O dia em que Lisboa se dedicou às vindimas

Esta foi a primeira vindima aberta ao público que a Câmara de Lisboa organizou, tendo-se inscrito cerca de 120 pessoas de todas as idades.
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Fátima Afonso, de 64 anos, vive em Sintra, mas é natural de Lisboa. Nunca tinha vindimado, apesar de ter um curso de agricultura biológica, e ontem fez a sua estreia na vindima do Parque Vinícola de Lisboa, que dará depois origem a mais uma produção do vinho Corvos de Lisboa. "Prefiro estar aqui e apanhar sol do que estar em casa a ver televisão", conta ao DN.

Esta foi a primeira vindima aberta ao público que a Câmara de Lisboa organizou, tendo-se inscrito cerca de 120 pessoas de todas as idades. Segundo a autarquia avançou ao DN, "em 2022, foram produzidas cerca de 20 mil garrafas, a partir de 5000 quilos de uva branca e 15 000 quilos de uva tinta. Para 2023, prevê-se um aumento de 25% em relação ao ano passado (25 000 quilos de uva)". As castas plantadas são Arinto (branco), Tinta Roriz (tinto) e Touriga Nacional (tinto), numa parceria entre a Câmara de Lisboa e a Casa Santos Lima - esta última explora a vinha, pagando um aluguer à autarquia.

Já com experiência em vindimas numa pequena propriedade familiar em Pombal, João Domingos, de 50 anos, trouxe os filhos - Rafael, de 15, e Maria Teresa, de 13 - para que eles contactassem de perto pela primeira vez com esta realidade. Pelo Parque Vinícola de Lisboa, ontem também andou um grupo de estrangeiros a viver na capital - como o grego Kyriakos Stefanopoulos, um engenheiro que nunca tinha vindimado, e a sul-coreana Tae Kim - mas também jovens do Centro Social Paroquial São Maximiliano Kolbo, em Marvila.

"Nunca nenhum deles tinha tido qualquer tipo de contacto com as vindimas", revelou Vera Vilarinho, acompanhante o grupo, que chegou ao Parque Vinícola de Lisboa com apenas duas tesouras e, perante a azáfama dos miúdos a tentarem tirar os cachos das uvas com as mãos, acabaram por pedir mais utensílios ao pessoal da Câmara de Lisboa e da Casa Santos Lima.

Depois da vindima, o vinho é vinificado na adega da Casa Santos Lima na Quinta da Boavista, em Alenquer. No final do processo, o Corvos de Lisboa é vendido em Portugal - desde restaurantes, a hotéis e hipermercados -, sendo que parte da produção é exportada.

José Luís Santos Lima, bisneto do fundador, que hoje está à frente dos destinos da Casa Santos Lima, confessou ontem ao DN que nunca tinham feito esta vindima tão cedo, o que era "um pouco assustador", porque a este ritmo ainda se chega a um ano em que a vindima será em julho. Mesmo assim, dizia que a edição deste ano estava a correr bem e iria dar bastante vinho.

Segundo dados recentes da Comissão Vitivinícola Regional de Lisboa e do Instituto do Vinho e da Vinha, a região vitivinícola de Lisboa é uma das maiores do país, seja em termos de área, seja em termos de produção - "produzem-se anualmente mais de 65 milhões de garrafas certificadas, das quais 80% são exportadas para mais de 100 países, sendo os vinhos que integram a marca "Vinhos de Lisboa" dos mais premiados do país", de acordo com a autarquia.

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