Hermann, o doente de Alzheimer que tocou à janela durante pandemia inspira curta-metragem
No meio das incertezas, dos receios e das medidas restritivas devido à pandemia, há histórias que fazem esquecer, nem que seja por instantes, os números de casos e mortes por covid-19 que diariamente surgem nas notícias. É o caso de Hermann Schreiber, de 80 anos, um alemão que sofre de Alzheimer e que, em pleno confinamento, emocionou Espanha ao ir todos os dias tocar harmónica à janela da sua casa, em Vigo. A cuidadora fê-lo crer que os aplausos dos vizinhos para os profissionais de saúde eram para ele, e a história inspirou uma curta-metragem.
Sem fins lucrativos, o pequeno filme de homenagem a este octogenário, foi feito por 16 profissionais, cada um em sua casa. A harmónica de Hermann Schreiber foi substituída por um violino à janela numa curta-metragem comovente dedicada a todos os "heróis de março". Sejam eles profissionais de saúde, cientistas ou as pessoas que cuidam de outras durante o confinamento.
Aliás, Tamara Sayar, a cuidadora de Schreiber, é a "culpada" pela história que comoveu os espanhóis e que inspirou esta curta-metragem. Foi ela quem gravou os vídeos do alemão a tocar à janela durante o tempo de quarentena em que esteve na casa de Hermann.
Neste período de isolamento, Tamara Sayar cuidou ainda de Teresa Dominguez, a mulher de Schreiber, que também sofre de Alzheimer, deixando a filha menor aos cuidados do avô.
Durante o confinamento, os aplausos que o alemão ouvia todas às noites, às 20:00, deixavam-no feliz. "Que grande concerto. Eles adoraram. Os aplausos foram mais fortes. Estavas nervoso, eu entendo. Muito público", ouve-se Tamara Sayar dizer num dos vídeos. Foi ela quem o fez acreditar que os aplausos dos vizinhos eram para ele quando, na verdade, eram para os profissionais de saúde que estavam na linha da frente do combate à pandemia.
No final da atuação, Hermann sorria e também aplaudia. Um momento feliz para este alemão nos dias de confinamento. Devido à doença, a mulher já não se lembra do alemão que dominava na perfeição, ele já não se lembra do catalão, mas nunca se esqueceu da harmónica, o instrumento que aprendeu a tocar aos cinco anos.
Com a música, Hermann conquistou o coração dos seus vizinhos em Vigo e dos espanhóis, que agora podem ver uma curta-metragem inspirada nesta história real.
O filme demorou dois meses e meio a ser feito e relata o momento do dia em que os aplausos faziam de Hermann Schreiber um homem mais feliz.
A ideia surgiu quando Jordi García andava à procura de notícias e se deparou com o vídeo de Tamara. "Deixou-me emocionado. Fui dormir e só conseguia pensar no que ele imaginava quando tocava, por onde viajava, que sensação tinha. De manhã levantei-me e escrevi o guião", disse o realizador de "Hermann", citado pelo jornal ABC.
No dia seguinte, 16 pessoas começaram a trabalhar na curta. "Nunca tivemos uma equipa mais motivada e produtiva". O resultado, dois meses e meio depois, pode agora ser visto e, tal como a história que o inspirou, o filme é uma homenagem a todos aqueles que cuidam de outros nesta pandemia que o mundo atravessa.