Inês de Sousa Real junto a um dos jacarandás com um cartaz de protesto contra Carlos Moedas.
Inês de Sousa Real junto a um dos jacarandás com um cartaz de protesto contra Carlos Moedas.Foto: Gerardo Santos

PAN acusa Moedas de atentado ambiental ao antecipar intervenções nos jacarandás

Vereadora do PCP Ana Jara fala em desrespeito do presidente da Câmara de Lisboa. Quercus diz que “as hipóteses de sobrevivência de uma árvore transplantada são baixíssimas".
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"Procurado por atentado ambiental.” Este é o mote de um cartaz que o PAN prendeu esta quinta-feira a um dos jacarandás que a Câmara de Lisboa prevê transplantar. No mesmo dia, o partido avançou com uma providência cautelar “para que a obra seja travada e para que [o presidente da Câmara] Carlos Moedas possa reavaliar o projeto e garantir” que será encontrada “uma alternativa que não passe nem pelo abate nem pela transplantação das árvores”, confirmou ao DN a porta-voz do partido, Inês de Sousa Real.

O dia tinha começado com vários trabalhadores a escavar um limite à volta de alguns jacarandás na Avenida 5 de Outubro, quando a expectativa, envolta em polémica, era a de que a intervenção - abate ou transplantação - nas 47 árvores daquela zona de Lisboa só começaria na próxima semana, com cinco árvores a serem transplantadas, num total de 22 (20 jacarandás e dois plátanos) que teriam um destino semelhante ao longo do tempo. As outras 25 seriam mesmo abatidas. Esta garantia tinha sido dada na passada terça-feira em conferência de imprensa pela vereadora com o pelouro do Urbanismo na Câmara de Lisboa, Joana Pereira.

Fonte do gabinete de Carlos Moedas, questionada pelo DN sobre o que motivou a antecipação dos trabalhos que estavam apontados para uns dias mais tarde, garantiu que “o que está a ser feito são trabalhos preparatórios e não, em concreto, a retirada de qualquer árvore”. Ainda assim, os fossos que já foram abertos à volta das árvores já implicaram corte de raízes o que, segundo Inês de Sousa Real, pode comprometer a sobrevivência das árvores que serão transplantadas.

De acordo com o que a vereadora Joana Almeida confirmou na conferência de imprensa, hoje decorrerá a primeira de duas apresentações que pretendem “clarificar” o projeto urbanístico para aquela zona, que “vai deixar de ter carros” à superfície, com a construção de um estacionamento subterrâneo, para além de os passeios passarem a ter três metros e estas árvores darem lugar a outras, como pereiras.

Sobre estas árevores em concreto, a líder do PAN explica que “têm uma função ecológica importante” que não será desempenhada tão depressa pelas novas árvores. Quanto à antecipação dos trabalhos, Inês de Sousa Real diz que houve uma “falha no procedimento administrativo, porque os moradores deste eixo tinham de ser notificados em relação ao arranque das obras”, motivo pelo qual, destaca a deputada, “há moradores que estão disponíveis para invocar a figura do embargo extrajudicial da obra”. “Já perguntámos a quem está a fazer a obra, mas recusaram-se a informar quem é o responsável, o que também não nos parece minimamente nem correto. Vamos chamar a Polícia Municipal para que possa proceder à identificação de quem é o responsável pela obra”, prometeu a deputada do PAN.

A Polícia Municipal chegou mais tarde e retirou do local uma mulher que se tinha sentado na zona onde decorriam os trabalhos, com o objetivo de travar a intervenção nos jacarandás.

Entretanto, decorre uma petição pública contra o abate dos jacarandás que já conta com mais de 50 300 assinaturas.

No local onde decorrem os trabalhos, o DN encontrou a vereadora do PCP Ana Jara que, confessou, se deparara “com isto”, sem aviso. “Eu própria não tive notícia, sendo vereadora, e ontem tendo decorrido uma sessão pública de câmara, em que nós indagámos Carlos Moedas sobre esta situação. Isto não foi noticiado”, afirmou Ana Jara, classificando o momento como “uma falta de respeito enorme com a cidade”. “Que fique claro que nós, na câmara, assinalaremos isto e pediremos explicações”, prometeu, antes de sugerir que “esta revolta toda popular deveria ser alvo de uma reflexão da gestão camarária” que serviria o propósito de “esclarecer cidadãos e trabalhar com cidadãos e com este promotor imobiliário que tem preparado aqui um parque de estacionamento por construir”.

Para a vereadora comunista, “esta situação evidencia o colidir dos interesses da promoção imobiliária” com o dos cidadãos.

Sílvia Moutinho: “Transplantar árvores é uma falsa questão. As hipóteses de sobrevivência são baixíssimas”

Numa artéria da cidade tão marcada pelo trânsito e pela poluição, que impacto tem esta medida de abater 25 árvores e transplantar outras 22?

Quando são transplantadas, as árvores adultas raramente sobrevivem. Esta é a primeira grande questão. A questão da transplantação é uma falsa questão, porque sabemos perfeitamente que as hipóteses de sobrevivência dessas árvores são baixíssimas. Depois, os jacarandás são uma imagem icónica de Lisboa e são uma árvore a que as pessoas têm uma grande afeição. É já algo cultural de Lisboa. Além disso, os últimos relatórios mostram que a qualidade do ar em Lisboa é baixíssima por diversos fatores, inclusive as linhas do corredor aéreo, bem como a grande quantidade de automóveis que circulam, e também fazem falta árvores, porque uma coisa compensa a outra. Depois também sabemos que quando vem o verão a vida em Lisboa é mais insuportável do que noutros locais, exatamente pela falta de árvores e de zonas verdes. Isto prova que esta opção de abater ou transplantar para morrer ou com poucas hipóteses de sobrevivência, especialmente os jacarandás. É a pior opção que se pode tomar numa cidade que aquece imenso durante o verão. E que tem problemas de drenagem pois quando chove inunda muito mais rapidamente. Estamos a fazer tudo ao contrário. Isto vai contra todas as indicações europeias.

Paris fechou recentemente várias ruas ao trânsito, para as tornar apenas acessíveis a peões. Por que é que isto não acontece em Portugal, no seu entender?

Isto é uma prioridade da Câmara Municipal de Lisboa. Acho que tem de se perguntar ao senhor presidente [Carlos Moedas] quais as políticas ambientais da Câmara de Lisboa. É uma prioridade dada às empresas de venda de automóveis ou de gasolina, que acha mais importante que o ambiente para os seus cidadãos viverem. Sinceramente, não sabemos. Isto vai contra a corrente que se está a sentir e toda a consciencialização que está a ser feita na Europa por importância das zonas verdes nas cidades para a melhor qualidade de vida.

Que alternativas devia, então, dar a autarquia?

Desde logo, garantir uma efetiva hipótese de mobilidade a todos os cidadãos que vivem na área de Lisboa. A resposta de transportes fora da área de metro, é muito fraca. E as pessoas têm de sair muito cedo de casa para conseguir chegar aos seus empregos, se vierem transporte público, porque realmente não há resposta amiga do ambiente para cobrir áreas com a frequência necessária.

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