"A saúde mental não é moda". Modelo da Gucci protesta durante desfile

Coleção inspirada em coletes-de-forças motivou críticas. Vários modelos direcionaram uma parte do que receberam para instituições que apoiam pessoas com problemas de saúde mental.
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Ayesha Tan Jones, modelo da Gucci, desfilou com as mãos no ar, este domingo, na Semana da Moda de Milão, para transmitir uma mensagem à marca: "Mental Health Is Not Fashion" (A saúde mental não é moda, em português). O "protesto pacífico", como lhe chamou, ocorreu durante a apresentação da coleção Primavera/Verão 2020 da Gucci, que tem peças semelhantes a camisas de forças.

Depois do desfile, a modelo fez uma publicação no Instagram, na qual explicou as suas motivações e agradeceu o apoio dado pelo público e pelos seus colegas.

"Como artista e modelo que experimentou as suas próprias lutas com a saúde mental, bem como com familiares e entes queridos que já foram afetados por depressão, ansiedade, bipolaridade e esquizofrenia, é prejudicial e insensível para uma marca como a Gucci usar estas imagens para um momento de moda passageiro", escreveu, citada pelo The Guardian.

Na opinião da modelo, "é de mau gosto que a Gucci use roupas em alusão a doentes mentais", enquanto os modelos deslizam "num tapete rolante, como um pedaço de carne fabricada". Ayesha Tan Jones considera que a coleção é "ofensiva para milhões de pessoas em todo o mundo que são afetadas por estas questões".

Numa conferência de imprensa após o desfile, Alessandro Michele, diretor criativo da marca, explicou que pensou em "humanidade e uniformes" quando idealizou a coleção. "Um uniforme é algo que te bloqueie e restringe - que te torna anónimo. Que te faz seguir uma direção", referiu. A camisa-de-forças, explicou, é o principal "tipo de uniforme".

Segundo um porta-voz da marca, citado pelo The Guardian, as peças eram uma "tomada de posição" e não serão comercializadas.

Numa publicação mais recente, a modelo, Ayesha Tan Jones, explicou que outros modelos da Gucci partilhavam da sua opinião, o que lhe deu força para seguir em frente com o protesto silencioso.

O seu gesto, referiu, é um gesto simples comparado com a "coragem que as pessoas com problemas de saúde mental mostram todos os dias". No mesmo texto, aproveitou para falar sobre o apoio que pode ser dado a estes doentes, seja ouvindo-os sem julgamentos, oferecendo ajuda para as tarefas domésticas ou lembrando como são fortes. Apelou, assim, a que a sociedade ajude "a acabar com o estigma".

Segundo Ayesha Tan Jones, vários modelos optaram por direcionar uma parte do que receberam para instituições que ajudam pessoas com problemas de saúde mental.

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