#MeToo não teve impacto? Homens continuam a subestimar assédio sexual
O movimento #MeToo abalou o mundo, mas não mudou significativamente as consciências. Esta é a conclusão de um estudo da Ipsos Moris, uma empresa de estudos de mercado britânica que costuma publicar relatórios onde avalia a forma como o público perceciona uma determinada mensagem. Desta vez, foi o assédio sexual. Homens e mulheres dos EUA e de 12 países europeus - Portugal não fez parte do estudo - subestimaram a percentagem de mulheres vítimas de assédio sexual.
A empresa concluiu que em 13 países - aqueles de que dispõe de dados - os entrevistados disseram que apenas 39 por cento das mulheres foram vítimas de assédio, quando na verdade foram 60 por cento. A Dinamarca, os Países Baixos, a França e os EUA são os países onde a extensão do assédio sexual é mais subestimada. Os dinamarqueses ficaram 49 por cento abaixo da realidade, os holandeses 35 por cento e os franceses 31 por cento.
O inquérito foi realizado entre 28 de setembro e 16 de outubro de 2018 em 37 países, e abrangeu 28.115 entrevistas.
Não foram só homens os entrevistados, também mulheres, mas são eles quem aponta um menor número de vítimas de assédio. Segundo o inquérito da Ipsos Moris, em média, os homens consideram que 36% das mulheres do seu país sofreram assédio sexual, enquanto as mulheres dizem que 44% do sexo feminino sofreu esse tipo de abuso - um número ainda muito abaixo do verdadeiro.
"Em cada 100 mulheres quantas considera que foram vítimas de qualquer forma de assédio sexual desde os 15 anos?", era a pergunta feita, à exceção dos EUA, onde a pergunta não foi realizada com a inclusão da idade.
O inquérito foi realizado após o movimento - espoletado pelos casos de assédio sexual e alegadas violações de atrizes e candidatas a atrizes pelo produtor de Hollywood Harvey Weinstein.
Apesar de na Dinamarca, um estudo datado de 2012 ter constatado que 80% das mulheres sofreram alguma forma de assédio sexual desde os 15 anos, a resposta média entre os homens foi de 31%. Na Holanda - onde um conhecido maestro foi despedido devido a alegações de assédio sexual e onde 73% das mulheres revelaram terem sido vítimas de assédio, a resposta média entre os homens foi de 38%, lembra o Guardian. Os franceses estimaram em 41 por cento as mulheres assediadas, mas o estudo de 2012 constatou que 75% das mulheres francesas já tinham sofrido assédio sexual.
Nos EUA, um estudo de 2018 revelou que 81% das mulheres tinham sido assediadas em algum momento da vida, mas a resposta média dos homens norte-americanos foi de 44%.
Laura Bates, que criou o Everyday Sexism Project, um site criado pela escritora feminista britânica que revela as experiências das mulheres no contexto de desigualdade de género, disse ao Guardian que a dificuldade dos homens em reconhecerem a extensão do assédio sexual está a atrasar os esforços atuais para o eliminar.
"É um Inquérito que chega um ano depois do #MeToo e que sugere que temos um problema real em acreditar nas mulheres e levá-las a sério", disse a ativista.