Custos baixos e eficiência põem Índia na corrida espacial

Agência indiana colocou em órbita de uma só vez 104 satélites, 101 deles estrangeiros. E tudo a uma fração do preço normal

Conseguir mais por uma fração do preço e de forma eficiente. Este podia ser o lema da agência espacial indiana, que ontem lançou com sucesso 104 satélites (só três deles indianos) numa única missão - o anterior recorde, de 37 satélites, era dos russos. O lançamento do PSLV-C37 custou 15 milhões de dólares, quatro vezes menos do que custaria à empresa privada norte-americana Space X fazer o mesmo. Num mercado que pode render biliões de dólares, a Índia coloca-se entre os grandes atores internacionais na corrida espacial.

"Este feito notável da @isro [siglas em inglês da Organização Indiana de Pesquisa Espacial] é outro momento de orgulho para a nossa comunidade científica espacial e a nação. A Índia felicita os nossos cientistas", escreveu o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, no Twitter. Momentos antes, às 09.28 locais (03.58 em Lisboa), o Veículo de Lançamento de Satélites Polar (PSLV) e a sua carga de 1378 kg, partia do centro espacial Sriharikota, no sudeste da Índia. Passados 18 minutos, a mais de 500 km de altitude, o satélite indiano de observação da Terra Cartosat-2 (a carga principal, com 714 kg) era ejetado, junto com outros dois minissatélites da ISRO.

Bastaram mais 11 minutos para os restantes 101 satélites serem postos em órbita, à velocidade de 27 mil km/h, numa operação complexa para evitar que chocassem. A maioria dos "passageiros" (96) eram norte-americanos, da californiana Planet, que é uma das maiores empresas na captura de imagens da Terra. São conhecidos como "dove" (pomba, em inglês) e pesam menos de 5 kg. A bordo seguiam outros cinco satélites de outros cinco países: Israel, Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos, Suíça e Holanda.

Cada quilo de carga custa, segundo as estimativas de há já vários anos, entre 20 mil e 25 mil dólares a colocar em órbita, pelo que o aluguer do espaço às empresas internacionais praticamente pagou a viagem do satélite indiano. E este é um negócio que continua em crescimento, à medida que empresas de telemóveis, internet ou outras áreas, assim como países, procuram comunicações de maior qualidade.

A ISRO está assim a competir com grandes atores internacionais, tendo a seu favor além do preço (que poderá baixar ainda mais com a versão reutilizável do foguetão, testado com sucesso no ano passado), a credibilidade. Este é a 39.ª missão do PSLV, tendo apenas falhado na estreia, em 1993. Até este lançamento, já tinha colocado 122 satélites em órbita, incluindo 78 estrangeiros. Já a SpaceX, de Elon Musk, teve dois acidentes, com custos elevados para a empresa e as que tinham confiado a sua carga.

Este não é o primeiro sucesso do programa espacial - e Modi não quer que seja o último. Em março de 2013, a Índia enviou com sucesso e à primeira tentativa uma sonda para orbitar Marte. A missão custou 73 milhões de dólares, sendo que a missão da agência espacial norte-americana (NASA) ao planeta vermelho, lançada no final desse ano, custou 600 milhões mais. Em 2014, o primeiro-ministro disse a brincar que a missão a Marte custou menos do que o filme "Gravidade".

A Índia não quer ficar por aqui, com a ISRO a preparar enviar uma sonda a Vénus, assim como o regresso a Marte, no espaço entre 2021 e 2022. Em ambas as missões, está a negociar a colaboração da NASA. Mas ao contrário da homóloga norte-americana, que tem sofrido cortes no orçamento, a indiana teve um aumento de 23%. O orçamento para 2016/2017 era de 1100 milhões de dólares.

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