Horta Osório: "Em dez anos seria possível dobrar o rendimento do país"
António Horta Osório defendeu, na tertúlia que assinalou o início das comemorações dos 158.º aniversário do DN, que Portugal tem condições para fazer crescer a economia . Deve, porém, reforçar apoio às empresas e à inovação para acelerar o ritmo de crescimento.
O próximo ano será de "incerteza e dificuldade", mas há espaço para contornar as adversidades: basta "arregaçar as mangas e ter essa intenção". A mensagem foi deixada por António Horta Osório, banqueiro, na tertúlia Portugal e Europa em 2023, que aconteceu esta sexta-feira no Museu de Marinha, em Lisboa e deu o pontapé de saída nas comemorações do 158.º aniversário do DN.
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"Dizer que será um ano difícil não é ser pessimista. É ser realista", continuou Horta Osório, antes de concluir: "Há momentos de sorte e de azar, o fundamental é termos resiliência e prudência para resistir aos momentos mais negativos."

Antonio Horta Osorio e Pedro Passos Coelho na plateia.
© Paulo Alexandrino/Global Imagens
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Apesar de a conversa - moderada pela diretora do DN, Rosália Amorim - ser o ponto principal, as intervenções começaram momentos antes, com Marco Galinha (CEO do Global Media Group), Rosália Amorim e Pedro Adão e Silva (ministro da Cultura) a darem início à sessão.
No discurso, curto, perante uma plateia onde estavam nomes como Pedro Passos Coelho (ex-primeiro ministro) e Assunção Cristas (ministra entre 2011 e 2015), Marco Galinha assinalou a importância de preservar e contribuir para o arquivo do DN, parcialmente exposto logo ali ao lado, na sala D. Luiz, numa exposição que neste dia se inaugurou e ficará aberta ao público até ao dia 28 de fevereiro.
"Percorrer o arquivo do DN é viajar por todos os mares já viajados por portugueses. Desde 1864, já noticiou duas Grandes Guerras, o 25 de Abril, a entrada de Portugal na CEE, entre tantos outros momentos", assinalou. Por isso, é importante "olhar não só para o passado mas também para o futuro", contribuindo assim para "enriquecer o arquivo, já de si tão rico", afirmou o CEO do GMG.

Marco Galinha, CEO do Global Media Group, discursa.
© Rita Chantre / Global Imagens
Também a diretora do DN assinalou a relevância da exposição de parte do arquivo: "Com uma história que já percorreu ditaduras, democracias, guerras e crises, acreditamos que não nos podemos resignar perante as dificuldades e fatores com que não contávamos", disse. E, servindo-se de uma frase do convidado da tertúlia, concluiu deixando o mote: "Não nos podemos resignar."

Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura, realçou a importância do Arquivo do DN.
© Rita Chantre / Global Imagens
Já o ministro Pedro Adão e Silva - que tutela a Comunicação Social - destacou a "responsabilidade que é ter um arquivo como o do DN" -- que este ano foi classificado como Tesouro Nacional. Isto porque, assinalou, "se por acaso Portugal desaparecesse, seria possível reconstruir a história com base no arquivo". Por isso, "interessa enquanto tesouro, também, se for um instrumento ao serviço do país e das pessoas. É também um sinal para o jornalismo porque reconhece a evidência histórica", duas coisas que, considerou, "não podem existir separadas". No final do discurso, recebeu uma recordação: a primeira página do dia em que nasceu (12 de maio de 1974).
"Queremos ou não crescer?"
A experiência acumulada enquanto líder na banca e, mais recentemente, como consultor de grandes empresas permite a António Horta Osório ter uma perspetiva externa dos desafios que Portugal enfrenta. Um dos principais, defende, prende-se com a ambição que deve orientar a sociedade e o poder político na condução do destino económico do país. "Quando olhamos para o que devíamos fazer percebemos que não é um problema de capacidade. Acho que está mais relacionado com se queremos ou não crescer", aponta.

