Moviflor fecha a 1 de Outubro e 950 trabalhadores saem com salários em atraso
"A Administração da Moviflor informa que, dado não se encontrar ainda definida a evolução da empresa face à necessidade de investimento, e considerando as dificuldades e contingências com que nos debatemos diariamente, foi tomada a decisão de encerramento temporário das instalações já a partir do próximo dia 1 de Outubro", refere o comunicado datado de 25 de Setembro de 2014.
Catarina Remígio, fundou a empresa há mais de 40 anos e agradece o esforço e dedicação dos 950 trabalhadores que a Moviflor tinha em Portugal, cuja situação dos salários em atraso não fica esclarecida.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços (CESP) no final de Julho os trabalhadores ainda tinham em atraso salários de maio. Por este motivo foi formulado um pedido de insolvência por uma trabalhadora em agosto. Uma fonte do Sindicato informou no início do mês que face ao não pagamento dos ordenados muitos funcionários suspenderam contratos e as lojas não funcionam por falta de pessoal, nomeadamente em Coimbra, Aveiro e Vila Real.
A Moviflor não conseguiu cumprir o Plano Especial de Revitalização (PER) aprovado em Dezembro de 2013, nem chegar a acordo com um potencial investidor estrangeiro que nunca foi revelado pela empresa. O incumprimento do PER e sobretudo do pagamento progressivo dos salários e indemnizações é visto como "lamentável" por Marisa Ribeiro do Sindicato do CESP, em declarações ontem à Agência Lusa.
As medidas previam a recuperação da Moviflor através de um "reforço da estrutura financeira com capitais próprios, amortização do passivo, financiando meios libertos negativos" entre 2013 e 2015. Esse reforço dos capitais próprios derivaria O aumento de capitais próprios derivaria da doação em espécie de imóveis detidos pelos accionistas avaliados em cerca de 1,1 milhões de euros. Foi estipulado e aprovado por 80% dos credores que se despediriam 320 trabalhadores e encerrariam cinco a seis lojas, entre as 24 existentes no país.
O plano indica como responsáveis pela situação financeira da empresa a recessão económica, o "desequilíbrio financeiro estrutural" correspondente a uma "deficiente cobertura do ativo não corrente por capitais" permanentes e «fortes restrições na obtenção de crédito bancário, "agravado pelo reembolso de várias linhas de crédito a bancos estrangeiros e impossibilidade de renovação e reforço do financiamento"
Tem mais de 1400 credores e mais de 147 milhões de euros de dívida, nomeadamente para com o fisco e a Segurança Social, valores mencionados no programa de revitalização do final de 2013. Catarina Remígido fundou a empresa aos 19 anos e é a principal accionista, detendo uma participação de 81,9%.
Para além de Portugal mantém atividade em Angola e Moçambique, países onde as operações da empresa não foram abrangidas pelo PER pois a empresa está em regime de licença e de fornecedora de produtos.
Quanto ao incumprimento do PER a situação foi prevista por Inácio Peres ao PÚBLICO, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Judiciais. "Há muitos PER aprovados que, depois, não são cumpridos" devido a uma "questão de financiamento. Continua a haver algum receio da banca em financiar as empresas nesse estado".
A empresa de mobiliário tinha 950 postos de trabalho em Portugal. Em Janeiro deste ano iniciou-se o despedimento coletivo de 200 trabalhadores. A incerteza alarga-se a todos os funcionários. Os três meses de ordenado descritos no PER, subsídios de Natal e Férias, salários de Janeiro e Abril de 2014, e indemnizações continuam uma incógnita.