Há mais de 20 anos no terreno, o projeto Horta à Porta continua a despertar interesse nos habitantes do Grande Porto. Há atualmente 3269 pessoas inscritas à espera que lhes seja atribuído um talhão para cultivarem em modo de produção sustentável. A Lipor e os oito municípios associados que, em 2003, lançaram o projeto estão a preparar respostas, que passam pelo aumento do número de hortas, mas também pela agricultura sintrópica e, até, pela utilização de espaços alternativos, como terraços.O Porto, concelho onde a lista de espera é maior (mais de 1000 inscritos), prevê abrir em setembro a Horta Senhora do Porto, disponibilizando mais uma dezena de talhões aos munícipes. No início deste ano, a autarquia entregou à cidade a nova Horta de Paranhos, com 31 parcelas para cultivo, depois da obrigatória relocalização do espaço devido à criação de um novo arruamento. “Há uma grande adesão” e, por isso, “estamos constantemente a promover mais espaços destes”, sublinha fonte oficial.A analisar a criação de novas hortas estão também Maia e Matosinhos, os outros dois concelhos com mais interessados em explorar a agricultura biológica, respetivamente 608 e 918 inscritos a aguardar um talhão. Mas não só. Como frisa José Manuel Ribeiro, presidente do conselho de administração da Lipor, “todos os municípios manifestam intenção de alargamento da rede” e “estão, constantemente, à procura de novos espaços”.No entanto, os terrenos “têm de estar aptos, em termos de segurança alimentar, para o cultivo de alimentos”, lembra José Manuel Ribeiro. Por isso, o projeto está disponível para integrar outros modelos de cultivo, como o caso da Horta em Modo Sintrópico, que vai nascer junto à Lipor II, ou hortas em terraço. A agricultura sintrópica permite recuperar solos pouco férteis através da associação de diferentes culturas no mesmo espaço.Nos oito municípios associados da Lipor (Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde) existem 61 hortas ativas (em instituições, terrenos municipais e espontâneas), 2172 talhões cultivados e uma área de cultivo de 15,7 hectares, segundo os dados da gestora de resíduos urbanos do Grande Porto. Esta atividade envolve 31 parceiros, entre autarquias, juntas de freguesia, faculdades, instituições e empresas. É no concelho do Porto que há mais área atribuída à agricultura urbana, um total de 45 426 metros quadrados.Se no início deste projeto foram as pessoas mais velhas, nomeadamente reformados, as mais atraídas pela terra, hoje são, “cada vez mais, jovens adultos”, diz José Manuel Ribeiro. Chegam motivados pelo contacto com a natureza, equilíbrio mental ou emocional, mas também para socializar, ocupar os tempos livres e por preocupações com a alimentação, adianta.Mas, antes de pôr as mãos na terra, os hortelões têm obrigatoriamente de fazer uma formação ministrada pela Lipor em agricultura sustentável. Depois, já com o talhão atribuído, são apoiados no processo por técnicos da gestora. Há sessões de esclarecimento, momentos de partilha de informação, monitorizações e acompanhamento presencial. Existe também a figura do Pivot, que é assumida por um elemento da horta para ser o interlocutor direto com a Lipor, de forma a facilitar a comunicação em situações mais emergentes. Na filosofia do projeto, inscreve-se a autonomia e entreajuda dentro da horta, através da partilha de conhecimento, sementes e alimentos.Segundo José Manuel Ribeiro, o projeto Horta à Porta tem permitido fomentar a compostagem caseira (prática que permite reciclar na origem os biorresíduos e a reintrodução da matéria orgânica nos solos), promover o espírito de comunidade, desenvolver práticas de agricultura mais sustentável, consciencializar sobre a importância da sazonalidade dos produtos agrícolas e a preservação dos solos, e reconverter espaços, incentivando a biodiversidade e o contacto com a natureza.O projeto é apoiado financeiramente pelas autarquias associadas e pela Lipor. A gestora dos resíduos urbanos do Grande Porto já aplicou mais de 1,2 milhões de euros desde 2003. Como afirma o presidente do sistema, foram “cerca de 60 mil euros anuais, ao qual acresce o valor de investimento dos municípios ou de outros parceiros em obras, infraestruturas e recursos humanos”.