Candidatura de Lula em 2018 comprometida pela operação Lava-Jato
Depois de meses a fitarem-se, a rodearem-se e a esquivarem-se como touro e toureiro numa arena, o ex-presidente Lula da Silva, o mais poderoso e popular político do Brasil, e Sérgio Moro, o juiz que coordena a Lava-Jato, maior operação anticorrupção da história do país, vão enfim enfrentar-se.
Moro autorizou a abertura de um inquérito que permitirá à Polícia Federal investigar o Sítio Santa Bárbara, na cidade paulista de Atibaia, local onde Lula e a família gozavam férias de campo. Foi o segundo episódio envolvendo imóveis ligados ao ex-presidente, depois de a 26 de janeiro ter sido deflagrada a operação Triplo X, 22.ª ação da Lava-Jato, relacionada com um apartamento tríplex em nome de Marisa Letícia, a mulher de Lula, no Guarujá, cidade balnear perto de Santos, no litoral do estado de São Paulo.
Além dos dois casos da esfera da Lava-Jato, Lula também responde por suposto envolvimento em emendas à lei para benefício do setor automóvel no âmbito da operação Zelotes e é suspeito de tráfico de influência internacional a favor de empreiteiras, segundo o Ministério Público do Distrito Federal.
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Elevador privado
O intrincado caso do tríplex cita nomes como Ricardo Berzoini, peso- -pesado do PT e atual ministro de Dilma, Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido detido na Lava-Jato, e a OAS, empreiteira envolvida no Petrolão, esquema que atinge dirigentes da Petrobras, construtoras e políticos. Em resumo, a polícia desconfia que a OAS usou imóveis, entre os quais o investimento da mulher de Lula, para lavar dinheiro do Petrolão.
Em relação ao Sítio Santa Bárbara, que a família do ex-presidente frequentava mas não está em seu nome, a Lava-Jato suspeita que a OAS e a construtora Odebrecht tenham feito reformas de forma irregular na montagem de uma cozinha de luxo. Como o Sítio está numa região com pouca rede foi ontem divulgado que Otávio de Azevedo, então presidente de uma controladora da operadora Oi e hoje preso do Petrolão, deu aval para se construir uma antena exclusiva no local.
Lula, que se definiu em entrevista a bloggers afetos ao seu governo como "a alma viva mais honesta que há", mantém desde então silêncio sobre o caso. "Quanto mais cala, mais Lula consente que suspeitas contra ele prosperem", afirma Dora Kramer, colunista de O Estado de S. Paulo. No mesmo jornal, tradicionalmente hostil a Lula, José Neumanne pergunta-se "até quando terá ele o benefício da dúvida?".
A imprensa brasileira tem esmiuçado ao limite os casos do Sítio Santa Bárbara - apurou que, mesmo não sendo sua propriedade, o ex-presidente esteve 111 vezes no local - e do Tríplex do Guarujá - descobriu um elevador privativo no apartamento.
Como refere o professor da Universidade de Brasília Ricardo Caldas ao El País Brasil é aí que reside o perigo para a popularidade do ex-presidente: depois de ter escapado quase incólume no caso do Mensalão, que levou para a cadeia o seu ex-braço direito José Dirceu, entre outros barões do PT, o Petrolão pode levar Lula na enxurrada por causa dos detalhes. "Para o brasileiro médio quando se fala que o Mensalão desviou milhões isso não quer dizer nada, agora quando se fala em elevadores privativos e obras pagas por construtoras isso choca a população que tenderá a ver Lula, até hoje o pai dos pobres, como uma farsa."
Há reflexo nas sondagens desta tese. O instituto Ipsos refere que só 25% dos brasileiros considera hoje Lula honesto contra quase o dobro no auge do Mensalão; nessa altura, 67% dos entrevistados achavam que o então presidente tinha moral para falar de ética, agora esse número caiu para 48%.
PT ao ataque
No campo do PT, a defesa tem sido o ataque. Com Lula calado, Rui Falcão, líder do partido, foi eloquente: "Ele é atacado porque não aceitam que o Lula continue no coração do nosso povo." Luiz Marinho, prefeito da cidade de São Bernardo pelo PT, disse em entrevista ao jornal O Globo que "eles não estão atrás da verdade, estão atrás de uma maneira de envolver o Lula na Lava-Jato".
Para membros do PT que preferem manter o anonimato, com a tese do impeachment de Dilma a perder força, tanto a oposição como a imprensa e até as autoridades judiciais fazem complô para prejudicar o partido a médio prazo, visando a candidatura de Lula em 2018.
*São Paulo
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