"Isto é um monstro" - furacão Florence atinge esta quinta-feira a costa leste dos EUA

O governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, classificou como "monstro" o <em>Florence</em>. Costa Alves, metereologista português, diz que poderá ser "potencialmente muito grave" em termos de efeitos
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O furacão Florence deverá atingir esta quinta-feira a costa leste dos EUA, segundo o National Hurricane Center, temendo os especialistas que este deixe um rasto de destruição e possa até causar várias mortes à sua passagem.

"Isto é um monstro. É grande. É um furacão extremamente perigoso, ameaçador, histórico", declarou em conferência de imprensa o governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, sublinhando: "As ondas que vai trazer podem ser qualquer coisa nunca antes vista. Esta tempestade é diferente. Não arrisquem a vossa vida à frente deste monstro".

O Florence está a caminho de ser a pior tempestade de categoria 4 a atingir a Carolina do Norte em cem anos e as autoridades americanas já mandaram retirar de casa mais de um milhão de pessoas. Os responsáveis esperam ventos na ordem dos 256 km/h e até seis metros de chuva nas zonas costeiras. Segundo Ken Graham, diretor do National Hurricane Center, explicou à CNN, qualquer tempestade que provoque 3,6 metros de chuva já é considerada "potencialmente mortífera".

Ao DN, o meteorologista Costa Alves diz que, "se atingir a Carolina do Norte e a Carolina do Sul com grau 4 [numa escola composta por cinco níveis], embora as previsões indiquem que poderá passar para grau 3, o Florence poderá ser potencialmente muito grave em termos de efeitos".

Na opinião do especialista não será, no entanto, um dos mais destruidores das últimas décadas, como tem sido anunciado. "Se o compararmos com ciclones tropicais no passado e nos EUA, é claro que não é. Há furacões, como o Katrina e outros, que arrasaram as Caraíbas e a zona do Golfo do México".

A Carolina do Norte e a Carolina do Sul, explica o meteorologista, ficam numa "região muito exposta aos ciclones tropicais que infletem para norte na zona da Florida e varrem a costa leste dos EUA". Desde 1950, quatro furacões de intensidade 3 ou mais atingiram terra firme na zona entre Norfolk, Virgínia e Savannah, Georgia.

A agravar a situação, adianta Costa Alves, "existe muita chuva e os problemas da agitação marítima, onde a tempestade pode ser gerada". Na região da Carolina do Norte e da Pensilvânia, segundo o Washington Post, já choveu entre 150 a 300% do que é normal para esta altura.

Entre os efeitos esperados da passagem do Florence pela costa americana estão a formação de ondas com mais de cinco metros, inundações devido a chuvas, queda de árvores e danos nas portas, janelas e telhados das casas.

As autoridades da Carolina do Norte, Carolina do Sul, da Virgínia e Delaware pediram a 1,5 milhões de pessoas que deixem as suas casas. O presidente norte-americano, Donald Trump, pediu aos cidadãos que sigam as instruções oficiais.

"Fui informado de que esta é uma das piores tempestades a atingir a costa leste em muitos anos. E vai atingir diretamente a Carolina do Norte, Carolina do Sul, Virgínia. Por favor, estejam preparados, tenham cuidado e mantenham-se SEGUROS!", escreveu o chefe do Estado norte-americano na sua conta de Twitter.

Trump gravou, inclusivamente um vídeo, colocado no Twitter da Casa Branca, a reforçar esse apelo: "O furacão Florence está a aproximar-se rapidamente. Estamos preparados. Somos capazes de lidar com a situação. Saiam da frente dele, não joguem jogos com ele, é dos grandes, talvez dos maiores já vistos, com grandes quantidades de água. Apesar de tudo, podem acontecer coisas más, sabem como é, é a Mãe Natureza, nunca se sabe. Estejam prontos. Que Deus vos Abençoe".

Consequências do aquecimento global

De acordo com a investigação que tem sido feita, a tendência é para os furacões de maior intensidade, e consequentemente mais destruidores, serem cada vez mais frequentes. "Pensa-se que o aumento da temperatura nas camadas superficiais do oceano, aumentam as condições para que se gerem ciclogeneses, as condições iniciais de um furacão", explica Costa Alves.

A culpa, indica o meteorologista, é do aquecimento global, que faz aumentar a temperatura da atmosfera e das camadas superficiais do oceano. Pode haver, segundo o mesmo, "uma diferença na distribuição das áreas de ar quente, que são ciclogenéticas mais a norte". Tudo isto "pode refletir-se em maior número de ciclones tropicais no Atlântico e de maior intensidade".

Neste momento, existem outros dois furacões a movimentar-se no Atlântico: o Helene, de categoria 2 (com ventos até 175 km/hora), e o Isaac, de categoria 1 (com ventos de 110 km/hora).

Relativamente aos nomes dos furacões, Costa Alves recorda que "durante muito tempo, a Organização Meteorológica Mundial era machista e inspirava-se na ideia de que a mulher em casa era tempestuosa, razão pela qual lhes dava nomes femininos". Contudo, em 1970 começaram a ser usados também nomes masculinos, para acabar com a desigualdade de género.

Há uma lista atualizada periodicamente pela Organização Meteorológica Mundial e pela ONU, mas cada região possui a sua própria lista. Há nomes que são mais familiares no Atlântico, enquanto outros são mais comuns no Pacífico. Os nomes de furacões muito violentos não podem, no entanto, voltar a ser usados. É o caso do Katrina, por exemplo, que atingiu os EUA em 2005, provocando quase duas mil mortes, sobretudo em Nova Orleães, onde os diques que protegem a cidade cederam, provocando inundações.

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