Nuno Santos: "CNN Portugal não será nem um produto de nicho nem cinzento"
Quando o relógio marcar as 21h00, Judite Sousa, de regresso à televisão dois anos depois de ter saído da TVI, irá ser o rosto inaugural da nova CNN Portugal. E se em antena a pivô e jornalista assume a emissão, o Mosteiro dos Jerónimos será o palco, à mesma hora, para assistir ao momento, com personalidades nacionais e elementos da comitiva CNN em Portugal.
Na emissão da TVI24 sobre a qual cai hoje o pano, ao fim de 12 anos de operação, nasce uma nova marca de informação televisiva e online que quer ser, nas palavras do diretor da CNN Portugal, Nuno Santos, "um player muito ativo no mercado". "Somos bastante desassossegados. A CNN Portugal não será nem um produto de nicho nem um produto cinzento", afirma.
O investimento nesta operação não é revelado, mas a chegada da marca norte-americana inclui cerca de 50 novos profissionais para a estação de Queluz de Baixo, 20 comentadores residentes - até ao momento -, reforço tecnológico e ampliação dos estúdios de informação. Uma ampliação para trazer para a antena do canal 7 "mais factos", "mais confronto de ideias do que opinião solta e sem contraditório" e que é para "Portugal, por portugueses, focado nos temas portugueses", garante o responsável. "O jornalismo que se pratica na televisão, em Portugal, está muito mimetizado, queremos afirmar-nos pelo lado das factos e da análise e menos pelo lado do comentário", diz.
A par de correspondentes internacionais e de colaborações com geografias próximas a Portugal, o diretor da CNN Portugal fala em investimento dentro de fronteiras. "Na redação, há num conjunto de delegações que temos no país, reforçámos essa oferta com o que temos chamado de linha avançada de equipas regionais e locais e muita ligada a web tve à imprensa local, que permite alargar a rede informativa no território."
O diretor não define tetos ou prazos que queira atingir em matéria de audiências. "O mercado de televisão de notícias nacional vale entre 8% e 8,5%, nós queremos ter uma posição relevante nesse conjunto e acreditamos que esse bolo pode crescer", afirma. A TVI24 registou, média anual de 2021 e segundo a Comissão de Análise de Estudos de Meios, 1,3% de quota de mercado, abaixo dos 2,1% da SIC Notícias e dos 4,4% da CMTV, que inclui programação de entretenimento.
Porém, sobre metas a atingir, Nuno Santos não detalha. "Queremos ser mais relevantes no mercado, ter um número significativo de espectadores, ter uma receita relevante. Não falarei de números. Não controlo o que outros fazem, só o que nós fazemos. Somos uma operação privada, queremos ter receita em consonância."
A TVI24 despede-se com, atualmente, 1,3%, de share médio anual. Mas e os planos previstos? "Não vou falar de números. A CNN Portugal parte do zero como marca. Nós trabalharemos uma realidade distinta na estética, na abordagem, na forma como se vai tratar muitas matérias, na dinâmica", vinca. Já sobre prazos, o responsável lembra que não vai revelar "estratégias que são internas".
A concorrência mais direta, por seu lado, não tem estado parada. A SIC Notícias tem vindo a fazer mexidas na antena e a antecipar-se em estreias de formatos de opinião e de análise. "Sinto um certo frenesi no ar", diz. E acrescenta: "Estou focado no que temos de fazer, estou mobilizado para trabalhar com a nossa equipa."
A chegada da CNN Portugal tem-se feito acompanhar de uma ampla estratégia de marketing que tem vindo a gerar provocações e eco nas redes sociais, replicando e adulterando cartazes e slogans com humor. "Sinal dos tempos", reage Nuno Santos, que volta a usar a palavra "frenesi" para explicar estas reações.
Sobre a matriz da CNN naquela que será a emissão portuguesa, o diretor do canal vinca: "Em termos editoriais, somos nós que definimos um padrão. Os responsáveis pelo canal somos nós, o que vamos fazer em Portugal é um canal pautado pela independência." Numa altura em que têm sido noticiadas recomendações vindas de fora até para a roupa que deve ser usada pelos pivôs, o responsável fala num "conjunto de regras que foram adotadas e que ninguém impõe. Tem sido um processo em construção em conjunto. A CNN adiciona, não subtrai".
