Acusação não demove Fillon. Valls avalia apoio a Macron
Não respondeu a quaisquer perguntas dos juízes; limitou-se a ler uma declaração e saiu acusado de desvio e cumplicidade na ocultação de dinheiros públicos e incumprimento de obrigações face à Alta Autoridade para a Transparência Pública. Ainda assim, François Fillon insiste que vai manter-se na campanha para a eleição presidencial em França, cuja primeira volta se realiza a 23 de abril.
Na declaração lida aos juízes, na audição que decorreu em Paris, e tornada pública logo a seguir, o candidato da direita e do centro manteve que não eram fictícios os empregos de sua mulher e de dois dos filhos do casal. Mais, Fillon declarou não ser competência "da autoridade judicial apreciar e decidir das características" das tarefas desempenhadas pelos familiares.
A audição de Fillon, que estava marcada para hoje, foi antecipada em 24 horas para "manter a dignidade do candidato", explicou um dos seus advogados. Por outras palavras, que Fillon fosse recebido por um contingente de jornalistas com perguntas que poderiam ser incómodas. Um dos advogados disse que existe uma "forma de pressão mediática (...) que prejudica a presunção de inocência" e que a presença de "um grupo de 300 jornalistas não é compatível com a minha visão da Justiça".
O candidato apoiado pelo partido Os Republicanos (LR, na sigla em francês), além da sua presença perante os juízes, continuou as suas ações, tendo-se encontrado ontem com associações de caçadores com quem tentou fazer humor sobre a situação em que se encontra, declarando preferir "estar junto de pessoas que disparam munições reais" do que enfrentar os "tiros sujos" da campanha. Por outro lado, os apoiantes de Fillon repetem, cada vez mais, o argumento de que ele está inocente até ser julgado e condenado.
A campanha presidencial francesa não apresenta apenas problemas para o candidato da direita e do centro. Um dos favoritos atuais nas sondagens, o ex-ministro da Economia de Manuel Valls e que rompeu com os socialistas, Emmanuel Macron, vai ser investigado por uma deslocação a Las Vegas em janeiro de 2016, quando ainda se encontrava no governo, para assistir a uma iniciativa organizada sem concurso público por um organismo na dependência do seu Ministério. A campanha de Macron nega que esteja em causa o comportamento do ex-ministro, mas a revelação pode afetar, de algum modo, a sua imagem.
A figura de Macron continua a dividir os socialistas franceses que continuam em séria crise, e cada vez mais divididos. Ontem, especulava-se que o ex-primeiro-ministro Manuel Valls, e candidato derrotado nas primárias da esquerda por Benoît Hamon, poderia apoiar Macron, mesmo que o não fizesse de forma pública. Ontem à noite estava prevista uma reunião do seu círculo de apoiantes para definir uma estratégia.
Do lado de Hamon, algo semelhante se prepara. Um seu apoiante, citado ontem no Libération, acreditava ser possível que o candidato socialista oficial tenha um "bom resultado"; em função disso, "podia negociar-se o apoio a Macron e "construir uma maioria progressista". Um problema: mesmo entre o núcleo duro do eleitorado de ambos, as intenções de voto não ultrapassam os 50% de certeza. No eleitorado de Fillon ou de Marine Le Pen, este valor está acima dos 70%.
[artigo:5482013]