Desafios para o futuro próximo na Turquia
O futuro das relações com a União Europeia
Antes do referendo, Erdogan afirmou que iria reavaliar as relações com a União Europeia (UE). Para ele, a Turquia tem sido posta de parte com argumentos pouco claros. Parte da obstrução nas negociações entre Ancara e Bruxelas resulta do problema em Chipre, cuja República Turca do Norte de Chipre é apenas reconhecida pela Turquia, e das pressões da Grécia. Na passada semana, Ancara propôs a realização de uma cimeira com a UE para "ultrapassar o momento mais baixo de sempre", como o classificou o responsável turco para as questões europeias, Ömer Çelik . Tendo formalizado o pedido de adesão em 1987, as negociações só se iniciaram em 2005 e dos 35 capítulos necessários para concretizar a adesão, apenas um está fechado.
A questão dos refugiados sírios
Ainda neste ponto, as relações com a UE são cruciais e também aqui vive-se em Ancara um sentimento de frustração com Bruxelas. A Turquia queixa-se do escasso apoio financeiro da UE, que só terá entregado menos de um terço dos três mil milhões de euros prometidos para o apoio aos refugiados, que são cerca de quatro milhões no país. Ancara nota que a contrapartida para manter no país os refugiados seria o fim dos vistos para os cidadãos turcos entrarem na UE, acordado em março de 2016, falta ainda materializar.
Estabilidade regional e a guerra civil na Síria
A longa duração do conflito, iniciado em 2011, transformou-se no problema central para a estabilidade regional e da própria Turquia. Além da questão dos refugiados, a guerra civil na Síria afeta diretamente a Turquia, militarmente envolvida no conflito, combatendo o Estado Islâmico, as milícias curdas, que acusa de terrorismo mas que são apoiadas pelos EUA, e favorecendo o Exército Livre da Síria. Equação que não deixa de ser um teste às próprias forças armadas, alvo de importante purga após o golpe falhado de 2016.
O problema dos independentistas curdos
O combate que a Turquia trava com as milícia curdas na Síria é parte de um problema interno originado com as aspirações independentistas de parte da comunidade curda. Após um processo negocial bem-sucedido, iniciativa do próprio Erdogan, entre 2009 e 2015, a conjuntura política interna e a importância crescente de milícias curdas na Síria consideradas próximas dos independentistas na Turquia, produzirá uma inflexão de Ancara. Os confrontos com os independentistas do PKK voltaram a intensificar-se. No plano político, a formação pró-curda e de esquerda, o HDP, tem sido hostilizada.
A Aliança Atlântica e o papel da Rússia
Membro da Aliança Atlântica, Turquia voltou a aproximar-se da Rússia, após o momento tenso resultante do abate de um Su-24 em novembro de 2015. Aproximação evidente na esfera económica, com projetos na área da energia, e no plano geoestratégico, por causa da Síria. Mas o facto de integrar a NATO significa a existência de limites à cooperação, mas no futuro previsível, no plano económico e, sem dúvida, por causa da Síria a relação é importante para Ancara e Moscovo.
A importância do crescimento económico
Muita da popularidade de Erdogan vem de ter dirigido governos que levaram o país a relevantes níveis de crescimento económico (9,1% em 2010). A economia está ainda a crescer, mas de forma mais modesta (2,5% em 2016). Devido ao agravamento da situação interna, as receitas do turismo estão em queda assim como o investimento externo e o privado interno. O Banco Mundial nota ainda o declínio do consumo interno da criação de emprego e uma inflação acima dos 8%. Conjuntura que coloca especiais responsabilidades ao novo poder.
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