Ameaças de morte à autora da petição para revogar o Brexit
A professora universitária reformada, de 77 anos, que iniciou a mais bem-sucedida petição de sempre no Reino Unido, recebeu três ameaças de morte pelo telefone e viu a sua conta no Facebook pirateada. "Quem deseja assim tanto o Brexit, que está preparado para matar?", reagiu Margaret Anne Georgiadou.
À BBC, admitiu ter ficado a "tremer" devido às ameaças e que não disse nada ao marido, mais velho, "porque ficaria histérico". "Sinto-me terrível, sinto-me zangada comigo mesma porque pensei que era mais forte. Mas eu fiquei com medo."
A cidadã britânica anunciou também no Twitter que devido ao facto de ter sido alvo de uma "torrente de insultos" iria encerrar a conta de Facebook.
Georgiadou, que se encontra em Chipre, pediu ainda através do Twitter para os manifestantes cantarem o famoso hino You'll Never Walk Alone.
A sua petição, Revogar o Artigo 50.º e Permanecer na UE, criada no dia 12 de fevereiro, teve um boom a partir de quarta-feira, no dia em que a primeira-ministra Theresa May, numa declaração ao país, culpou os deputados pelo impasse quanto ao acordo de retirada do Reino Unido da União Europeia. "O governo afirma repetidamente que sair da UE é 'a vontade do povo'. Temos de pôr termo a esta afirmação, provando agora a força do apoio público à permanência na UE. Um referendo pode não acontecer - por isso, votem agora", lê-se na petição.
À rádio LBC, defendeu que um referendo "não é muito democrático". "A maioria ganha e é decidida pela maioria para a maioria. Que se lixe a minoria. Enquanto a verdadeira democracia inclui a opinião de todos na sociedade", disse Georgiadou. E terminou, lapidar: "Num país de cegos os lobos são muitas vezes confundidos por cães-guias."
A afluência à petição foi de tal ordem que o site das petições esteve várias horas indisponível. Na noite de sábado tinha passado 4,7 milhões de assinaturas - a petição mais popular de sempre. A segunda petição (e já agora, a quarta) da lista pede um segundo referendo ao Brexit. Chegou aos 4,1 milhões de assinaturas, enquanto a quarta, iniciada pelo jornal Independent com o mesmo objetivo, alcançou 1,2 milhões de assinaturas. A terceira petição mais popular pedia ao Parlamento para impedir uma visita de Estado de Donald Trump porque iria causar embaraço à rainha devido à "misoginia e à vulgaridade" do presidente dos Estados Unidos.
Ao atingir a marca das cem mil assinaturas, uma petição pode ser selecionada para debate na Câmara dos Comuns. Qualquer cidadão britânico ou com estatuto de residente no Reino Unido pode subscrever o documento.
Às ameaças à autora da petição seguiu-se uma notícia do bloggerGuido Fawkes, na qual se alega que Margaret Georgiadou fez ameaças no Facebook a Theresa May, entre outras mensagens em que pedia informações sobre a compra de armas. Este artigo foi replicado pelo Daily Mail, um dos jornais britânicos mais lidos. Recordemos, porém, que a professora reformada, de 77 anos, afirma que a sua conta de Facebook foi pirateada.
Os britânicos tiveram mais uma oportunidade para demonstrar a sua oposição à saída do Reino Unido da União Europeia, pelo menos da forma como o governo de Theresa May está a tentar fazê-lo. À marcha pelo referendo, que se realizou na tarde de sábado entre o Hyde Park e Westminster, acorreu um mar de gente oriunda de vários pontos das ilhas britânicas. Segundo a campanha People's Vote, um milhão de pessoas marcou presença.
A confirmar-se a afluência, terá sido a maior manifestação do século em Londres, tendo destronado o protesto contra a guerra no Iraque, em 2003. Num ambiente festivo e ordeiro, os manifestantes exprimiram através de cartazes e bandeiras os seus sentimentos sobre o folhetim do Brexit. À manifestação juntaram-se políticos de quase todos os partidos, embora com a ausência do líder da oposição Jeremy Corbyn. Em seu lugar esteve o deputado Tom Watson, que deixou uma mensagem a Theresa May enquanto se dirigia à multidão: "Só posso votar no acordo se você também deixar as pessoas votarem. Primeira-ministra, você perdeu o controlo do processo, está a mergulhar o país no caos, deixe as pessoas assumirem o controlo da situação."
A líder do governo escocês Nicola Sturgeon também marcou presença. "Se tivesse um pouco de coerência a primeira-ministra estaria aqui neste palco agora mesmo. Não digo que teria uma grande receção, mas devia estar aqui. Porque no vergonhoso discurso que fez em Downing Street na quarta-feira à noite, atirando o Parlamento contra o povo, passou a mensagem de que a voz do povo estava a ser frustrada. Então se é isso que pensa deixe o povo expressar-se", disse a nacionalista escocesa e pró-europeia.
Na manifestação também participaram os deputados do Grupo Independente. O deputado Chris Leslie (ex-trabalhista) anunciou que o seu grupo vai apresentar uma emenda para debate na segunda-feira a pedir um segundo referendo.
Enquanto as massas manifestaram-se pela realização de um segundo referendo, o populista Nigel Farage continuou a sua March to leave (marcha pela saída). O seu comício em Linby, perto de Nottingham, terá atraído, segundo a BBC, umas 200 pessoas. Enquanto falava, o grupo de ativistas Led by Donkeys mostrou imagens num ecrã gigante de Farage a defender um segundo referendo ou a tecer elogios ao controverso político norte-americano Roy Moore.