'Charlie Hebdo' republica caricaturas de Maomé antes do julgamento do atentado

O número especial do jornal sai para as bancas nesta quarta-feira, data do início do processo que vai julgar os acusados do ataque terrorista que matou 12 pessoas na redação.
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A revista satírica Charlie Hebdo vai republicar nesta quarta-feira, dia em que começa o julgamento sobre o ataque terrorista à sua redação, as caricaturas de Maomé que a transformaram num alvo dos jihadistas, anunciou a publicação.

"Nós não dormiremos nunca. Nós nunca renunciaremos", justificou o diretor do jornal satírico, Riss, neste número especial.

O número especial do jornal sai para as bancas na quarta-feira, data do início do processo que vai julgar os acusados do ataque terrorista que matou 12 pessoas na redação do Charlie Hebdo, mas a edição online com as caricaturas está disponível a partir de hoje.

A capa do jornal contém as gravuras de Maomé publicadas inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten em 2005 e também uma caricatura feita por Cabu, morto no atentado de 7 de janeiro de 2015.

Os cartoons são acompanhados pela pergunta: "Tudo isto por isto?"

"Pediram-nos com frequência, depois de janeiro de 2015, para publicarmos outras caricaturas de Maomé. Mas nós sempre recusámos, não porque seja proibido, a lei autoriza-nos a fazê-lo, mas porque era preciso uma boa razão para o fazermos", justificou a equipa do jornal num artigo neste número especial.

No dia 7 de janeiro de 2015, mesmo sob fortes medidas de segurança policial, os irmãos Kouachi conseguiram entrar na redação do Charlie Hebdo, matando 12 pessoas num ataque terrorista.

Entre os mortos estavam Charb, o então diretor da publicação, e outros cartoonistas, como Cabu, Honoré, Tignous e Wolinski.

O processo do Charlie Hebdo vai começar nesta quarta-feira no Tribunal de Paris e julgar 14 pessoas consideradas como cúmplices neste ataque, já que os irmãos Kouachi foram abatidos pela Polícia alguns dias após o crime.

Estão também em causa os ataques perpetrados por Amedy Coulibaly, nos dias que se seguiram ao atentado ao Charlie Hebdo e que terão sido coordenados com os irmãos Kouachi: a morte de uma polícia em Montrouge, nos arredores da capital, e a morte de outras quatro pessoas num supermercado, também à volta de Paris.

O ataque contra o Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, provocou ondas de choque por toda a França, revelando divisões num país que se orgulha do seu multiculturalismo e gerando um intenso debate sobre a integração da comunidade muçulmana e a liberdade de imprensa.

Os irmãos Cherif e Said Kouachi afirmaram ter agido para se vingar da publicação no jornal de cartoons do profeta Maomé, considerados ofensivos para os muçulmanos. "Vingámos o profeta Maomé. Matámos o Charlie Hebdo!", gritaram de forma triunfante enquanto fugiam do local do ataque.

Mas os irmãos Kouachi falharam na tentativa de "matar" o Charlie Hebdo. Apesar de ter perdido alguns dos seus cartoonistas mais talentosos, o jornal sobreviveu graças a uma onda de solidariedade.

"Eu queria que o jornal continuasse a existir. Para mim, não podia desaparecer assim por causa do que acontecera", explicou Pierrick Juin, um cartoonista que se juntou ao Charlie Hebdo meses após o ataque.

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