Estado da União: Von der Leyen faz balanço entre "uma Europa mais forte" e um mundo melhor pós-covid

Um ano depois de ter sido eleita, a presidente da Comissão Europeia faz um balanço do mandato e deverá delinear o impacto do trabalho da Comissão na mitigação da crise sanitária e económica.
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Ursula von der Leyen discursa esta quarta-feira perante o Parlamento Europeu, naquele que é o seu primeiro debate sobre o "Estado da União". A presidente da Comissão Europeia "dará um ponto de vista", sobre o presente da União Europeia e apresentará as orientações de política para projetar os próximos anos, com o objetivo de alcançar "uma Europa mais forte, e um mundo melhor depois da pandemia".

O discurso será inevitavelmente marcado pela atual situação de pandemia. "Espera-se que Ursula Von der Leyen delineie oimpacto do trabalho da Comissão na mitigação da crise sanitária e económica, bem como a sua visão para a recuperação económica", refere uma nota publicada pelo Parlamento Europeu.

A sessão plenária irá decorrer em Bruxelas, evitando novamente as deslocações a Estrasburgo, em plena crise da covid-19, nomeadamente numa altura em que "a taxa de infeção aumentou", e por essa razão ainda não é possível "o regresso a algum grau de normalidade" como "desejava" o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli.

O italiano abriu a sessão plenária e agradeceu aos presidentes dos Grupos Políticos "o seu apoio a esta decisão, e o seu total apoio na Conferência dos presidentes para o restabelecimento da sessão de Estrasburgo assim que a situação de saúde na cidade permitir o nosso regresso".

Consciente da importância que a deslocação mensal de centenas de deputados e funcionários do Parlamento Europeu tem para a dinâmica da cidade, agora privada da azáfama europeia, David Sassoli agradeceu "a compreensão e a colaboração constante, das autoridades francesas, nestes meses difíceis", incluindo ao presidente do município, a quem dirigiu "uma saudação calorosa", à espera que as sessões plenárias possam "em breve", regressar à sede da instituição.

Von der Leyen, antiga ministra da Defesa da chanceler alemã Angela Merkel, será uma vez mais posta à prova, num ano indiscutivelmente atípico. No exame aos trabalhos da Comissão Europeia, os eurodeputados esperam ouvir como é que a presidente da Comissão Europeia vai concretizar a proposta para os novos recursos próprios da União Europeia, que darão uma ajuda para desbloquear os 750 mil milhões de euros do plano de recuperação.

Mas, Ursula von der Leyen pretende também demonstrar que a pandemia não interrompeu os objetivos do seu programa e a sua "nova estratégia de crescimento da União Europeia", o chamado Green Deal, o plano a partir do qual Bruxelas pretende reconfigurar a economia europeia, de modo a cumprir os objetivos climáticos e, em 30 anos, alcançar a neutralidade das emissões de gases com impacto ambiental.

Von der Leyen tem preparada uma cartada para jogar durante o debate, em que deverá defender uma redução de 55% das emissões de carbono, até ao final da década. De acordo com um documento da Comissão, que deverá ser publicado na quinta-feira, mas entretanto consultado pelo portal especializado em assuntos europeus, Euractiv. Nesse documento a resposta económica sem precedentes da Europa à crise da covid-19 é vista como "uma oportunidade única para acelerar a transição para uma economia neutra para o clima".

Durante o discurso, Ursula von der Leyen deverá reafirmar os objetivos da "transformação digital para fortalecer a economia, encontrando soluções europeias, na era digital".

O conceito perseguido por Von der Leyen visa o "desenvolvimento, implantação e absorção de tecnologia que faça diferença real no dia-a-dia das pessoas", na direção de "uma economia forte e competitiva que domina e molda a tecnologia de uma forma que respeita os valores europeus".

O objetivo é alcançar "um mercado único sem atrito, onde empresas de todos os tamanhos e em qualquer setor possam competir em igualdade de condições e possam desenvolver, comercializar e usar tecnologias, produtos e serviços digitais numa escala que aumenta sua produtividade e competitividade global, e os consumidores possam ter certeza de que os seus direitos são respeitados".

Há pouco mais de um ano, a 10 de julho de 2019, depois de ter sido nomeada pelo Conselho Europeu, mas ainda aspirante a presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen falou pela primeira vez aos eurodeputados, numa tentativa de os convencer a darem-lhe a maioria dos votos necessários à sua eleição.

Naquela altura prometeu "ação" climática e salário mínimo em "todos os países". "Ouvimos a voz das pessoas, especialmente dos jovens, eles querem ações para o futuro do nosso planeta", afirmou, colocando objetivos a si própria, prometendo "mais ambição, porque estamos a ficar sem tempo".

Entretanto, outras crises se avolumaram na Europa, bem como na sua vizinhança, que "está em chamas", como lamentou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, na ante-câmara do discurso de Von der Leyen.

Internamente é conhecida a relação da Polónia e da Hungria com o Estado de Direito. Na semana passada, o incêndio de Lesbos, que destruiu por completo o campo de refugiados de Moria veio apenas lembrar que o problema do realojamento continua por resolver.

A Turquia continua a ser um país candidato à adesão à União Europeia, mas as ameaças militares que tem dirigido a um país europeu vêm dar força à afirmação de Borrell, tal como as tensões sem fim à vista, e as repressões da revolta popular na vizinha Bielorrússia.

A União Europeia prepara-se para encerrar o período de transição, durante o qual Londres e Bruxelas assinariam um acordo comercial, que permitiria uma aterragem suave na ao Reino Unido, na concretização completa do Brexit. Mas, pelo contrário, não só o acordo comercial continua a ser uma miragem, como em Londres vai desfazendo o acordo de saída, como lhe convém.

Dentro das paredes da Comissão, o universo de Von der Leyen também não escapa à crise, com a inesperada demissão do comissário Phil Hogan, depois de o irlandês que tinha o dossiê da negociação do acordo comercial com os Estados Unidos ter participado em eventos sociais que violavam as normas sanitárias, em plena pandemia.

A presidente que pretende afirmar a vertente geopolítica da Comissão Europeia vai esta quarta-feira fazer o balanço do seu trabalho, e projetar o futuro da União Europeia, perante um Parlamento que há menos de um ano a elegeu com a maior oposição de sempre, 383 votos a favor e 327 contra.

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