Calçada de Carriche recebe nota negativa nos dois principais poluentes do ar

Lisboa apresenta níveis de poluição superiores aos aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde. A principal ligação de Odivelas à capital é uma das piores zonas, bem como o terminal de cruzeiros de Santa Apolónia.

Dois dos principais poluentes atmosféricos - o dióxido de azoto e as partículas suspensas PM10 - ultrapassam em Lisboa os níveis de qualidade do ar considerados aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde. Locais como as avenidas 24 de Julho e a Infante Dom Henrique, em Santa Apolónia, estão entre as zonas que apresentam níveis de poluição mais altos por dióxido de azoto, enquanto que a Calçada da Ajuda ou Avenida Fontes Pereira de Melo são dos pontos de Lisboa com maior concentração de partículas suspensas PM10. A Calçada de Carriche, uma das principais entradas de Lisboa e que liga a capital ao concelho de Odivelas, destaca-se pela negativa nos dois parâmetros do estudo.

"Esta é uma das primeiras investigações sobre o concelho de Lisboa, com esta amplitude de dados, para um período anual, na medição dos níveis de dióxido de azoto e das partículas suspensas PM10, entre outros indicadores disponíveis", explica Nuno Nunes, investigador do CIES-ISCTE e um dos coordenadores do estudo, em conjunto com Catarina Ferreira da Silva, investigadora do ISTAR-IUL.

O estudo foi feito com recurso à ciência de dados analisando 80 sensores espalhados por Lisboa entre agosto de 2021 e julho de 2022, "perfazendo um total de 998 895 observações", levando a concluir que certas zonas da capital "excedem os parâmetros aceites pela Organização Mundial de Saúde, nomeadamente nas ciclovias e no terminal de cruzeiros", pode ler-se no documento.

"O Terminal de Cruzeiros de Santa Apolónia, tal como as ciclovias em certas artérias da capital, são áreas com níveis de poluição elevados e prejudiciais à saúde. A investigação em curso corrobora, na sequência de estudos anteriores, o trânsito elevado e o transporte marítimo como fatores determinantes nas situações de poluição registadas no concelho de Lisboa", acrescenta o mesmo documento. O aquecimento residencial e comercial, a construção e a indústria são outras atividades que, segundo os investigadores, contribuem com elementos poluidores, a par de fenómenos naturais como o transporte de poeiras do deserto do Saara.

Os investigadores constaram então que, entre agosto de 2021 e julho de 2022, os valores de dióxido de azoto na cidade de Lisboa foram, em termos médios, de 71,08 μg/m3, muito acima do patamar de 10 μg/m3 definido pela Organização Mundial de Saúde. A Calçada de Carriche, a Alameda da Encarnação, a Avenida 24 de Julho e a Avenida Infante Dom Henrique, em Santa Apolónia, foram as zonas que apresentaram níveis de poluição mais elevados por dióxido de azoto.

"Relativamente às partículas PM10, a OMS define o limite médio diário em 45 ug/m3 e o limite médio anual em 15 ug/m3. Apesar de em nenhum dos sensores utilizados este limite médio diário ter sido excedido em mais de 10% dos dias, o valor médio anual foi de 15,7 μug/m3, ultrapassando ligeiramente o limite definido pela OMS. A Calçada da Ajuda, a Rua dos Sapadores, a Avenida Fontes Pereira de Melo, a Avenida Alfredo Doutor Bensaúde e a Calçada de Carriche são os pontos de Lisboa com maior concentração de partículas suspensas PM10", adianta ainda o grupo de investigadores.

Sobreposição de meios de transporte

Para a equipa responsável por este projeto, o primeiro passo para diminuir a poluição atmosférica em Lisboa passa por uma monitorização periódica da qualidade do ar, recomendando ainda "o alargamento da rede de distribuição de sensores de indicadores de poluição do ar a mais locais".

Aumentar os espaços verdes, alargar o circuito pedonal na cidade e construir e renovar edifícios para que estes adquiram eficiência energética são outras das propostas para diminuir os níveis de poluição atmosférica.

É ainda referido que a Câmara Municipal de Lisboa tem vindo a desenvolver esforços para melhorar a qualidade do ar através da implementação de ciclovias, alterações na rede viária e aumento dos espaços verdes. "No entanto, os utilizadores ativos de meios de transporte ecológicos, ou seja, que adotam práticas de mobilidade amigas do ambiente, estão passivamente expostos a elevados níveis de poluição em algumas zonas de Lisboa, como a Avenida da República, Avenida da Liberdade perto dos Restauradores, Santa Apolónia na Avenida Infante Dom Henrique, e a Avenida 24 de Julho, uma vez que uma densa rede de transportes públicos, metro e comboio, e ciclovias, se sobrepõem a uma densa rede viária onde a poluição é mais elevada", escrevem os investigadores. "Portanto, práticas de mobilidade ecologicamente corretas podem não necessariamente eliminar a exposição prejudicial à poluição", concluem.

ana.meireles@dn.pt

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