Vista geral da plateia.
© Rita Chantre / Global Imagens
O ex-banqueiro, agora administrador de várias empresas, incluindo a Bial, não tem dúvidas de que seria possível alavancar a dinâmica económica e "dobrar o rendimento do país" em dez anos. Para isso, diz, é fundamental deixar de lado as questões partidárias e definir, com consensos prolongados no tempo, o rumo a seguir. O ingrediente fundamental deve ser a aposta forte na inovação com mais apoios públicos. "Acho que os apoios públicos devem ser dirigidos prioritariamente à inovação", assinala.

Vitor Bento, chairman da Associação Portuguesa de Bancos. lê o DN.
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Horta Osório acredita num futuro do país com menos Estado e mais dinheiro disponível para o setor privado, que considera ser o motor do crescimento. "Acredito que o setor privado e as pessoas terem mais dinheiro nos seus bolsos é aquilo que, a prazo, produz mais riqueza", sublinha.

Rosália Amorim, Marco Galinha e o padre Vitor Melicias.
© Paulo Alexandrino/Global Imagens
A receita para o fim de duas décadas de crescimento anémico deve ser ainda complementada com a continuação da aposta nas exportações, área em que "podemos sempre fazer mais", mas também com o estímulo da concorrência. Apesar do caminho ser, para o ex-banqueiro, claro, reconhece as dificuldades e os desafios que o próximo ano reserva para a economia nacional e europeia. A inflação a que "a maior parte dos portugueses já não está habituada" será um dos principais obstáculos no horizonte, desde logo por ser "um péssimo imposto". "É um custo cego para as pessoas e provoca imediatamente assimetrias. É muito pior para quem tem menos posses", afirma.

Daniel Proença de Carvalho e Rosália Amorim
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Considera ser preciso "prudência" por parte do Banco Central Europeu na política de subida das taxas de juro e destaca o "momento de grande incerteza" agravado na Europa, face aos Estados Unidos, pela guerra na Ucrânia e a crise energética. O contexto internacional obriga, por isso, à continuação da estratégia de redução da dívida pública portuguesa para aumentar a soberania do país em relação ao seu destino.

Marco Galinha, Rosalia Amorim e Antonio Horta Osorio inauguram a exposição dos 158 anos do DN
© Paulo Alexandrino/Global Imagens
"A dívida sobre o produto [interno bruto] francês está à volta dos 115%. Penso que temos a possibilidade de, em 2023 ou em 2024, ficarmos com a dívida sobre o produto abaixo do rácio francês", perspetiva. A vantagem é, para Horta Osório, Portugal conseguir evitar "uma restrição externa" e poder crescer sem as amarras da pressão do endividamento. "Se ficarmos abaixo da França, ficamos noutro campeonato", reforça.

Julio Isidro (dta.) visita a exposição dos 158 anos do DN.
© Paulo Alexandrino/Global Imagens
Para lá chegar será fundamental rever as políticas de imigração para resolver o problema demográfico português, embora António Horta Osório acredite que não basta abrir as fronteiras, mas antes desenhar estratégias para a atração de trabalhadores estrangeiros "com base nas competências de que o país precisa". Com mais estratégia, objetivos bem definidos, menos impostos e o reforço da produtividade, o ex-banqueiro não tem dúvidas de que o futuro de Portugal pode ser risonho. "Os portugueses têm imensa capacidade", remata.
Saúde mental deve ser prioridade
Na plateia, Ricardo Batista Leite, médico e deputado do PSD, ouviu a intervenção de António Horta Osório. Tendo o banqueiro sofrido um burnout quando liderava o Lloyds - que tirou da falência -, o deputado social-democrata agradeceu, uma vez aberto o período de questões vindas da plateia, o trabalho feito por Horta Osório nesta área e encorajou o gestor a falar sobre o seu caso.
Sem pudores, o banqueiro partilhou o seu testemunho, recordou que a saúde mental deve ser uma prioridade e que, dentro das empresas, este deve ser um tema discutido e falado. "Sei bem o que isso é e as empresas devem, sem dúvida, investir e preocupar-se com o tema", que, diz António Horta Osório, "é fundamental até mesmo para o bom funcionamento das empresas".
Os atos de filantropia na área da saúde mental, foram, inclusive, uma das razões pela qual a Rainha Isabel II deu a António Horta Osório o título de Sir, em 2021.