Trump salvou-se do impeachment mas não dos problemas judiciais
Já sem a imunidade que a presidência lhe dava, o ex-presidente enfrenta várias investigações. Os negócios, esses, afetados pela pandemia de covid-19, também podiam ir melhor.
Mal soube que escapara a uma - inédita nos EUA - tentativa de impeachment, Donald Trump apressou-se a garantir que o seu movimento político "está apenas a começar". Que o ex-presidente, alvo de um segundo processo de destituição apesar de já ter deixado o cargo a 20 de janeiro por incitação aos seus apoiantes que a 6 de janeiro invadiram o Capitólio num ataque que resultou em cinco mortes, pretende manter-se ativo na política e até, provavelmente, tentar uma nova candidatura às presidenciais de 2024, poucos duvidam. Mas se se livrou do impeachment, o milionário está longe de deixar para trás os problemas com a justiça.
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No domingo ficou a saber-se que os procuradores da Geórgia se juntaram aos de Nova Iorque para investigar mais profundamente as suas ações. Enquanto o mundo assistia à exibição de mais vídeos do violento ataque ao Capitólio pela multidão de apoiantes de Trump que pouco antes ouvira o discurso do presidente junto à Casa Branca, a poucas centenas de metros do edifício do Congresso, durante o qual reafirmara que a vitória nas presidenciais de 3 de novembro lhe foi roubada, responsáveis na Geórgia anunciavam que iam abrir investigações aos esforços do republicano para reverter os resultados eleitorais no estado. Incluindo ter pressionado altos responsáveis estaduais para "encontrarem" votos suficientes para tirar a vitória a Biden e virar o estado a seu favor.
Fora da Casa Branca e sem a imunidade que a presidência lhe dava, Trump enfrenta agora uma multiplicidade de investigações criminais, processos civis e queixas de pelo menos duas mulheres que o acusam de agressão sexual.
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Também nos negócios as coisas podiam estar a correr melhor para o milionário que fez fortuna no ramo da construção civil mas que rapidamente alargou os horizontes, uma vez que a Trump Organization já está a sofrer as consequências da pandemia de covid-19. Isto além de vários parceiros de negócios terem abandonado a empresa na sequência do ataque ao Capitólio.
Mas voltando à Geórgia, os procuradores do estado anunciaram a abertura de duas novas investigações às chamadas que Trump fez para pressionar os responsáveis estaduais a mudar o resultado das eleições. Um dos telefonemas teve como destinatário o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, quem o presidente pediu para "encontrar" os tais votos que lhe podiam dar a vitória. "Não é um caso fácil, mas não devemos deixar de investigar", explicou à CNN Bret Williams, antigo procurador em Nova Iorque e Atlanta.p>
Num comunicado enviado à mesma estação de televisão, o conselheiro de Trump Jason Miller, garantiu que o republicano não fez nada de "impróprio". E acrescentou: "Se Raffensperger não queria receber telefonemas sobre as eleições não devia ter querido ser secretário de Estado."p>
Republicanos divididos
Para o Partido Republicano, o facto de Trump ter sido ilibado não é o fim da dor de cabeça com o ex-presidente. Apesar de ter votado contra o impeachment, o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell foi duríssimo nas palavras que usou para descrever o comportamento do ex-presidente a 6 de janeiro. "As ações do presidente Trump que antecederam o ataque foram um vergonhoso abandono dos seus deveres", afirmou, antes de garantir: "Não foram 74 milhões de americanos [o número de votos que Trump teve nas presidenciais] que arquitetaram a campanha de desinformação que levou [à invasão do Capitólio]. Foi uma pessoa. Só uma."
Profundamente dividido entre a ala mais radical que se revê na mensagem e no estilo de Trump e a ala moderada que quer esquecer rapidamente o legado que o ex-presidente deixou mas sem perder o apoio essencial das bases que votaram nele, o Partido Republicano procura um equilibro difícil.
"Penso que ele nunca vai voltar a ser presidente dos EUA, tendo em conta o que se passa aqui e agora."
"Penso que ele nunca vai voltar a ser presidente dos EUA, tendo em conta o que se passa aqui e agora", disse também à CNN o senador Kevin Crameng>r, um dos muitos que votaram para ilibar Trump mas deixaram claro logo depois que isso não significa que o apoiem como candidato em 2024, denunciando os danos que os seus atos provocaram na sua reputação.
O Senado votou a favor do impeachment por 57 votos contra 43 - sem chegar à maioria de dois terços necessária para o aprovar.
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