A Folha de S. Paulo. Como o "jornal do futuro" ataca a crise

Editores do jornal brasileiro de maior circulação revelam como têm combatido a perda de leitores das edições impressa e digital
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A crise no Brasil não se limita aos setores político e económico. Tal como se verifica um pouco por todo o mundo, esta tem vindo a afetar, de forma preocupante, os jornais e revistas que chegam às bancas. O mais curioso é que, neste país, não são apenas as edições impressas que estão a perder leitores, mas também as digitais. Basta olhar para A Folha de S. Paulo, o diário que, apesar de tudo, ainda regista - e já desde 1984 - o maior volume de circulação no Brasil.

"A crise não surtiu um efeito notável apenas no papel, mas em todas as plataformas onde o nosso jornal publica", garante ao DN Vinicius Mota, editor-chefe.

Pioneira da revolução digital nesse país, desde 2012 que A Folha permite o acesso a apenas 20 artigos por mês de forma gratuita - à semelhança do norte-americano The Washington Post -, e só os subscritores digitais podem aceder, sem restrições, a todos os conteúdos do site. "Fazer bom jornalismo custa dinheiro", frisou Sérgio Dávila, editor executivo, à margem de um congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, que se realizou em junho. O responsável explicou que é precisamente para "manter a saúde financeira da redação" que A Folha recorre a esse mecanismo de pay- wall, atualmente com cerca de 130 mil subscritores fidelizados.

"Hoje, a nossa audiência digital é a maior da história dos sites de jornais brasileiros. Os nossos assinantes dividem-se em cerca de 55% no impresso e 45% no digital", salientou Dávila, ex-correspondente em Washington, EUA, e responsável pela cobertura dos atentados de 11 de setembro de 2001.

Ainda assim, não deixa de ser preocupante o declínio do número de leitores. Segundo os dados fornecidos ao DN pelo Instituto Verificador da Comunicação (IVC), entidade responsável pela auditoria de jornais, revistas e websites brasileiros, a circulação digital d"A Folha de S. Paulo atingiu, entre janeiro e julho deste ano, uma média mensal de 4,254 milhões, menos 348 mil do que no ano transato. Quanto à edição em papel, a publicação vendeu, neste ano, uma média de 5,045 milhões de cópias por mês, entre janeiro e julho, enquanto no ano passado, no mesmo período, chegou aos 5,941 milhões.

Que tipo de medidas têm sido tomadas, então, para fazer frente a esta tendência? "Fizemos ajustes nos custos da redação [em junho, foram despedidos vários jornalistas e funcionários administrativos] e desenvolvemos novas frentes de atuação, como seminários abertos ao público", destaca Vinicius Mota.

E não é por acaso que A Folha tem como slogan "O Jornal do Futuro". Nos próximos anos, o objetivo é diversificar as fontes de receita e melhorar a oferta de informação em smartphones, que já superam os computadores como principal fonte de acesso a conteúdos digitais. Nas redes sociais, onde o jornal brasileiro também é líder em número de seguidores - só no Facebook ultrapassa os 5,6 milhões de fãs, mais 700 mil do que o seu rival direto O Globo -, a intenção é ser cada vez mais interativo.

"O desafio é trazer os leitores mais jovens para o universo dos nossos conteúdos na internet e oferecer experiências de leitura mais cativantes", explica ao nosso jornal António Manuel Teixeira Mendes, membro do conselho editorial d"A Folha. Isto, claro, sem incentivar "a miríade de irrelevância travestida de notícia que inunda as redes sociais". Esta é uma estratégia que parece estar a dar frutos. "Neste ano, atingimos a expressiva marca de 40 milhões de visitantes únicos por mês", revela o responsável.

Com todas estas medidas, o editor executivo, Sérgio Dávila, espera, dentro de cinco anos, quando se assinalar o 100.º aniversário do diário, ter um clima de maior otimismo na sua redação. Se o papel está condenado a desaparecer, ou não, para ele não tem importância. "O nosso negócio é levar o leitor do ponto A ao ponto B. Se ele quiser ir de navio, carro, avião ou a pé, não importa", disse, citando o diretor da The New York Times Company, Arthur Sulzberger Jr.

Sediada naquela que é a cidade mais populosa do Brasil e de todo o continente americano, A Folha de S. Paulo foi fundada a 19 de fevereiro de 1921, pela dupla de jornalistas Olival Costa e Pedro Cunha.

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