Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
Volodymyr Zelensky, presidente da UcrâniaDaniel ROLAND / AFP

Zelensky aberto a receber tropas ocidentais em acordo para fim da guerra

"Mas antes disso, devemos ter uma compreensão clara de quando a Ucrânia estará na União Europeia e quando estará na NATO", frisou Zelensky.
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O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky manifestou-se esta segunda-feira aberto ao possível envio de tropas ocidentais para a Ucrânia para garantir a segurança do país, como parte de um amplo esforço para terminar a guerra com a Rússia.

Esta implantação seria um passo para a adesão da Ucrânia à NATO, realçou Zelensky, numa publicação no seu canal na rede social Telegram.

"Mas antes disso, devemos ter uma compreensão clara de quando a Ucrânia estará na União Europeia e quando a Ucrânia estará na NATO", frisou Zelensky.

As suas propostas seguem um caminho diplomático delicado no meio dos esforços internacionais para encontrar uma forma de pôr fim ao maior conflito da Europa desde a Segunda Guerra Mundial, numa altura em que a Rússia ganhou vantagem nos combates.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, procura um cessar-fogo e reuniu-se com Zelensky em Paris no sábado.

Mas Zelensky disse hoje que iria abordar o presidente cessante dos EUA, Joe Biden, sobre a possível adesão da Ucrânia à NATO porque ainda está em funções, enquanto Trump ainda não tem "direitos legais" para decidir sobre o assunto.

"Ele quer um cessar-fogo", referiu Trump sobre Zelensky, em declarações ao New York Post publicadas no domingo, acrescentando que não abordou detalhes com o governante ucraniano.

"Estou a formular um conceito de como acabar com esta guerra ridícula", garantiu, referindo ainda que as forças de Putin estão a sofrer pesadas perdas na Ucrânia.

Zelensky diz que Putin apenas teme Trump e talvez a China

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky revelou, entretanto, que transmitiu a Donald Trump, no encontro em Paris, que Vladimir Putin apenas teme o presidente norte-americano eleito e, talvez, a China, pedindo união para terminar a guerra com a Rússia.

"Eu disse ao presidente Trump que [Vladimir] Putin só teme" o presidente eleito dos EUA "e, talvez, à China". "E esta é a verdade: só a determinação pode levar esta guerra a um fim justo e garantir uma paz duradoura", destacou Zelensky, numa mensagem na rede social X.

O governante ucraniano começou a publicação a abordar a "discussão nos media" sobre a redução da idade de recrutamento para os ucranianos serem enviados para a linha da frente, defendendo que o foco deve estar em "equipar as brigadas existentes e formar pessoal para utilizar este equipamento".

"Não devemos compensar a falta de equipamento e de formação junto dos jovens militares", frisou.

"A prioridade deveria ser o fornecimento de mísseis e a redução do potencial militar da Rússia, e não a idade de recrutamento da Ucrânia. O objetivo deveria ser o de preservar o maior número de vidas possível e não o de preservar as armas em armazéns", acrescentou.

Num apelo à união, Zelensky abordou a reunião de sábado com o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, e o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, insistindo que está foi "muito produtiva".

"Reitero a minha gratidão ao Presidente Macron por a ter organizado, bem como a minha profunda gratidão ao Presidente Trump pela sua forte determinação em levar esta guerra a um fim justo", sublinhou.

Para Zelensky, para um fim justo "é importante que todos os detalhes sejam cuidadosamente elaborados para garantir que a paz é verdadeiramente duradoura".

"Sabemos que a América tem a capacidade de realizar coisas notáveis - coisas que outros não conseguiram alcançar. Para conseguirmos pôr fim a esta guerra, precisamos de unidade - a unidade da América, da Europa e de todas as pessoas do mundo que valorizam a segurança - bem como de posições fortes e de garantias de paz", apontou.

Donald Trump apelou no domingo a um "cessar-fogo" imediato na Ucrânia e ao início de negociações para pôr fim à guerra iniciada pela Rússia contra aquele país.

Horas depois de se ter reunido em Paris com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, num encontro no Palácio do Eliseu, em Paris, com o Chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, Trump enviou uma mensagem através da sua rede social Truth Social sobre a sua opinião sobre o conflito.

O Presidente eleito norte-americano tem afirmado repetidamente que pretende distanciar-se fortemente da política de apoio norte-americana a Kiev, liderada por Joe Biden, perante a invasão russa da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

O Kremlin acusou hoje o Volodymyr Zelensky de "recusar negociar" com Vladimir Putin o fim do conflito na Ucrânia, exigindo mais uma vez que Kiev tenha em conta "as realidades no terreno".

A presidência russa tomou nota do apelo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para um cessar-fogo imediato na Ucrânia e o início de negociações para pôr fim à guerra, mas não acredita que Kiev queira negociar, disse hoje o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

As possibilidades de a Ucrânia aderir à aliança militar da NATO, que conta com 32 nações incluindo Portugal, e de tropas ocidentais ficarem estacionadas no seu solo têm sido questões profundamente divisórias e controversas desde que a invasão em grande escala da Rússia começou, em 24 de fevereiro de 2022.

Na sua cimeira em Washington, em julho, a NATO declarou a Ucrânia num caminho "irreversível" para a adesão, mas não chegou a convidar o país a aderir.

Os Estados Unidos e a Alemanha recusaram que a Ucrânia aderisse à NATO enquanto estavam em guerra. com a Rússia.

Um obstáculo tem sido a opinião de que as fronteiras da Ucrânia necessitariam de ser claramente demarcadas antes de a Ucrânia poder aderir, para que não haja dúvidas sobre onde entraria em vigor o pacto de defesa mútua da aliança. O Exército invasor da Rússia ocupa cerca de um quinto da Ucrânia.

O presidente francês Emmanuel Macron apresentou a ideia de tropas ocidentais no terreno na Ucrânia, em fevereiro, mas levantou os mesmos receios de escalada que levaram os líderes ocidentais a impor limites ao fornecimento de armas e às permissões para a sua utilização.

Os 'pesos pesados' militares europeus, Alemanha e Polónia, disseram imediatamente que não enviariam tropas para a Ucrânia.

Recentemente, Friedrich Merz, adversário do chanceler alemão, Olaf Scholz, nas próximas eleições alemãs, realçou que existe um "consenso básico" na Alemanha sobre a continuação da prestação de ajuda militar à Ucrânia.

Mas durante uma visita a Kiev, também destacou divergências com Scholz, que se recusou a enviar mísseis de cruzeiro de longo alcance da Taurus para a Ucrânia, pois insiste que tudo deve ser feito para evitar uma guerra mais ampla entre o Ocidente e a Rússia.

"A nossa posição é clara, tal como a do meu grupo parlamentar: queremos colocar o seu exército [ucraniano] em posição de alcançar bases militares na Rússia - não a população civil, não a infraestrutura, mas os alvos militares a partir dos quais o seu país está a ser combatido", apontou, nessa visita.

"Com esta restrição de alcance, estamos a forçar o seu país a lutar com uma mão atrás das costas, e essa não é a nossa posição", acrescentou o líder da CDU, que está no topo das preferências de acordo com as sondagens, para as eleições de 23 de fevereiro.

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