O Metro do Porto é uma das maiores redes de metropolitano ligeiro da Europa, com mais de 70 quilómetros de extensão, a que se juntarão mais quase 7 kms da linha Rubi, que vai ligar a Casa da Música a Santo Ovídio, e 3 km da Linha Rosa, que vai assegurar a ligação entre São Bento e a Rotunda da Boavista. Não admira, por isso, que as muitas escavações realizadas para por a obra no terreno tenham revelado muitos artefactos arqueológicos: quase 380 mil . Destes, mais de 13 400 foram recolhidos já na segunda fase, que ainda está a decorrer.Como refere a própria empresa, nos documentos em que explica minuciosamente os achados arqueológicos que foi encontrando durante a primeira fase do projeto, “a construção de um grande projeto como o sistema de metro ligeiro da Área Metropolitana do Porto oferece uma oportunidade para levar a cabo investigações arqueológicas. Tais investigações são um elemento importante da estratégia de minimização ambiental do projeto pela possibilidade de conhecimento oferecida”.. A primeira linha, a azul, entre a Trindade e o Senhor de Matosinhos, foi inaugurada a 7 de dezembro de 2002, mas as obras tiveram início em 1999, com a instalação do primeiro estaleiro em Campanhã. E foi na zona do Campo 24 de agosto que foi encontrado o maior achado da primeira fase: a Arca d’Água de Mijavelhas, que viria a ser integrada precisamente na estação do Campo 24 de agosto.Uma integração que foi possível porque a estação não estava ainda desenhada à data. Esta ficou a cargo do arquiteto Souto Moura, que a pensou e delineou já em função do achado. “Não é à posteriori que se decide onde vamos meter peças desta envergadura”, refere Iva Teles Botelho, arqueóloga da Metro do Porto, SA, que explica minuciosamente o processo de análise e decisão. As escavações mostraram a Arca de Mijavelhas, que já se sabia que seria do século XVI e que fazia parte do sistema de abastecimento de águas à cidade. Mas o que foi encontrado era muito mais do que o esperado, com dois tanques, um deles com degraus, e uma zona pavimentada com, pelo menos, uns 300 metros quadrados. Tudo em pedra.. A concretização final, e que pode ser vista na estação do metro por quem for com tempo e vontade de apreciar as relíquias, acabou por contemplar o lageado, mais o tanque, com os degraus, rebaixados, numa reinterpretação do que seria a Arca d’Água original. “Tudo isto é muito complicado. É como se fosse uma caixa de legos. Ora se faz o pintainho, o galo ou o cão, mas é preciso fazer opções. E ali havia muitas opções. Cheguei a pensar colocar apenas [peças do] século XVI, mas não seria, de qualquer forma, igual ao original. O resultado final é uma reinterpretação. Não era assim que estava à época, mas é assim que tem de ser visto. No limite, o que fica é a conservação pelo registo científico, com os desenhos e a interpretação”, refere a arqueóloga.Nos Aliados, já no âmbito da obras da Linha Rosa, foi encontrado o achado de maior imponência, a Fonte da Natividade, que já se sabia existir, mas que se pensava ser muito menor do que efetivamente é. O achado, do século XVII, ocupa uma área estimada de 650 metros quadrados e contempla, ainda, vestígios da muralha fernandina.As pedras foram todas retiradas e devidamente numeradas para uma futura musealização, tendo sido colocadas no Parque de Manutenção e Oficinas do Metro do Porto, em Guifões. O local onde se fará essa instalação é algo ainda por definir, sendo garantido que nos Aliados não há espaço para isso. A sua dimensão impede, também, que possa ficar numa estação de metro, a exemplo do que foi feito no Campo 24 de Agosto com a Arca de Mijavelhas. A hipótese de a instalar no Jardim de Sophia, na Praça da Galiza, está também posta de parte, já que a laje de cobertura da estação que aí está a ser construída não tem capacidade para suportar o peso da Fonte da Natividade.“Estamos à espera que seja definido pela Câmara Municipal do Porto, juntamente com a tutela, o local onde poderá ser feita a remontagem ou a colocação deste espólio. De parte ou todo”, diz a diretora do Gabinete de Ambiente, Segurança e Qualidade da Metro do Porto. Ana Paula Gonçalves assume que a solução terá sempre que ser tomada pela tutela, e que a Metro do Porto “compromete-se a cumprir aquilo a que está obrigada, que é manter os achados arqueológicos no sítio, ou, não sendo possível, entregá-los a quem de direito para depois proceder à remontagem”. . Questionada a Câmara do Porto, o Diário de Notícia não recebeu qualquer resposta. Na altura em que a descoberta ocorreu, a autarquia dizia estar a estudar “um conjunto de opções”.Nesta segunda fase de expansão do Metro do Porto em curso, já não são esperadas grandes descobertas adicionais. “Na Linha Rosa já se sabia, à partida, que estávamos numa zona com potencial arqueológico muito grande. Na linha rubi, o traçado já não indiciava que houvesse um potencial tão grande. O que veio a confirmar-se. Tivemos pouquíssimas coisas ou nenhumas, do lado do Porto. Da parte de Gaia, sim. Encontrámos vestígios da antiga fábrica do Cavaquinho, que também sabíamos que existia. Deu origem a uma escavação em área e à identificação de um forno que foi retirado e que depois também será remontado, numa estrutura muito mais pequena”, explica Ana Paula Gonçalves. Onde será exposto o forno, é algo ainda por definir. À equipa da Metro do Porto coube a recolha e a elaboração do relatório que será enviado à tutela. A discussão sobre o que fazer com o achado é algo a definir pela autarquia e pela CCDR-N.Refira-se que, dos mais de 380 mil artefactos encontrados, as peças mais antigas remontam ao século XIV antes de Cristo e foram descobertas na zona de Azurara, durante a construção da linha vermelha, entre a Póvoa de Varzim e o Estádio do Dragão. Em causa estão cerâmicas e líticos - pedras antigas trabalhadas - que foram entregues à Câmara Municipal de Vila do Conde, estando já uma parte delas expostas. O vestígio mais recente foi encontrado já na obra da Linha Rosa, cujas obras ainda decorrem. Trata-se de um serviço de porcelana da Vista Alegre, datado do século XIX, e encontrado na zona da Avenida dos Aliados. Ainda no âmbito desta empreitada, mas na Praça Parada Leitão, indica a Metro do Porto, SA, que foi encontrada uma moeda de 1 euro, do ano 2002. Não podendo considerar-se propriamente uma relíquia arqueológica, não deixa de ser o achado mais recente.