Eurodeputados portugueses divididos sobre Ursula von der Leyen

Os eurodeputados portugueses dividem-se entre os que esperavam mais e os que ficaram convencidos com o discurso de Ursula von der Leyen no Parlamento Europeu
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Entre os sociais-democratas, Paulo Rangel considera que se tratou de um discurso convincente e capaz de acabar com algum ceticismo em torno do nome de Ursula von der Leyen. Rangel diz-se "confiante" de que a alemã vai mesmo "conseguir" ser eleita ainda esta terça-feira em Estrasburgo.

Se tal acontecer, será também com o apoio da delegação portuguesa do Partido Socialista, pois o eurodeputado Carlos Zorrinho considera que estar do lado da solução, votando a favor é uma estratégia mais acertada, já que dará "mais condições para exigir aquilo que está comprometido, por escrito, aquilo que também foi confirmado nas respostas e nas intervenções feitas aqui no plenário".

Mas dentro da própria família política de Von der Leyen há vozes discordantes como a de Nuno Melo. O deputado do CDS-PP entende que deveria ser mantido o processo dos Spitzenkandidaten. "Mas, assim não sucedeu e portanto, assim sendo, - o voto é secreto - estou ainda numa fase de ponderação e logo se verá", disse o centrista.

Nada convencida, Marisa Matias considera que o discurso para agradar a todos não agrada ao Bloco, pois acredita que "ou se está do lado do combate às alterações climáticas, ou da não militarização, ou se defende o emprego ou se continua a atacar os direitos laborais ou estamos do lado da defesa dos serviços públicos ou do lado da concorrência".

João Ferreira diz, por seu lado, que o PCP não votará a favor de uma candidata que é "mais do mesmo". "Esta é a candidata das desigualdades entre países, esta é a candidata das recomendações por país que mandam desregular o mercado do trabalho, que mandam privatizar empresas", disse, avisando que, por essa razão "esta candidata só pode contar com aqueles que têm estado com este tipo de políticas, e não o do PCP".

Nem o deputado do PAN, Francisco Guerreiro, se deixou convencer pelo tom verde do discurso de Von der Leyen. "As metas climáticas são um pouco mais ambiciosas a nível de retórica, mas não concretiza, não fala em agropecuária, ainda não fala em modos de produção de alimentos mais ecológicos, não fala numa estratégia de prevenção dos solos, não fala de uma estratégia europeia para a ferrovia. Tenta agradar à generalidades do status quo, mas a nós não nos convence", afirmou.

Esta manhã, Ursula von der Leyen fez um derradeiro discurso, para conquistar os votos dos eurodeputados, em que procurou incluir as várias sensibilidades no Parlamento Europeu.

Von der Leyen assumiu compromissos em relação às metas climáticas, dizendo que a maior responsabilidade das gerações actuais é "garantir a saúde do planeta".

"Quero que a Europa seja o primeiro continente, no mundo, climaticamente neutro, em 2050", afirmou, considerando também que a meta climática não poderá ser alcançada a qualquer custo, pois "o que for bom para o nosso planeta, terá também de ser bom para as nossas pessoas e para as nossas regiões".

Se for eleita, Von der Leyen quer usar parte dos fundos de coesão para alcançar as metas climáticas, mas reconhece que estas verbas são insuficientes. "É por isso que vou propor um fundo de transição [climática] justa, para apoiar os [países] mais afetados. Este é o método europeu. Somos ambiciosos, não deixamos ninguém para trás e damos perspectivas", disse.

O mesmo método deve ser assegurado para as pequenas e médias empresas, capazes de garantir emprego, e dinamizar a espinha dorsal da economia europeia. "Elas só podem fazer isso, se tiverem acesso a capital em todo o mercado único. Livremo-nos de todas as barreiras, vamos abrir a porta, completemos a União de Mercados de Capital. As nossas pequenas e médias empresas merecem", defendeu.

Falando para uma ala mais à esquerda, Ursula von der Leyen prometeu erradicar a pobreza na infância, através de uma "Garantia Infantil, para ajudar a assegurar que cada uma das crianças na Europa, em risco de pobreza e exclusão social tem acesso aos direitos mais básicos, como cuidados de saúde e educação".

Von der Leyen, que é a atual ministra da Defesa alemã, prometeu ainda defender o estado de direito com um mecanismo de nação automática, para quem puser em causa os valores democráticos.

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