Autópsias oficial e privada coincidem. Morte de Floyd foi homicídio

Conclusões da primeira perícia apontavam para a morte devido ao facto de Floyd ter estado imobilizado, associado a problemas de saúde e a potenciais elementos tóxicos no organismo.
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A autópsia pedida pela família de George Floyd revelou que o afro-americano morreu de asfixia devido à compressão do pescoço e das costas quando um polícia de Minneapolis o pressionou contra o chão com o joelho. Também a autópsia oficial, ​​​​​​assinada pelo médico legista do condado de Hennepin, no Minnesota, refere que a morte do afro-americano se deveu a homicídio, resultante do facto de Floyd ter sido manietado.

Entretanto, o irmão de George Floyd apelou esta segunda-feira para a paz nas ruas, dizendo que a destruição não vai trazer o seu familiar de volta.

A informação sobre as conclusões da autópsia independente foi revelada pelo advogado da família, Ben Crump, segundo o qual existem sinais de que a compressão cortou o fluxo sanguíneo para o cérebro de George Floyd e o peso nas costas dificultou a respiração.

O comunicado da autópsia oficial diz que a morte se deveu a uma"paragem cardiorrespiratória" decorrente da "aplicação, pelo agente da polícia, de uma subjugação, restrição e compressão do pescoço" de Floyd, cita a CNN, uma nota que é divulgada pela generalidade dos media norte-americanos. O New York Times aponta que ambas as autópsias concordam que foi homicídio, mas que diferem nas causas.

A American Heart Association descreve a paragem cardiorespiratória como a perda abrupta da função cardíaca.

O comunicado do médico legista disse que Floyd sofria de doenças cardíacas, incluindo "cardiopatia arteriosclerótica e hipertensiva", e que a autópsia mostrou ainda intoxicação por fentanil [um opioide que é utilizado como medicação para a dor] e uso recente de metanfetamina [uma droga sintética estimulante].

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu na noite de dia 25 de maio, em Minneapolis, após uma intervenção policial violenta, cujas imagens foram divulgadas através da internet.

Num vídeo filmado por transeuntes e divulgado nas redes sociais, é possível ver um dos agentes, Derek Chauvin, pressionar o pescoço de Floyd com o joelho durante vários minutos.

No mesmo vídeo, vê-se Floyd a dizer ao polícia que não consegue respirar.

Defesa pede que agente responda por homicídio em primeiro grau

O advogado pediu que a acusação de homicídio em terceiro grau contra o agente Derek Chauvin fosse agravada para homicídio em primeiro grau e que três outros agentes fossem acusados.

Os resultados da autópsia pedida pela família, por não confiarem nas autoridades locais, diferem da autópsia oficial descrita na queixa criminal contra o agente Derek Chauvin.

As conclusões dessa primeira perícia apontavam para a morte devido a um conjunto de fatores, como o facto de Floyd ter estado imobilizado, associado a problemas de saúde da vítima e a potenciais elementos tóxicos no organismo. Nesta autópsia não foram encontradas evidências físicas que "sustentem um diagnóstico de asfixia traumática ou estrangulamento".

A autópsia oficial da semana passada não avançou pormenores sobre substâncias tóxicas e os resultados toxicológicos podem demorar semanas.

Floyd foi detido por suspeita de ter tentado pagar com uma nota falsa de 20 dólares num supermercado.

Na chamada para o 911 (número de emergência), que alertou a polícia, a pessoa que ligou descreveu o homem como suspeito de pagar com dinheiro falso e "muito bêbedo, sem controlo sobre si próprio".

Desde então, várias cidades norte-americanas, incluindo Washington e Nova Iorque, têm sido palco de manifestações, com os protestos a resultarem frequentemente em confrontos com a polícia, tendo-se registado pelo menos três mortes.

Apelo à paz foi feito no local onde irmão foi sufocado

O irmão de George Floyd apelou para a paz nas ruas, dizendo que a destruição não vai trazer o seu familiar de volta.

O pedido é feito quando os Estados Unidos estão a enfrentar protestos violentos em diversas cidades devido à morte de Floyd.

Em Minneapolis, Terrence fez o apelo no local onde o irmão George foi sufocado com o joelho no pescoço contra o chão durante vários minutos,

"Vamos lá mudar, pessoal. Façam isto pacificamente, por favor", disse Terrence Floyd, tendo exortado os presentes a porem termo à violência e a usarem o seu poder nas urnas.

Em resposta, a multidão gritou "Qual é o nome dele? George Floyd" e "Um já foi, faltam três", numa referência aos quatro agentes da polícia envolvidos na prisão de Floyd.

Derek Chauvin, o agente que colocou o seu joelho sobre Floyd, foi acusado de homicídio, mas os manifestantes exigem que os seus colegas também sejam processados. Os quatro foram despedidos.

"Se eu não estou aqui a estragar a minha comunidade, então o que estão todos a fazer?", questionou. "Vocês não estão a fazer nada, porque isso não vai trazer o meu irmão de volta", acrescentou.

Trump falou ao país e anunciou reforço militar para conter "motins"

Depois de uma sexta noite de tumultos com cenas de caos, até nos arredores da Casa Branca, Trump deixou claro num tweet desta segunda-feira, que está voltado para o dia "3 de novembro", data das eleições presidenciais.

