Zelensky quer "posição forte" de Portugal. Costa diz ter dado "todo o apoio"

Líder ucraniano censurou a Hungria de Viktor Orbán por não alinhar com o resto da UE. Mas também apontou o dedo a outros.
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Durante a sua alocução ao Conselho Europeu, na quinta-feira, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky comentou a forma como vê a posição de cada uma das 27 lideranças à possibilidade de adesão da Ucrânia à UE através de um processo mais rápido. Em relação a Portugal (à semelhança da Irlanda) gastou duas palavras: "Bem, quase". A embaixadora ucraniana Inna Ohnivets, chamada a esclarecer as palavras do seu chefe de Estado, disse à Rádio Renascença que os ucranianos "gostariam de ter uma posição mais forte do Partido Socialista" e um "apoio forte e claro" por parte do executivo português.

"Estamos à espera de uma posição mais ativa do governo português nesta questão. Temos a informação de que o governo português está disposto a apoiar quando os outros países membros da União Europeia conseguirem o consenso, mas na nossa opinião, atualmente, seria melhor definir mais claramente a sua posição", disse Ohnivets à Renascença.

Em Bruxelas, à saída do segundo dia do Conselho Europeu, o primeiro-ministro António Costa afirma não ter ouvido de Zelensky que Portugal "quase" apoia o seu país. E respondeu que Portugal tem prestado "todo o apoio à Ucrânia que é necessário", tanto a nível humanitário, como a nível de fornecimento de equipamento militar, embora não tenha aclarado a questão sobre o apoio ao estatuto de Kiev como candidata à adesão à UE.

No dia 10, em declarações na cimeira europeia em Versalhes, António Costa não alinhou com a ideia de uma adesão expresso ao clube europeu, explicando que a Ucrânia "precisa de uma resposta urgente e efetiva", para a qual "é preciso ser imaginativo" e não de um processo "necessariamente demorado, necessariamente incerto". Costa lembrou que Portugal entregou o pedido de adesão em 1977 e esta só se realizou em 1986 e que "há países que estão há anos e anos e anos a negociar e ainda não conseguiram a adesão".

Michéal Martin, chefe de governo da República da Irlanda - que recebeu palavras similares -, também não viu nas palavras de Zelensky uma crítica à falta de apoio. "Isso não terá sido a minha leitura." Em comunicado à RTE, a embaixada ucraniana em Dublin apoiou o governo irlandês, ao declarar que a Irlanda está "literalmente na frente dos países europeus" no que se refere ao "apoio impressionante e pragmático", embora não tenha particularizado sobre a questão do apoio a um processo expedito de adesão à UE.

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Além de Irlanda e Portugal, Zelensky deixou notas similares a outro par de estados, Espanha e Bélgica. "Encontraremos argumentos", disse ao primeiro-ministro Alexander De Croo; "Encontraremos uma língua comum", disse a Pedro Sánchez, que propôs um modelo alternativo de "vizinhança".

Também mereceu reparos a posição do neerlandês Mark Rutte, que se opõe a um "processo político" de adesão à UE que ao mesmo tempo poria em risco a estabilidade dos Balcãs, onde Albânia e Macedónia do Norte aguardam a vez. "Países Baixos são sinónimo de racionalidade e encontraremos uma base comum." A Alemanha de Olaf Scholz mereceu uma longa pausa dramática, para dizer "Um pouco tarde", referindo-se à mudança de posição em relação ao gasoduto Nord Stream 2, bem como ao envio de armamento.

Para o fim deixou a crítica aberta ao primeiro-ministro húngaro Orbán. "Ouve, Viktor, sabes o que se passa em Mariupol? De uma vez por todas, é preciso decidir com quem se está", disse, instando o líder nacionalista a expandir as sanções, a deixar passar armas para a Ucrânia e cortar os laços comerciais com a Rússia. O porta-voz do governo húngaro disse que "as exigências" de Zelensky foram "rejeitadas porque são contrárias aos interesses da Hungria".

cesar.avo@dn.pt

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