O calendário desta relação é secreto: "Todos os contratos têm horizontes. Estamos a pensar numa relação sólida, boa, que está a correr muito bem. Não estamos preocupados com isso, estamos a caminhar juntos", diz Nuno Santos.
O início desta parceria entre a CNN e Portugal começou no primeiro trimestre deste ano, na mesma altura em que a TVI24 refundava a sua grelha. "Houve uma iniciativa da nossa parte, um interesse comum, e ambos chegaram a um entendimento", recorda o diretor. "A Warner Media [detentora da CNN] olhou para o mercado português, entendeu que, neste domínio, era muito vibrante - uma vez que praticamente um quinto do consumo era em informação - e percebeu que poderíamos ser um bom parceiro", descreve.
O presidente da CNN World wide Commercial, Rani Raad, justificou em comunicado que espera "reforçar a presença num dos mercados europeus de mais rápido crescimento, bem como expandir ainda mais para um universo com uma língua falada por mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo".
A partir de hoje, Judite Sousa e Júlio Magalhães vão assegurar, alternadamente, o Jornal da CNN das 21h00 às 22h00 e que se assume como espaço de autor. Mas a antena contará com novas contratações e rostos já conhecidos da TVI24. Diana Bouça-Nova, uma estreia no canal de Queluz de Baixo, vai assegurar o primeiro período da manhã com Isaura Quevedo e André Neto de Oliveira em Novo Dia, das 06h30 às 10h00. A emissão seguirá depois para Ana Guedes Rodrigues, com CNN Hoje, até ao meio-dia. As três horas que se lhe sucedem estarão nas mãos de Cátia Nobre e José Carlos Araújo num espaço de "noticiário, comentário e interação" e alargado nos temas, como refere a comunicação do canal.
Das 15h00 às 18h00, caberá a Rita Rodrigues e a Pedro Bello Moraes conduzir uma emissão com diretos de rua e análise em estúdio em Agora CNN, nos temas que marcam a atualidade. O acesso ao horário nobre e até às 21h00 vai estar nas mãos de João Póvoa Marinheiro. A noite, já depois de Judite ou Júlio, será conduzida por Ana Sofia Cardoso e Paulo Magalhães em CNN Prime-Time, que reivindica o olhar de temas do dia com "distintas abordagens". Cláudio Carvalho, da meia-noite à uma, fecha o ciclo noticioso e abre outro com CNN Meia-Noite.
Os fins de semana conhecerão alterações. José Gabriel Quaresma estará aos sábados e domingos de manhã até às 10h00. Pedro Benevides sucede-lhe na emissão aos sábados até às 13h00 com Fontes Bem Informadas. Sara de Melo Rocha e André Carvalho Ramos estarão no acesso ao prime-time nos fins de semana e Cristina Reyna assumirá a antena das 21h00 às 23h00.
Na CNN Portugal estarão também novos comentadores. Entre as mais recentes contratações estão Rui Santos, que deixou a SIC Notícias em outubro e após 17 anos de parceria, o ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, o cientista Manuel Sobrinho Simões, o especialista em assuntos internacionais Francisco Seixas da Costa e a advogada Ana Pedrosa-Augusto.
Uma grelha que irá contar com conteúdos internacionais made in CNN, entre eles o Original Series, com reportagens internacionais com nomes como Anderson Cooper ou Farred Zakaria, conteúdos de saúde como CNN Covid, Vital Signs, formatos conduzidos por Richard Quest e programas de lifestyle e tecnologia.
Sobre o futuro próximo da emissora, Nuno Santos estabelece "três momentos": "Este de arranque, em que é a afirmação do conteúdo informativo, do nosso jornalismo, depois mais dois momentos em 2022, em que vamos agregar conteúdos e linhas de programação de outra natureza, mais ligados a áreas de lazer, lifestyle e eventos na parte final do ano."
Mas as operações informativas em concreto e a breve trecho permanecem ainda reservadas. "Estamos muito confiantes no trabalho que vamos fazer, no sentido do que temos preparado, saber que teremos um produto melhor num horizonte de três a seis meses. Tenho na minha cabeça o que será a CNN Portugal na rentrée de 2022. Teremos eleições e isso será um momento de afirmação como canal de notícias e como operação digital. Não começámos a preparar o projeto porque não estava em cima da mesa e ninguém tinha uma bola de cristal para dar como garantida uma crise política. As eleições vão fazer que tenhamos que dar o melhor de nós", afirma.
carla.bernardino@delas.pt