Aliança destaca tropas para o Báltico e irrita Moscovo

Aliança reúne-se hoje e amanhã. Relações com a Rússia estarão no centro dos trabalhos. Merkel defende "dissuasão e diálogo"

É quase impossível evitar as memórias, mesmo que muito desfocadas, dos tempos da Guerra Fria. Começa hoje em Varsóvia a cimeira da NATO que é vista como a mais importante desde a queda do Muro de Berlim (1989) e da dissolução da União Soviética (1991).

"Depois de a Rússia ter invadido a Geórgia, em 2008, e de ter anexado a Crimeia, em 2014, começa a ser óbvio que o novo papel da aliança é, no fundo, o seu velho papel", defende, num artigo para a Al Jazeera, Luke Coffey, ex-conselheiro do Ministério da Defesa britânico.

"Com Vladimir Putin, a Rússia regressou ao velho imperialismo e está disposta a aumentar a influência para lá das suas fronteiras", sublinha o mesmo especialista em segurança. Longe vão os tempos de Boris Ieltsin, que marcaram uma espécie de sedução nas relações entre o Ocidente e a Rússia.

Junte-se à questão diplomática com Moscovo a crise migratória, a Primavera Árabe e a ameaça do Estado Islâmico e Doug Lute, embaixador dos EUA na NATO, não tem dúvidas: "Esta cimeira é um ponto de inflexão, o mais nítido desde o fim da Guerra Fria."

E há ainda o conflito Sírio a afastar a aliança de Moscovo. "A NATO e a Rússia têm interesse na Síria da mesma forma que um ladrão e um depositante têm interesse no mesmo banco", graceja Coffey.

Além de tudo isto, o brexit também estará presente no inconsciente dos participantes. Depois de o Reino Unido ter votado para sair da União Europeia, os aliados ocidentais pretendem, acima de tudo, fazer passar uma imagem de união.

A NATO terá de encontrar um equilíbrio difícil, que passa por mostrar uma posição de força perante a Rússia, mas sem irritar Moscovo em demasia. Angela Merkel resumiu isso mesmo, no parlamento alemão, antes de partir para a capital polaca. A chanceler defende que é necessário, ao mesmo tempo, "diálogo e dissuasão" e que só é possível garantir a segurança na Europa "com a Rússia e não contra a Rússia".

Para Luke Coffey "a NATO tem uma nova oportunidade para enviar aos russos a mensagem de que não está disposta a fazer concessões para defender os seus membros". Nesse sentido, a aliança irá aprovar em Varsóvia o destacamento de quatro batalhões multinacionais e permanentes, cada um com cerca de mil homens, que ficarão sediados na Estónia, Lituânia, Letónia e Polónia.

A esta iniciativa, a Rússia respondeu em antecipação no passado mês de maio, anunciando a colocação de três divisões no seu território europeu. "A NATO não está apenas a tentar encontrar nas ações russas uma justificação para a sua existência. Está também a dar passos confrontacionais contra nós", afirmou Putin na semana passada.

O Ocidente, porém, tem uma visão contrária. "Nada disto estaria a acontecer se a Rússia não tivesse começado a fazer invasões. Quem mudou a NATO foi o presidente Putin", sublinha Radek Sikorski, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, citado pela Bloomberg.

A NATO entende que as tropas terão apenas uma função de defesa, mas, do outro lado da cortina, são vistas como uma ameaça. "Quando os russos olham aquilo que veem são forças da NATO posicionadas a duas horas de carro de São Petersburgo", resume Dmitri Trenin, diretor do Carnegie Moscow Center.

A cimeira que arranca hoje - a primeira realizou-se em 1957 - será a maior na história da aliança, com 58 delegações oficiais e cerca de 2500 delegados.

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