Casos em Espanha disparam. E nem a OMS tem explicação para o que está a falhar

É atualmente o país da Europa com maior incidência de casos de covid-19. Responsável da OMS que analisou a situação não consegue encontrar justificações. Novas medidas restritivas já estão em vigor

A diretora do departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial de Saúde, Maria Neira, reconheceu nesta sexta-feira que, apesar de estar há várias semanas a estudar a situação alarmante de casos de covid-19 no país vizinho, não consegue encontrar uma explicação para o que está a falhar para Espanha ser neste momento o país da Europa com maior incidência de casos de covid-19.

O desabafo foi feito nesta sexta-feira durante um fórum sobre Nova Economia. Esta responsável lembrou que Espanha é atualmente o país com medidas mais restritivas sobre o uso de máscara, em comparação com outros países em que as normas não são tão rígidas, e em que mesmo assim a situação epidemiológica é melhor.

Maria Neira analisou ao mesmo tempo o comportamento da sociedade espanhola durante a pandemia, e garantiu que nem a transmissão familiar nem o comportamento dos jovens justificam a elevada incidência de coronavírus em Espanha. "É certo que houve um relaxamento dos mais jovens e algumas festas, mas isso não justifica toda a situação em que o país está atualmente. Em Itália os jovens também organizam e frequentam festas, tal como na França e na Suíça", referiu.

A responsável da OMS sublinhou a importância de sensibilizar os cidadãos espanhóis, especialmente os jovens, bem como analisar a situação de instituições e para a necessidade de rastreios, a fim de detetar eventuais fragilidades e poder "corrigi-las". "Também é necessário rever o plano de deteção de casos, de rastreamento de contactos, e garantir que o isolamento e quarentena sejam acompanhados. Se faltarem formas de rastreio, terão que ser encontradas, e se algo precisar de ser corrigido, terá que ser feito", atirou.

Maria Neira assegurou que a OMS da Europa tem um contacto regular com o ministro da Saúde espanhol e com outras entidades ligadas aos casos de covid-19. E questionada sobre as contradições entre o Governo Central e a Comunidade de Madrid sobre as medidas a tomar para conter a propagação do vírus na região, a mais afetada de toda a Espanha, a responsável não se quis alongar em pormenores. Mas admitiu que não gosta de acordar e ver notícias nos jornais estrangeiros sobre este conflito.

"Ainda ontem vi vários telejornais estrangeiros a abrirem com a notícia de que em Espanha existe um desacordo entre instituições. E isto não é algo que nós, espanhóis, queríamos ver nos noticiários e jornais. Preferia que Espanha fosse um exemplo de gestão", referiu.

Neira lembrou que existem cinco pilares básicos na resposta à pandemia que se mostraram eficazes para conter a propagação do vírus: assistir de forma adequada os doentes em hospitais e serviços de saúde; lavar as mãos com frequência; arejar espaços fechados; dar instruções claras aos cidadãos para terem confiança nas medidas aplicadas e ter especialistas competentes a interpretar os dados.

"Podemos ter os sistemas epidemiológicos mais sofisticados, os melhores bancos de dados, para análise, mas se não houver uma pessoa competente para analisá-los, eles não servem para tomar decisões, para aprender, corrigir e adaptar o que for necessário. Os sistemas de vigilância epidemiológica são úteis se tiverem uma estratégia global bem desenhada", afirmou Neira.

Questionada sobre os avanços da vacina contra a covid-19, Neira disse ter esperança de que estará disponível em 2021, já que "nunca houve tanta vontade política, recursos, vontade da população e coordenação científica e solidariedade como existe agora".

Novas medidas restritivas já em vigor

Espanha registou nesta sexta-feira 11.325 novos casos de covid-19, elevando para 789.932 o número total de infetados até agora, segundo números divulgados pelo Ministério da Saúde espanhol. E o país contabilizou mais 113 mortes, aumentando o total de óbitos para 32.089. Na quinta-feira tinham sido 9.419 os novos casos de covid-19, dos quais quase 35% em Madrid, com uma tendência preocupante de aumento.

Madrid continua a ser a comunidade autónoma com o maior número de novas infeções, tendo adicionado mais 2.536 casos aos números totais de quarta-feira, elevando o número total para 240.959.

Deram entrada nos hospitais com a doença nas últimas 24 horas em todo o país 1.193 pessoas, das quais 381 em Madrid, 163 na Andaluzia e 136 na Catalunha.

Dez cidades da Comunidade de Madrid, incluindo a própria capital, implementaram a partir da meia-noite desta sexta-feira novas medidas restritivas da mobilidade das pessoas, para tentar controlar a pandemia de covid-19.

O executivo regional desta comunidade autónoma vai respeitar as medidas tomadas, apesar de não concordar com elas e já ter anunciado que vai apresentar um recurso contra o alargamento a estes municípios do confinamento suave já em vigor em 45 zonas sanitárias, afetando um milhão de habitantes.

A cidade de Madrid tem cerca de 3,3 milhões de habitantes, mas acrescentando os restantes nove municípios, são agora mais de 4,5 milhões que agora ficam totalmente dentro do âmbito das novas medidas numa comunidade autónoma onde vivem 6,6 pessoas.

O despacho do Ministério da Saúde espanhol estabelece as medidas restritivas para municípios com uma incidência de contágio superior a 500 casos por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias; com uma percentagem de positividade nos testes de diagnóstico acima de 10%; e uma ocupação de camas nas unidades de cuidados intensivos por doentes covid-19 acima de 35% na comunidade autónoma a que o município pertence.

As medidas são obrigatórias e incluem, entre outras coisas, a restrição da entrada e saída de pessoas, exceto deslocações "devidamente justificadas", tais como ao médico, ao trabalho, centros educativos, assistência a idosos, menores e dependentes; e viagens a bancos, tribunais ou outros organismos públicos.

As reuniões familiares e sociais, a menos que coabitem, são limitadas a seis pessoas e a capacidade máxima dos estabelecimentos comerciais e serviços abertos ao público é reduzida a 50%, devendo fechar o mais tardar até às 22:00 horas.

Para hotéis, restaurantes, cafés e bares a capacidade permitida não pode exceder 50% no interior e 60% no exterior, e o consumo ao balcão é proibido, devendo estar encerrados às 23:00.

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