Jair Bolsonaro chamou João Doria, governador de São Paulo, de "miniprojeto de ditador", nesta quinta-feira dia 22, no último episódio de uma guerra entre o presidente da República e o líder do estado mais populoso e rico do Brasil a propósito da aquisição da vacina chinesa Coronavac contra a covid-19..Tudo começou na terça-feira passada, dia 19, quando após reunião com governadores o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou acordo com o governo paulista para compra ainda em 2020 e também 2021 de 146 milhões de doses da vacina, que no Brasil seria testada e desenvolvida pelo Instituto Butantã, centro de pesquisa biológica localizado em São Paulo..No dia seguinte, quarta-feira, Bolsonaro disse que não comprará a vacina chinesa (e do Instituto Butantã) por, segundo ele, não estar "comprovada cientificamente", apesar de os estudos estarem já na terceira e última etapa de testes..O presidente criticou mesmo o seu ministro da Saúde dizendo que "ele quer aparecer, como o [Luiz Henrique] Mandetta", que foi o primeiro titular da Saúde do governo, demitido logo no início da pandemia por discordar do uso de cloroquina e da flexibilização do distanciamento pretendidos por Bolsonaro. Nelson Teich, o seu sucessor, também saiu por motivos semelhantes. Ambos são médicos. O general paraquedista Pazuello, terceiro ministro em plena pandemia, foi escolha pessoal do presidente..Apesar do ataque, o Planalto garante que Pazuello não vai sair do cargo..Bolsonaro sugeriu, no entanto, que o ministro cometeu "traição" ao associar-se a Doria, que chamou de "vitória do Brasil" o acordo estabelecido com o Ministério da Saúde..O pano de fundo da guerra em torno da vacina de origem chinesa e em parceria com o instituto paulista são as eleições de 2022 para as quais Bolsonaro e Doria, que eram aliados em 2018, são considerados pré-candidatos e rivais. ."Andou a recomendar cloroquina até às emas do Alvorada", disse, noutro ponto da guerra, Doria, referindo-se a uma fotografia em que Bolsonaro, quando estava em quarentena, mostra embalagens daquele remédio aos animais que habitam os jardins da residência oficial do presidente. Para o governador paulista essa é a prova de que Bolsonaro jamais se preocupou com medicamentos "comprovados cientificamente".."Pense no país, presidente, não em 2022", afirmou Doria noutro ponto. .Entretanto, governadores de outros estados, que já contavam com a Coronavac, ficaram revoltados com a interrupção, por Bolsonaro, do acordo entre Doria e Pazuello. "Bolsonaro não pode dispor da vida das pessoas para seus propósitos pessoais (...) se ele desautorizar o acordo feito por Pazuello, ele mais uma vez estará sabotando o sistema de saúde (...) espero que bons conselheiros consigam debelar esse novo surto de Bolsonaro", disse Flávio Dino, governador do Maranhão e também tido como pré-candidato à presidência em 2022..Outros governadores apelaram à racionalidade de Bolsonaro e disseram-se perplexos com a sua intervenção num acordo estabelecido por todos os governadores..No Brasil já morreram mais de 155 mil pessoas com covid-19.