Nobel da Paz é "uma mensagem aos Estados com armamento nuclear", diz ICAN

"O espetro de um conflito nuclear volta a pairar", afirmou a diretora da ICAN, criticando o "comportamento inaceitável" de alguns Estados

A diretora da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN) afirmou hoje que a distinção com o Nobel da Paz é uma mensagem crítica para todos os Estados com armamento nuclear.

Não podemos ameaçar com o massacre indiscriminado de centenas de milhares de civis em nome da segurança

"Envia uma mensagem a todos os Estados com armamento nuclear e todos os Estados que continuam a contar com as armas nucleares para a sua segurança de que esse é um comportamento inaceitável", disse Beatrice Fihn. "Não podemos ameaçar com o massacre indiscriminado de centenas de milhares de civis em nome da segurança. Não é assim que se constrói a segurança", acrescentou.

A Campanha Internacional para a Eliminação das Armas Nucleares (ICAN, na sigla inglesa), distinguida hoje com o prémio Nobel da Paz, tem mantido um combate incessante pelo fim desse tipo do armamento.

Fihn disse que a distinção é "uma grande honra" e apelou aos países para que "proíbam agora" as armas atómicas.

Oficialmente criada em 2007, em Viena, à margem de uma conferência internacional sobre o Tratado sobra a Não Proliferação de Armas Nucleares, a ICAN tem conseguido reunir na sua causa ativistas de todo o mundo, mas também celebridades.

Entre elas figuram o Dalai Lama, o arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu, que já foi prémio Nobel da Paz, ou o músico de jazz Herbie Hancock, que colaboram incessantemente com a ICAN, cuja sede se situa nos edifícios do Conselho Ecuménico das Igrejas, em Genebra, próximo das Nações Unidas.

A ICAN é uma coligação internacional que reúne centenas de organizações humanitárias, ambientais, direitos humanos, pacifistas e de apoio ao desenvolvimento de cerca de 100 países e está ativamente em campo há dez anos com a bandeira da eliminação das armas nucleares, alertando para as "consequências humanitárias catastróficas" que o seu uso provocará.

O trabalho não estará terminado enquanto houver armas nucleares

O combate ativo da organização já lhe permitiu obter, em julho deste ano, uma importante vitória nas Nações Unidas, quando quase meia centena de países lançou uma petição para a assinatura de um tratado que leve à eliminação das armas nucleares.

Apesar de ter sido considerada uma vitória simbólica, dado o boicote ao texto de nove potências nucleares (Estados Unidos, Rússia, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte - possuem um total de cerca de 15.000 armas nucleares), a petição entrará imediatamente em vigor logo que seja ratificada por 50 Estados.

"Ainda não terminámos. O trabalho não estará terminado enquanto houver armas nucleares", disse Beatrice Fihn, que dirige a ICAN.

Por outro lado, a crescente tensão entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte em torno do programa nuclear norte-coreano é, aos olhos da ICAN, um "sinal de alarme", com Beatrice Fihn a reiterar que as armas nucleares "ameaçam literalmente o fim do mundo"

Fihn disse que a distinção é "uma grande honra" e apelou aos países para que "proíbam agora" as armas atómicas.

"Este é um momento de grande tensão no mundo, uma altura em que declarações inflamadas podem levar-nos muito facilmente, inexoravelmente, para um horror inominável. O espetro de um conflito nuclear volta a pairar", afirmou em comunicado.

"Se houvesse um momento em que as nações devem declarar a sua oposição inequívoca às armas nucleares, esse momento é agora", acrescentou.

Isso mesmo foi tido em consideração na argumentação do Comité Nobel norueguês para atribuir o prémio à ICAN, considerando-a um "ator líder da sociedade civil" do movimento contra as armas nucleares e que tem galvanizado esforços para "estigmatizar, proibir e eliminar" este tipo de armamento.

O Comité sublinhou como "argumento importante" para a proibição de armas, o "inaceitável sofrimento humano" que provocará o uso de armas nucleares, recordando que outros tipos de armamento menos destrutivo, como as minas antipessoal, as bombas de fragmentação e as armas químicas e biológicas, foram proibidas justamente através de tratados.

Ainda na justificação, o Comité destacou o facto de, a 07 de julho último, 122 países terem assinado um tratado internacional contra a proliferação nuclear, mas lamentou que nem os países que contam com arsenais nucleares nem os seus aliados o tenham ratificado, embora Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU) tenham dado um primeiro passo nesse sentido.

"Este prémio (no valor de nove milhões de coroas suecas - cerca de 950 mil euros) é um ponto de partida e também um apelo a estes países para que iniciem negociações sérias para a eliminação de todas as 15.000 armas nucleares que existem em todo o mundo", afirmou o Comité Nobel.

Beatrice Fihn explicou aos jornalistas que a organização recebeu um telefonema minutos antes do anúncio oficial de que a ICAN vencia o prémio, mas que pensou tratar-se de "uma partida" e não acreditou, até ouvir o anúncio formal.

A ICAN, cujo orçamento anual ronda o milhão de dólares (852 mil euros) é financiada por doadores privados e por contribuições da União Europeia (UE) e de vários outros países, como a Noruega, Suíça, Alemanha e Vaticano.

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