A polémica estratégia sueca contra a covid-19 estará finalmente a resultar?
Anders Tegnell, o médico e epidemiologista que definiu o plano de ataque à pandemia na Suécia acredita que sim. Crítico de "soluções fáceis e sem comprovada eficácia", como a máscara, e radicais, como o confinamento obrigatório, diz que a covid-19 não vai desaparecer tão depressa e por isso mais vale aprendermos a viver com ela.
O uso de máscara não é recomendado na Suécia e, nem nos piores tempos da pandemia no país, que teve das maiores taxas de mortalidade da Europa e mantém um elevado número de mortos por milhão de habitante, foram fechados quaisquer estabelecimentos ou serviços ou foi imposto o confinamento obrigatório.
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Severamente criticado internacionalmente, Anders Tegnell, o estratega da luta contra a covid-19 na Suécia, tem a confiança dos suecos, confiança que tem vindo a subir à medida que os novos casos no país descem e as mortes e internamentos se situam agora perto de zero. Retratado quase como uma pop star da saúde pública, num extenso e muito bem escrito perfil que dele traçou o Financial Times, Tegnell defende serena e intransigentemente a estratégia que definiu e que tantas críticas, a que parece ser imune, lhe valeu.
Apesar do elevado número de mortos que a Suécia acumula - em 86.505 casos, tem 5846 mortes, ou seja 578 por milhão de habitantes, bem mais do que Portugal, que, com uma população semelhante (10 milhões), tem 183 óbitos por milhão de habitantes e um total acumulado de 63.310 casos e 1860 mortes -, o epidemiologista não vê na sua estratégia a causa da alta taxa de mortalidade, que atribui antes à circunstância de o país ter sido particularmente fustigado no início da epidemia, com especial incidência nos lares de idosos, mais vulneráveis à doença, o que revelou uma fragilidade do sistema de cuidados aos idosos.
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Numa entrevista à France 24, Anders Tegnell afirmou-se muito satisfeito com a atual situação epidemiológica da Suécia, com números muito mais baixos do que os de vários países europeus onde uma segunda vaga está a formar-se em força, e afirmou que aqueles demonstram as virtudes e sustentabilidade da estratégia adotada, que não implicou confinamento obrigatório, encerramento de serviços, estabelecimentos comerciais e de lazer nem uso de máscara.
"Não defendo proibições ou obrigatoriedades em saúde pública. Temos que dar responsabilidade às pessoas. Distanciamento, teletrabalho se possível e ficar em casa se estiver doente são as três medidas em que assenta a nossa estratégia e são mais eficazes do que a máscara, sobre a qual não existe qualquer evidência científica", disse à France 24, na qual defendeu que a sua estratégia está a revelar-se mais consistente a longo prazo do que a de outros países que fecharam tudo e depois abriram e agora, que enfrentam uma segunda vaga, ainda mais forte que a primeira, vão fechar outra vez?
No entanto, apesar de o número de novos casos estar a descer e o de mortes se manter perto do zero desde julho, Anders Tegnell não baixa a guarda. "A doença não acabou para ninguém. Vai estar connosco durante muito tempo e temos que aprender a viver com ela".