Zelensky participou à distância no Conselho Europeu.
Zelensky participou à distância no Conselho Europeu.Alexandros MICHAILIDIS / UNIÃO EUROPEIA

Zelensky alerta que nada mudou e pede à UE 5 mil milhões para munições

À exceção da Hungria, Conselho Europeu reitera apoio financeiro e militar à Ucrânia. Pedido do líder ucraniano e da chefe da diplomacia europeia ficou sem resposta concreta.
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Numa declaração cuja unanimidade voltou a ser furada pela Hungria, o Conselho Europeu comprometeu-se em continuar a apoiar a Ucrânia de forma financeira e militar. Durante a reunião em Bruxelas, o presidente ucraniano fez um pedido específico de munições num total de 5 mil milhões de euros, mas nada saiu de concreto da reunião. Em Inglaterra, o primeiro-ministro Keir Starmer recebeu mais de 25 chefias militares para aprofundar os moldes da coligação de voluntários para um cenário de pós-guerra.

Os líderes de alguns dos maiores países europeus voltam à mesa em Paris, na próxima semana, com a presença de Volodymyr Zelensky. O líder ucraniano, ao falar aos líderes dos 27 em videoconferência, disse que a situação “não mudou nada” desde a intenção manifestada pela Rússia num cessar-fogo às instalações energéticas e disse que Vladimir Putin deve pôr fim às “exigências inúteis”. Pediu para que a UE não levante as sanções e um apoio específico para armamento. Sobre as sanções, o comunicado dos 26 garantiu que a UE está pronta “aumentar a pressão”, seja através de mais um pacote punitivo, seja através de afinar as sanções existentes.

Quanto aos 5 mil milhões para munições, o documento apela aos Estados-membros para que “intensifiquem urgentemente os esforços no sentido de dar resposta às prementes necessidades militares e de defesa da Ucrânia” e lembra as iniciativas da chefe da diplomacia, Kaja Kallas. Esta, ao chegar à reunião, reconheceu que o seu plano para financiar a Ucrânia com 40 mil milhões de euros para 2025 em termos militares está longe de reunir consenso, pelo que pediu agora para os líderes concordarem com um “plano realista” de 5 mil milhões de euros para 2 milhões de munições.

O PM britânico visitou um submarino nuclear e horas depois dirigiu-se à base militar de Northwood, onde chefes militares de mais de 25 países se reuniram para discutir os planos para uma missão na Ucrânia.
O PM britânico visitou um submarino nuclear e horas depois dirigiu-se à base militar de Northwood, onde chefes militares de mais de 25 países se reuniram para discutir os planos para uma missão na Ucrânia.Conta X de Keir Starmer

Ao dirigir-se às chefias militares reunidas na base de Northwood (oeste de Londres), o chefe do governo britânico disse que os planos da coligação de voluntários “estão a tomar forma”. Além disso, defendeu a decisão de o fazer neste momento: “Se houver um acordo de cessar-fogo], agora é o momento de planear. Não é depois de se chegar a um acordo.”

A necessidade de a Europa se rearmar em velocidade de cruzeiro leva a um multiplicar de iniciativas. A urgência do tema levou a que a presidente da Comissão Europeia apresentasse na quarta-feira o Livro Branco da Defesa, plano para atingir 800 mil milhões de euros em despesas militares até 2030, dos quais 150 mil milhões de euros junto dos Estados-membros sob a forma de empréstimos para financiar projetos de aquisição e investimento na Europa.

O plano foi aprovado no Conselho Europeu com o recurso a um instrumento de exceção (artigo 122.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia) que o isenta de ser discutido e aprovado no Parlamento Europeu, o que levou a sua presidente, Roberta Metsola, criticar a falta de escrutínio. “Por que razão haviam de procurar uma solução que contorna o vosso melhor aliado nesta matéria, em que as maiorias são claras? É um ponto partilhado unanimemente, muito raramente, por todos os grupos políticos do Parlamento”, afirmou a maltesa.

Metsola disse compreender o grau de urgência, mas lembrou que as reformas introduzidas nos procedimentos permitem que certas iniciativas possam ter prioridade e serem tratadas de forma expedita. A presidente do PE disse que a Comissão não pode “esconder-se atrás da desculpa de que o Parlamento demora demasiado tempo a tomar decisões”.

E de Bruxelas vieram duas propostas. O Partido dos Socialistas Europeus defendeu em declaração o lançamento de obrigações europeias para a defesa. “A UE deve desenvolver um instrumento financeiro europeu para impulsionar o investimento e as capacidades no domínio da segurança e da defesa através de uma dívida europeia comum”, lê-se. A ideia não é nova, mas está a ganhar terreno. No mesmo dia, o Partido Popular Europeu abriu a porta a essa hipótese. Em comunicado, o PPE sugere instrumentos financeiros adicionais como instrumentos de dívida comuns “se necessário, desde que estejam claramente centrados no reforço da defesa europeia”.

Em França, os ministros da Economia e da Defesa reuniram-se com empresários da indústria e investidores para discutirem formas de financiamento suplementares. O ministro Éric Lombard instou os cidadãos a participarem em produtos financeiros que vão ser lançados por bancos no esforço da reindustrialização da Defesa. O Canadá, cujo novo primeiro-ministro, Mark Carney, rompeu com a tradição ao fazer a primeira viagem à Europa e não ao país vizinho, está em vias de fazer parte desse esforço. Depois de ter sido noticiado que Carney suspendeu o processo de aquisição de 88 aviões F-35 aos EUA, à Associated Press fontes de Otava explicam que o objetivo é procurar alternativas na Europa, e de preferência com contratos que permitam o fabrico de aviões e de armamento no Canadá.

Destruição e diálogo

Ataque a base aérea

Nas primeiras horas de quinta-feira, um ataque de aeronaves não-tripuladas ucranianas atingiu a Base Aérea de Engels, na região russa de Saratov. Explosões foram vistas num raio de quilómetros. Segundo Kiev, o ataque terá atingido um depósito com mísseis de cruzeiro Kh-101, que são usados pelos bombardeiros estratégicos. De acordo ainda com as fontes ucranianas, Engels é a base onde as forças russas albergavam mais mísseis usados pela aviação contra a Ucrânia. Além disso, foi também noticiado um ataque a uma refinaria. As autoridades russas reportaram dez feridos e declararam o Estado de Emergência na região.

Ataque a civis

O lado russo atacou localidades nas regiões de Sumy e Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, com dezenas de bombas planadoras, tendo matado dois civis em Krasnopillia. Além disso, um ataque com drones a Kropyvnytskyi, no centro do país, destruiu dezenas de habitações e fez 14 feridos.

Conversações a dobrar em Riade

A segunda ronda de conversações entre os Estados Unidos e a Rússia vai realizar-se na segunda-feira, em Riade, disse Yuri Ushakov, conselheiro diplomático de Política Externa do Kremlin. A representação russa é chefiada pelo presidente da Comissão de Assuntos Internacionais do Senado Grigory Karasin, e pelo conselheiro do diretor do FSB Sergei Beseda. Mais tarde, o presidente ucraniano anunciou que a nova etapa de conversações com os EUA também vai decorrer no mesmo dia e cidade saudita, mas em paralelo com a reunião russo-americana.

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