As marcas de imprensa são "muito mais eficazes a atrair utilizadores digitais" do que a televisão e a rádio, mas não significa que sejam mais eficazes a monetizar, afirma o investigador Miguel Paisana."Medir a digitalização de uma marca é sempre um exercício complexo e abstrato" dado que cada órgão de media tem a sua própria estratégia, ressalva o investigador do OberCom e do Iberifier, em entrevista à Lusa, a propósito do indíce de digitalização que consta do Digital News Report Portugal 2025 (DNRPT25)."Aqui, o que nós tentamos fazer no âmbito do Digital News Report é criar uma espécie de quadro comparativo com base no indicador em que medimos a digitalização das marcas de notícias em Portugal" e verificar qual é a quantidade de pessoas que têm contacto com a marca no digital por comparação com a quantidade de pessoas que têm contacto com a marca no formato tradicional (papel, televisão e rádio)", diz.A conclusão é que, "de forma estrutural e ao longo dos anos [...] as marcas que hoje estão no digital e que têm formato [...] de imprensa são as que apresentam um melhor índice de digitalização", salienta.Por exemplo, marcas como o Público ou A Bola "têm cerca de 15 utilizadores no digital por cada 10 utilizadores no analógico, portanto em papel, ao passo que, por exemplo, marcas como a SIC ou a SIC Notícias ou a TVI têm cinco utilizadores digitais por cada utilizador no tradicional".Observa-se que a "transição para o digital por parte das marcas de imprensa está bastante mais acelerada" e foi "mais bem sucedida que as das outras".Neste sentido, "as marcas de imprensa são muito mais eficazes a atrair utilizadores digitais, que não quer dizer que sejam eficazes a monetizar a atenção que estão a atrair", adverte Miguel Paisana."Esse é o grande dilema da imprensa", prossegue, recordando que "apenas 10% dos portugueses dizem que estão dispostos a pagar por notícias ou pagam por notícias online" e a proporção que diz ser possível vir a pagar é também bastante pequena.Quando a Internet começou a massificar-se em Portugal, no final dos anos 90 e início de 2000, as marcas de imprensa foram as primeiras a transitar para o digital.Passados 25 anos, "o setor da imprensa está bastante mais consolidado no digital por comparação com o da televisão e com o da rádio".No caso do Público e do Expresso, por exemplo, a estratégia digital recente mostra uma aposta no áudio, no podcast: "Estas marcas estão a criar universos de som dentro das próprias marcas, para consolidar a sua oferta digital", salienta.Já entre marcas exclusivamente digitais, o Notícias ao Minuto destaca-se, alcançando 25% dos inquiridos na semana anterior e com 14% a afirmarem um consumo mais regular, seguido do Observador (com 17% de utilização semanal e 8% de consumo frequente, seguido do portal Sapo (com 16% e 9%, respetivamente), segundo o DNRPT25.Estas marcas "foram pensadas para o digital e, portanto, dão-se muito bem no digital", sublinha o investigador.O Observador é uma marca que "de forma independente produz seus próprios conteúdos", o Sapo disponibiliza "muitos conteúdos feitos quer pela Lusa, quer por outras marcas de notícias, como, por exemplo, a Renascença, SIC Notícias" e "encontrou aí uma forma também de conferir legitimidade jornalística ao seu projeto", aponta. Já o Notícias ao Minuto "tem uma abordagem muito imediatista ao consumo de notícias, que é de forma breve nas redes sociais".O investigador destaca a particularidade do portal Sapo, que "continua ainda hoje a ser um veículo fundamental de interação dos internautas portugueses com o que está 'online'", referindo que só existe um caso na Europa semelhante, na Polónia.O DNRPT25 é produzido anualmente pelo OberCom - Observatório da Comunicação desde 2015, publicado a par do relatório global do RISJ - Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Alexandra Luís, da agência Lusa