Imprensa britânica relata "conspiração" no governo para afastar Theresa May
A imprensa britânica deste sábado regista a existência de "manobras sérias" nos bastidores do governo, como lhe chama a editora política da BBC, para afastar Theresa May do governo. De acordo com "importantes" fontes dos conservadores, a primeira-ministra britânica poderia conseguir o apoio para o seu acordo de saída da União Europeia (UE) se concordasse em deixar o cargo.
Deputados do partido adiantaram ainda à BBC que podem até apoiar o acordo, caso Theresa May garanta que não será a responsável pela próxima fase das negociações do Brexit.
O número 10 da Downing Street, a residência oficial da chefe do governo, desmente que May esteja a ser pressionada para se demitir.
Vários jornais de referência deste sábado escrevem, no entanto, que há membros do governo a conspirar contra a primeira-ministra, com o objetivo de substituí-la por um dirigente interino até que as eleições para a liderança se realizem no final deste ano. Sobre quem pode ser o sucessor, as opiniões divergem, conforme se tratem de fontes pró ou anti-Brexit.
A pressão política interna sobre Theresa May tem vindo a aumentar desde que foi obrigada a pedir à UE uma prorrogação do Artigo 50, tendo sido ainda criticada por acusar os deputados de serem os culpados pelo atraso do Brexit.
Recorde-se que o acordo que May negociou coma UE foi esmagadoramente rejeitado na Câmara dos Comuns duas vezes, e ainda não é claro se fará uma terceira tentativa, uma vez que afirmou, numa carta que enviou aos membros do parlamento, que só o faria caso houvesse garantia de ter "apoio suficiente".
O ministro das Finanças, Philip Hammond - um defensor da permanência do Reino Unido na UE - disse este domingo à Sky News que "não está em causa o primeiro-ministro - mudar primeiros-ministros, ou o partido do governo não ajuda".
Negou também os relatos de que estaria a tentar colocar David Lindigton, considerado vice-primeiro-ministro, no lugar de May. "Não são as pessoas que estão em causa, mas os acordos e o apoio que podem ter", sublinhou. "Estar agora a querer mudar as peças do tabuleiro é francamente autoindulgente neste momento", acrescentou ainda.
Segundo o Sunday Times, Lidington, que votou pela permanência do Reino Unido na UE, está na linha da frente para substituir May, enquanto o Mail on Sunday diz que o ministro do Ambiente, pró-Brexit, Michael Gove, era a "escolha do consenso".
Os organizadores de uma marcha por um novo referendo ao Brexit garantem que cerca de um milhão de pessoas se juntou ontem ao protesto. Os manifestantes pró-Europa juntaram-se ao final da manhã para a marcha que intitularam de "Devolve-o ao povo" e passaram por Downing Street, a residência oficial da primeira-ministra britânica, terminando junto ao Parlamento.
No Conselho Europeu de quinta-feira, os 27 Estados membros da União Europeia aprovaram uma extensão do Brexit até 22 de maio, caso May consiga aprovar o acordo na próxima semana. Se falhar, Bruxelas deu a Londres até 12 de abril para apresentar uma alternativa. Inicialmente, a saída do Reino Unido da UE estava prevista para as 23:00 de 29 de março.
Também uma petição a pedir a revogação do Brexit reuniu em quatro dias 5 milhões de assinaturas, tornando-se a mais popular de sempre no site para petições do governo britânico. A autora, uma professora universitária reformada de 77 anos, disse à BBC que criou a petição porque se sentia "frustrada" por, enquanto crítica do Brexit, ter sido "silenciada e ignorada" durante tanto tempo. Margaret Anne Georgiadou anunciou no sábado que, por causa da petição, recebeu ameaças de morte por telefone e encerrou a conta que tinha no Facebook depois de esta ter sido pirateada.