Bebé nasceu em cima de uma árvore durante ciclone Idai

Sara nasceu em cima de uma mangueira, em Manica, contou a mãe, Amélia, segundo a Unicef Moçambique. O caso não é inédito, pois nas cheias de 2000, em Gaza, Rosita nasceu em cima de uma mafurreira
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No meio das cheias provocadas pelo ciclone Idai - e depois da passagem do mesmo - muitos bebés nasceram. Sara foi uma delas. Segundo disse a mãe, Amélia, à Unicef Moçambique, nasceu em cima de uma árvore de manga.

"Eu estava em casa com o meu filho de dois anos de idade, quando de repente, sem aviso, a água começou a entrar dentro da casa, e eu não tive outra opção a não ser subir numa mangueira, próxima à minha casa. Então as dores começaram, e eu não tinha ninguém por perto para me ajudar. Em cima daquela árvore eu dei à luz a minha filha Sara. Eu estava sozinha com a Sara e o meu filho, ficámos naquela árvore durante dois dias depois do nascimento da Sara. Mais tarde, os vizinhos ajudaram-me a descer e chegámos a este lugar seguro," contou Amélia, mãe solteira, agora a viver com os filhos no centro de acomodação improvisado de Nhamhemba, no posto administrativo de Dombe, na província moçambicana de Manica.

Segundo comunicado da UNICEF Moçambique, datado desta terça-feira, Sara, Amélia e o irmão estavam entre as três mil pessoas que foram encontradas a sobreviver sem qualquer tipo de apoio a poucos quilómetros de Dombe. "Sara está a ser amamentada constantemente pela mãe Amélia, que está a receber apoio das outras mães afetadas no centro de acomodação. Amélia também recebe assistência de saúde e nutrição do agente comunitário de saúde Josias Tchaka. Josias também perdeu sua casa e os seus bens durante o ciclone Idai, mas por ter sido treinado desde 2015 pelo Ministério de Saúde, ele foi o único provedor de cuidados primários de saúde e nutrição para os seus vizinhos", refere o comunicado da Unicef, uma das muitas organizações que estão no terreno a ajudar as vítimas do ciclone que fez 598 mortos.

Esta não é a primeira vez que surge a história de um bebé nascido em cima de uma árvore em cheias em Moçambique. Em 2000, durante as cheias em Gaza, no sul de Moçambique, Rosita nasceu em cima de uma mafurreira, em Chókwè. A história começou quando a família da rapariga subiu à árvore para fugir às inundações que mataram 800 pessoas. Sem água ou comida, aí estiveram quatro dias até que Carolina, a mãe de Rosita, entrou em trabalho de parto. A sogra teve de usar o vestido para impedir que a bebé caísse nas águas revoltas e infestadas de crocodilos.

O final feliz surgiu quando a família acabou por ser salva por um helicóptero, imagens essas que foram captadas e que se tornaram fulcrais para captar a atenção mundial para a catástrofe que tinha atingido Moçambique. "Foi um milagre de certeza. Mudou a minha vida porque agora tenho uma casa e um emprego", confessou Carolina, em 2017, à AFP. Nessa entrevista, Rosita, então já com 17 anos, disse sentir-se aliviada quando a atenção mediática deixou de estar em si e pôde finalmente passar a ter uma vida normal e a ir à escola. Gosta de futebol. E interessa-se por petroquímica.

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