Uma casa digna e a preço acessível são condições essenciais para garantir um envelhecimento saudável, concluiu um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que envolveu 600 residentes na Invicta com idades iguais ou superiores a 60 anos. Infiltrações, humidade, falta de luz natural, um ambiente de poluição e violência nas proximidades, e também sobrecarga com custos habitacionais são fatores que retiram qualidade de vida. Também aumentam a solidão e impactam negativamente as funções cognitivas..A investigação revelou que mais de metade dos participantes (52,3%) não tem aquecimento em casa, 17,2% vive com problemas como infiltrações, humidade ou apodrecimento das janelas ou do soalho e 8% relata falta de luz natural. No exterior da habitação, o ruído dos vizinhos ou da rua afeta 32,8% dos inquiridos e 17,5% reside em zonas com poluição, sujidade, mau cheiro ou outros problemas ambientais. Quase 12% referiram ocorrências de crime, violência ou vandalismo perto da sua residência. Há ainda a destacar que 28,3% gastam 40% ou mais do seu rendimento com a habitação..Com base neste retrato, a análise procurou estabelecer uma relação entre condições habitacionais e a qualidade de vida, a solidão, a função cognitiva, a perceção do envelhecimento saudável e a qualidade do sono. Segundo Cláudia Jardim Santos, primeira autora do estudo, foi possível concluir que a falta de um espaço habitacional acolhedor e em bom estado gera deficiências ao nível dos marcadores referidos, com especial incidência na qualidade de vida e na solidão..Este contexto parece enquadrar uma população economicamente mais desfavorecida. A autora reconhece que condições habitacionais precárias ou sobrecarga financeira tendem a ser mais comuns em contextos sociais mais desfavorecidos, mas faltam dados “específicos para comparar diretamente a situação entre habitações sociais e privadas ou entre classes sociais mais altas e mais baixas”..Ainda assim, o relatório identifica uma variável que pode servir como indicador indireto da situação socioeconómica: a sobrecarga com os custos habitacionais (situação em que 40% ou mais do rendimento familiar está alocado a despesas relacionadas à habitação). E este marcador permitiu concluir que os adultos mais velhos nesta situação “apresentam uma qualidade de vida inferior e níveis mais elevados de solidão”..Os resultados mostraram ainda que a ausência de instalações sanitárias dentro da habitação, como sanita e banho/duche, e a saída forçada da casa estão associados a um desempenho cognitivo inferior. Já a perceção de envelhecimento saudável foi menor entre os residentes em áreas com poluição e violência/criminalidade/vandalismo, assim como entre aqueles que mudaram frequentemente de residência..A investigadora realça que o fenómeno da gentrificação pode também ser um contributo para “o aumento da solidão e do isolamento social, fatores que estão associados a impactos negativos na saúde mental e no bem-estar geral”. Como refere, “a transformação do comércio local e das infraestruturas de forma a atender os interesses das populações mais jovens pode excluir os mais velhos, dificultando o acesso a bens e serviços adequados às suas necessidades”. Também “a perda de espaços comunitários e a sensação de alienação das suas áreas de residência pela transformação do espaço podem contribuir para o aumento da solidão”..Para um envelhecimento saudável, “é essencial implementar políticas públicas que garantam acesso a habitações estáveis, seguras, adequadas e economicamente acessíveis”, defende a investigadora. Na sua opinião, são necessários programas que financiem ou facilitem as necessárias reparações e adaptações nas residências, políticas que incentivem a construção de habitações acessíveis, especialmente para populações de baixos rendimentos, e regulamentação que proteja os arrendatários de práticas abusivas por parte de proprietários.