Volodymyr Zelensky queria saber os pormenores da conversa da véspera entre Donald Trump e Vladimir Putin e obteve-os durante uma chamada de uma hora com o presidente norte-americano. O líder ucraniano transmitiu o seu acordo para um cessar-fogo limitado às infraestruturas energéticas, como foi aceitado pela Rússia, e pediu um reforço das defesas aéreas “para salvar vidas”. Sobre a segurança energética, o presidente dos EUA sugeriu que o seu país ficasse proprietário das centrais elétricas e nucleares ucranianas como forma de proteção. Já o seu amigo e enviado especial Steve Witkoff disse esperar um cessar-fogo total em duas semanas.Quer Trump, numa mensagem na rede Truth Social, quer Zelensky, na rede X, destacaram o sucesso da conversa - um dado importante a ter em conta depois da debacle da reunião do fim do mês passado na Casa Branca. “Muito boa conversa telefónica”, disse Trump. “Estamos no bom caminho”, afirmou numa mensagem sem maiúsculas nem pontos de exclamação, como é sua marca. “Uma conversa positiva, substancial e franca”, segundo Zelensky. O resumo da “fantástica conversa telefónica”, segundo o secretário de Estado Marco Rubio e o conselheiro Mike Waltz, destacou a concordância dos líderes em que ambos os países “continuarão a trabalhar em conjunto para pôr um fim efetivo à guerra e que é possível alcançar uma paz duradoura”. O documento lido pela porta-voz da Casa Branca deu conta de alguns pormenores. Por exemplo, Washington reafirmou que vai continuar a partilhar informações de defesa “à medida que a situação no campo de batalha evolua”. Se Zelensky escreveu que tinha discutido o “estado da defesa aérea da Ucrânia” e a hipótese de esta ser reforçada, o texto de Rubio e Waltz especificou que o ucraniano “pediu sistemas de defesa aérea adicionais para proteger os seus civis, em particular sistemas de mísseis Patriot”. Ao que disseram, Trump “concordou em trabalhar com ele para encontrar o que estava disponível, particularmente na Europa”. Segundo a Business Insider, a Ucrânia tem seis sistemas oriundos dos Países Baixos, Alemanha e EUA. No ano passado, Kiev disse ter identificado cem sistemas Patriot disponíveis mundo fora, e Zelensky chegou a pedir para receber 25, mas os parceiros e aliados, em particular os europeus, sentem estar “no limite” do que podem enviar, disse àquela publicação o general australiano Mick Ryan. No documento lido por Karoline Leavitt refere-se que Trump e Zelensky “também concordaram com um cessar-fogo parcial contra a [infraestrutura de] energia” e que “nos próximos dias, equipas técnicas reunir-se-ão na Arábia Saudita para discutir o alargamento do cessar-fogo ao Mar Negro, com vista a um cessar-fogo total”. Este pode ser “o primeiro passo para o fim total da guerra e para garantir a segurança”. Foi também matéria de discussão a segurança energética da Ucrânia. “[Trump afirmou que os Estados Unidos poderiam ser muito úteis no funcionamento dessas centrais com a sua competência no domínio da eletricidade e dos equipamentos. A propriedade norte-americana dessas centrais seria a melhor proteção para essas infraestruturas”, disse o comunicado. Não se descortinou qualquer comentário de Zelensky sobre o tema. Para Kiev o destino da maior central nuclear da Europa, Zaporíjia, nas mãos russas desde o início da invasão, é um tema fulcral.Em conferência de imprensa conjunta com o presidente finlandês Alexander Stubb, Zelensky pronunciou-se sobre o que será inaceitável para si nas futuras negociações. “Para nós, a ‘linha vermelha’ é o reconhecimento dos territórios temporariamente ocupados da Ucrânia como sendo russos. É algo que não vamos aceitar.” Mas o mais importante é “não perder a independência e a soberania”. Disse também não aceitar discutir a configuração das suas forças armadas nem “garantias de segurança económica”, que para Kiev é a União Europeia. No domingo irá decorrer uma segunda ronda de conversações entre os EUA e a Ucrânia em Jidá, Arábia Saudita. Witkoff, o enviado especial norte-americano, disse em entrevista à Bloomberg que espera um cessar-fogo total nas próximas duas semanas.