Absolvidos em caso de violação porque "mulher era muito masculina"
Mais de 200 pessoas protestaram à porta de um tribunal de relação na cidade de Ancona contra a absolvição de dois homens acusados de violação, depois de conhecido o acórdão da decisão de primeira instância, no qual se considerava que a mulher queixosa, uma peruana de 22 anos, é "demasiado masculina" para ser motivo de atração.
O polémico acórdão data já de 2016, mas só agora os pormenores foram tornados públicos, depois de o Supremo Tribunal italiano ter revogado a decisão das instâncias inferiores e ordenado a repetição do julgamento.
As três juízes - todas mulheres - responsáveis pela absolvição dos dois homens atenderam à defesa dos alegados agressores, que disseram não sentirem atração pela vítima, e anexaram uma foto desta como prova documental, concluindo que a mulher, natural do Peru, é "pouco atrativa".
"Foi nojento ler isso. As juízes expressaram várias razões para a absolvição, mas uma delas foi porque os arguidos disseram que nem sequer gostavam da mulher e que ela era feia. E ainda escreveram que a fotografia suportava essa tese", criticou Cinzia Molinaro, advogada da vítima, em declarações ao jornal inglês The Guardian, lamentando a mentalidade "medieval" das juízes.
O caso vai agora ser reapreciado por um tribunal de Perugia. A defesa da mulher peruana - que entretanto teve de regressar ao seu País por ter "sentido hostilidade da comunidade local", segundo a sua advogada - alega que os dois homens colocaram drogas na bebida da vítima, num bar, para onde o grupo se tinha dirigidio após uma aula.
Os relatórios médicos confirmam que as lesões da mulher eram consistentes com casos de violação e que ela tinha elevados níveis de benzodiazepinas [um fármaco psicotrópico] no sangue.