável", escreve a LCWR.
A Conferência Episcopal de Tarragona, que agrupa os bispos de todas as dioceses da Catalunha, vai abordar o tema dos abusos sexuais cometidos por religiosos na reunião marcada para os dias 11 e 12 de fevereiro.
Fontes da Igreja confirmaram a agência espanhola Efe que os bispos incluirão na agenda da reunião ordinária da Conferência Episcopal Tarraconense, a realizar na segunda-feira e terça-feira em Tiana (Barcelona), os casos de abusos, um que envolve um monge de Montserrat - que morreu há oito anos - outro envolvendo três sacerdotes de Tarragona (um deles falecido também há oito anos) e outro da diocese de Girona.
As mesmas fontes indicaram que os bispos condenarão os abusos, pedirão perdão e se colocarão à disposição das vítimas. Os bispos, pretendem também manifestar a sua total disponibilidade para erradicar estas práticas dentro da Igreja Católica, dando instruções para que todas as dioceses e congregações sigam a ordem do Papa Francisco de denunciar todos os abusos.