Zelensky: "Devolvam-nos as nossas armas nucleares" em troca de adiamento de adesão à NATO
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, defendeu esta terça-feira que o adiamento da adesão do seu país à NATO exige a devolução a Kiev das armas nucleares que foram renunciadas em 1994 em troca de garantias de segurança.
"Se o processo de adesão à Aliança [Atlântica] se arrastar durante anos ou décadas - não por causa da Ucrânia, mas por causa dos seus parceiros - a Ucrânia pergunta-se, com razão: o que nos protegerá deste mal [Rússia] durante todo este tempo?", questionou Zelensky, segundo um excerto publicado na rede X de uma entrevista ao jornalista britânico Piers Morgan.
Questionado se tinha um plano B para o adiamento da adesão à NATO, o líder ucraniano sugeriu que, nesse caso, os aliados de Kiev deveriam fornecer um número suficiente de mísseis e até devolver armas nucleares, além de ajudar a financiar um Exército de um milhão de homens para travar a Rússia.
"Devolvam-nos as nossas armas nucleares, deem-nos sistemas de mísseis, ajudem-nos a financiar um exército, movam as vossas tropas para as partes do nosso estado onde queremos que a situação seja estável", declarou Zelensky, numa alusão ao chamado Memorando de Budapeste, que em 1994 implicou a entrega daquele armamento a Moscovo, em troca de garantias de segurança das principais potências mundiais, incluindo a Rússia.
Noutro ponto do excerto da entrevista, o presidente ucraniano exigiu também que a Rússia pague uma compensação financeira pelos danos causados durante a invasão do seu país, iniciada em 24 de fevereiro de 2022.
Bastante crítica" situação de subestações elétricas que alimentam centrais nucleares, diz AIEA
O diretor-geral da Agência da Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, considerou esta terça-feira como "bastante crítica" a situação das subestações elétricas ucranianas das quais depende o funcionamento das centrais nucleares que Kiev continua a explorar.
"Visitámos nove subestações que são de importância crítica para o funcionamento e segurança das centrais nucleares. E, obviamente, a situação é bastante crítica", avaliou Grossi, citado num comunicado divulgado pelo Ministério da Energia ucraniano.
Grossi deslocou-se hoje à Ucrânia para visitar, entre outras instalações, uma subestação elétrica na região de Kiev que foi danificada num dos sucessivos ataques de mísseis e drones russos no âmbito do conflito que dura desde fevereiro de 2022.
De acordo com o comunicado governamental, Grossi indicou que, apesar de serem fundamentais para alimentar a rede elétrica nacional, as centrais nucleares precisam de eletricidade para funcionar corretamente.
"Quando não recebem (eletricidade), a segurança da central está em risco e isso pode levar a um acidente", alertou.
Grossi acordou no ano passado com o Presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, acompanhar de perto a situação nas subestações atacadas pela Rússia que fornecem eletricidade às centrais nucleares ucranianas, visando dar recomendações baseadas na experiência de outros países.
Nas visitas de hoje, Grossi foi acompanhado pelo ministro da Energia ucraniano, Herman Galushchenko, e pelos diretores das empresas públicas de eletricidade e energia nuclear da Ucrânia.
A propósito da sua visita à subestação na região de Kiev, o responsável escreveu na rede social X (antigo Twitter) que "um acidente nuclear pode ser causado por um ataque a uma central atómica, mas também pela interrupção do fornecimento de eletricidade".
Citadas pela agência noticiosa EFE, fontes do setor elétrico explicaram como a Rússia tem atacado recentemente subestações localizadas relativamente perto de centrais nucleares para prejudicar a distribuição da eletricidade produzida nas centrais atómicas, que são a principal fonte de produção de eletricidade da Ucrânia.
Os ataques têm causado preocupação entre os especialistas, quer pela possibilidade de um míssil ou drone atingir as próprias centrais nucleares, como pelo facto de os impactos nas subestações poderem afetar o fornecimento de energia necessário para o seu funcionamento.
Grossi anunciou hoje que tem previsto visitar a Rússia ainda esta semana, para abordar a situação na central ucraniana de Zaporijia, sob ocupação das tropas russas.
Segundo o responsável, esta visita permite "manter os canais de comunicação constantes" entre as partes e evitar assim possíveis acidentes nucleares.