Cinco militares, dois pastores, duas mulheres. Eis a equipa final de Bolsonaro
Com a nomeação de Ricardo Salles para o Meio Ambiente fica completo o governo de Jair Bolsonaro, com 22 ministros, mais sete do que o prometido em campanha. No total, são sete nomes de perfil político, dez de perfil técnico e cinco militares, a que se juntam o presidente, um capitão, e o vice-presidente, o general Hamilton Mourão. Ou, se preferirmos outras contas, são quatro ex-membros do governo de Michel Temer, seis nomes sob investigação judicial, dois indicados pelo guru intelectual da nova direita brasileira, dois pastores evangélicos e duas mulheres.
Salles, o último escolhido, é um político, filiado ao Partido Novo, que defende "a bala" como resposta às ações do Movimento dos Sem Terra, tem o apoio declarado dos grandes latifundiários e é investigado por improbidade administrativa. Um perfil não muito distante do de Tereza Cristina, do DEM, outra política sob investigação a quem caberá chefiar a agricultura. As duas pastas, ambiente e agricultura, chegaram a estar previstas sob o mesmo ministério.
Ainda no grupo dos investigados, destaque para Onyx Lorenzoni (DEM), o ministro da casa civil, cargo que no Brasil coordena a relação com o poder legislativo, alvo de uma ação no Supremo por ter recebido duas doações não declaradas da empresa JBS, uma das mais envolvidas na Lava-Jato. Também do DEM, Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, responde a inquéritos por fraude e tráfico de influência. Do PSL, partido do presidente, o titular do turismo Marcelo Antônio sofreu processo criminal por compra e venda de empresas.
As "estrelas" do governo, no entanto, estão na economia, Paulo Guedes, e na justiça, Sergio Moro, dois técnicos a quem competirá administrar super-ministérios. O segundo é tido como o rosto da luta contra a corrupção no país, o primeiro, entretanto, é investigado por crimes de corrupção na gestão de fundos de investimento, completando a meia dúzia de ministros envolvidos com a justiça.
Os militares, além de estarem em cargos com que tem mais afinidade, a defesa, sob o comando do general Azevedo e Silva, e a segurança institucional, na alçada do amigo íntimo do presidente general Augusto Heleno, ocupam ainda a secretaria do governo, uma pasta política gerida pelo general Santos Cruz, a ciência e tecnologia, a cargo do tenente-coronel e astronauta Marcos Pontes, e o pelouro das minas e energia, comandado pelo almirante Bento de Albuquerque.
Dois ministros, por outro lado, foram indicação assumida do filósofo radicado nos Estados Unidos Olavo de Carvalho, o guru intelectual de Bolsonaro. São o ministro das relações exteriores Ernesto Araújo, um entusiasta de Donald Trump para quem o aquecimento global é uma "maquinação", e o titular da educação Ricardo Vélez, um crítico do atual sistema científico brasileiro por querer impor o marxismo e para quem o golpe de 1964 que deu origem a 21 anos de ditadura deveria ser comemorado.
Cinco nomes, Osmar Terra (Cidadania), Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional), Wagner Rosário (Transparência), o já referido general Santos Cruz (Secretaria do Governo) e André Mendonça (Advocacia-Geral da União) transitam do governo do presidente cessante Michel Temer.
Este último é, além de Damares Alves, titular do ministério das mulheres, família e direitos humanos, um pastor evangélico. Damares e a já citada Tereza Cristina são, por outro lado, as duas únicas mulheres entre os 22 ministros.
Completam a lista, Campos Neto, presidente do Banco Central, que tem por enquanto estatuto de ministério, Gustavo Bebianno (PSL), braço direito de Bolsonaro na campanha, que se ocupa da secretaria-geral da presidência, e Tarcísio de Freitas, da infraestrutura, uma pasta que deve englobar a comunicação, que chegou a estar no radar de Carlos Bolsonaro, segundo filho do presidente.
Ele e o pastor Magno Malta, o homem que orou com a família presidencial horas depois de ser conhecida a votação da segunda volta, são os principais ausentes da lista de 22 e têm revelado a sua amargura em público pelo facto.