"Deixou de existir um perfil típico do terrorista islamita"
A ameaça do terrorismo islamita não cessa de se metamorfosear e adotar novas formas. Não só deixou de existir o que se poderia definir como um perfil típico, assim como a cooptação se processa de forma distinta e a internet facilita não só o recrutamento e a doutrinação, como tornou possível a própria auto-doutrinação e auto-radicalização. Foram estas as principais conclusões da conferência sobre "(Des)radicalização: estratégias e políticas" realizada no final da semana em Roma.
Na iniciativa do Euro-Gulf Information Centre (EGIC), a que o DN esteve presente, interveio a coordenadora para a gestão de conflitos e contraterrorismo da Fundação Konrad-Adenauer, Kristina Eichhorst, tendo esta especialista salientado que "deixou de haver um perfil típico do terrorista islamita", pelo menos na Europa, sublinhando que, embora haja menor projeção pública, o processo de adesão ao terrorismo islamita se verifica entre o sexo feminino. Outro dado destacado por Eichhorst foi o de que, ao contrário da perceção comum, "muitos combatentes" na Síria e Iraque, provenientes da Europa, "têm cursos universitários".
Segundo Julia Dockerill, especialista em desradicalização, chamando a atenção para a idade do atacante de Londres, na casa dos 50, um traço essencial no perfil do terrorista é o de este viver "um conflito interno sobre a sua identidade". Para Dockerill, as três jovens que, em 2015, fugiram de casa para se juntarem ao Estado Islâmico (EI), é disso exemplo. Qualquer uma delas era excelente estudante até começarem a serem "contaminadas" pela propaganda islamita.
Para o investigador do Geneva Centre for Security Policy (GCSP), Joaquin Molina, é possível perceber que os processos de radicalização são rápidos assim como "é rápida a passagem à ação", uma vez iniciada a primeira. Sendo que esta ocorre muitas vezes em ambiente prisional, onde os futuros terroristas chegam, por vezes, condenados por pequena criminalidade. Mas não necessariamente. O investigador espanhol deu o exemplo de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do EI. Detido em fevereiro de 2014, veio a ser libertado depois por não ser considerado perigoso. Ainda relacionado com as prisões, Molina referiu o facto a pressão dos outros detidos ou de conhecidos e amigos que passam a acompanhar e a apoiar o futuro extremista, em especial quando a família deste se abstém de o visitar. O investigador do GCSP afirmou ainda que a internet tornou possível "um faça você mesmo" para o terrorista. "Não é preciso apoio de ninguém nem assistir a sessões de doutrinação. Há material suficiente na net", disse.
A importância da internet foi ainda referida por um outro interveniente, Dietrich Neumann, da Europol, tendo afirmado que foram referenciados "cerca de 20 mil sites em 60 plataformas que deviam ser impedidos de funcionar. O que dá uma dimensão do que está em causa.
O DN viajou a convite do EGIC
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