Após os resultados da autópsia a Floyd, que atribuem a causa da morte a homicídio, Donald Trump anunciou que irá falar ao país sobre os protestos que se estão a espalhar pelo país após a morte do afro-americano.

O presidente dos EUA fez uma declaração às 18:30 (hora local) a partir do Rose Garden, no exterior da Casa Branca.

"A América precisa de justiça não de caos", disse Trump, avisando que está a mobilizar todas as forças federais para restabelecer a ordem.

O presidente dos EUA disse que foram enviados mais elementos da Guarda Nacional para Washington e voltou a frisar que a Antifa está entre os instigadores dos "motins".

"Onde não há segurança não há futuro", frisou.

Ao mesmo tempo que Trump discursava, e segundo a CNN, a polícia parecia estar a atingir os manifestantes com gás lacrimogéneo junto à Casa Branca.

Alguns dos manifestantes podiam ser vistos a erguer as mãos para a polícia e a pedir: "Não disparem".

Durante vários dias, o presidente dos EUA enviou mensagens contraditórias, quando a indignação tomou conta de dezenas de cidades após a morte de George Floyd.

Após o regresso de Trump da Florida, na noite de sábado, Washington aguarda um pronunciamento, talvez uma mensagem de união a um país atingido por mais de 100.000 mortes e 40 milhões de desempregados devido à pandemia e agora atravessa a maior onda de protestos civis em décadas, recorda a AFP.

Trump ficou longe dos holofotes durante todo o dia de domingo, com exceção de uma série de tweets para censurar os media e os democratas por uma suposta falta de demonstração de força em relação aos manifestantes.

A imagem da Casa Branca com as luzes exteriores apagadas no domingo à noite, a poucos quarteirões de distância da multidão de manifestantes que incendiaram barricadas e partiram janelas, reflete a desconexão entre o Presidente e os cidadãos norte-americanos.
E nesta segunda-feira não havia indicação de uma aparição de Donald Trump, que não tinha eventos públicos agendados.

"Um discurso nacional na Sala Oval não impedirá as ações da Antifa", disse a porta-voz do presidente esta segunda-feira, referindo-se à rede de ativistas de extrema-esquerda que Trump acusa de liderar a violência nos últimos dias.

Além da mensagem sobre as eleições, os outros tweets do presidente dos EUA pareciam menos voltados a restaurar a calma do que a apoiar as suas bases.

Num deles citou um apresentador da Fox News por negar que os grupos supremacistas brancos tivessem desempenhado um papel importante para motivar os protestos.
Noutro tweet desqualificou o seu rival democrata nas próximas eleições presidenciais, Joe Biden, quando afirmou que estava cercado pela "Esquerda Radical" que está "a trabalhar para tirar os anarquistas da cadeia, e provavelmente outras coisas".

A sombra de Charlottesville

Em conversas com os governadores dos estados esta segunda-feira, Trump pediu que aqueles fossem muito mais rígidos com os manifestantes.
"Se eles não dominam, estão a perder tempo", disse o presidente, de acordo com os media. "[Os manifestantes] vão passar por cima deles. Vão parecer um bando de idiotas.", escreveu Trump.
O governador de Illinois, J.B. Pritzker, confrontou o presidente, a quem acusou de "piorar" a situação segundo a ABC.

"A retórica usada [por Trump] preocupa-me bastante", disse Pritzker.
No domingo, a autarca democrata de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, denunciou o que considerou uma perigosa falta de liderança presidencial.
"[Trump] fala e piora as coisas", disse. "É como Charlottesville", acrescentou, referindo-se à resposta de Trump em reação à violência supremacista branca durante uma manifestação na cidade da Virgínia, em 2017.
"Há pessoas muito boas de ambos os lados", disse Donald Trump na altura, referindo-se a neonazis e manifestantes.

Embora os comentários de Trump sobre Charlottesville tenham sido condenados pelos seus correligionários, o Partido Republicano não comentou a morte de Floyd.
A exceção foi Tim Scott, o único senador republicano negro que criticou Trump pelo que considerou "tweets não construtivos, sem dúvida".

Os últimos comentários públicos do presidente norte-americanos sobre os tumultos que tomaram o país após a morte de Floyd foram no sábado, no Kennedy Space Center da Florida, e revelaram motivações contraditórias para resolver o problema, passando da empatia para um tom repressivo.

Trump disse que a morte de Floyd em Minneapolis foi uma "grave tragédia" que encheu "todo o país de horror, raiva e dor". "Entendo a dor que as pessoas sentem", acrescentou.
Depois, criticou o papel dos "anarquistas" na organização dos protestos, deixando de lado a brutalidade policial e a indignação da minoria negra, que transformou as últimas palavras de Floyd no slogan dos protestos: "Não consigo respirar".

Já o antecessor de Trump na Casa Branca, Barack Obama, escreveu uma coluna de opinião contra a violência "que coloca pessoas inocentes em risco", mas também pediu para não atribuir a um movimento de milhões de pessoas os excessos de "uma pequena minoria".

"A grande maioria dos participantes tem sido pacífica, corajosa, responsável e inspiradora" e "eles merecem o nosso respeito e apoio, não a nossa condenação", acrescentou Obama.

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