"Estamos a enfrentar um problema terrível”. EUA param encomendas de vinhos portugueses e da Europa

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na semana passada a suspensão das chamadas "tarifas recíprocas" por 90 dias, sendo que estas incluíam a União Europeia.
"Estamos a enfrentar um problema terrível”. EUA param encomendas de vinhos portugueses e da Europa
Foto: Fernando Timóteo/Lusa

Trump diz que tarifas sobre chips semicondutores importados estão para breve

O presidente dos Estados Unidos afirmou este domingo que na próxima semana será anuncia a tarifa sobre os semicondutores importados, ressalvando que haverá flexibilidade com algumas empresas do setor.

Esta promessa de Donald Trump significa que provavelmente durarão pouco as isenções a telemóveis e computadores portáteis nas tarifas recíprocas à China, uma vez que o líder da Casa Branca quer redefinir o comércio no setor dos semicondutores.

"Queríamos descomplicar isto de muitas outras empresas, porque queremos fabricar os nossos chips, semicondutores e outras coisas no nosso país", afirmou Trump aos jornalistas a bordo do Air Force One enquanto viajava de regresso para Washington a partir da sua propriedade em West Palm Beach.

O presidente dos Estados Unidos recusou dizer se alguns produtos, como os smartphones, ainda poderiam ficar isentos, mas salientou que "é preciso mostrar uma certa flexibilidade". "Ninguém deveria ser tão rígido", vincou.

Antes, Trump anunciou uma investigação comercial de segurança nacional no setor dos semicondutores. "Estamos a analisar os semicondutores e TODA A CADEIA DE FORNECIMENTO DE ELETRÓNICA nas próximas investigações sobre as tarifas de segurança nacional", publicou nas redes sociais.

O Governo dos Estados Unidos da América havia anunciado no sábado uma série de exceções às tarifas aplicadas sobre importações, passando a isentar a entrada de telemóveis, computadores e outros componentes e produtos eletrónicos.

As isenções, publicadas num boletim do Serviço de Imigração e Alfândegas, foram este sábado citadas pela agência Europa Press e representam uma limitação das taxas, excluindo estes bens de dois tipos de tarifas: a de 125% imposta sobre a China, e a tarifa de base de 10% aplicada sobre quase todos os outros países.

A decisão deveria aliviar o impacto dos direitos aduaneiros nos consumidores e beneficiar gigantes dos mercados, como a Apple ou a Samsung.

Estas isenções são aplicáveis a telemóveis, computadores portáteis, discos rígidos, microprocessadores e ‘chips’ de memória.

De fora das tarifas teriam ficado, também, máquinas utilizadas para o fabrico de semicondutores – numa referência à Tawan Semiconductor Manufacturing, que anunciou investimentos em fábricas em território norte-americano.

Contramedidas da UE suspensas entre hoje e 14 de julho

As contramedidas anunciadas pela União Europeia (UE) para responder às tarifas aduaneiras impostas pelos Estados Unidos ao aço e alumínio comunitários estão suspensas entre hoje e 14 de julho para permitir negociações, oficializou a Comissão Europeia.

“A União Europeia suspendeu as suas contramedidas em relação às tarifas comerciais injustificadas impostas pelos Estados Unidos, a fim de dar tempo e espaço para as negociações entre a UE e os EUA”, anuncia em comunicado o executivo comunitário, que detém a competência da política comercial no espaço comunitário.

Para tal, a instituição adotou hoje – uma semana após o anúncio de tal suspensão, que se deveu à pausa temporária norte-americana na aplicação de tarifas recíprocas de 20% à UE – dois atos jurídicos que impõem e suspendem as suas contramedidas, com efeito até 14 de julho deste ano.

No total, a resposta comunitária agora suspensa abrange 21 mil milhões de euros de exportações dos Estados Unidos e, além destas, “prosseguem os trabalhos preparatórios sobre outras contramedidas da UE” que possam vir a ser adotadas.

Para Bruxelas, os novos direitos aduaneiros de Washington são “injustificados e prejudiciais, correndo o risco de causar danos económicos a ambas as partes, bem como à economia mundial”.

Certo é que a UE prefere dialogar com o seu parceiro transatlântico e, por isso, o comissário europeu do Comércio, Maroš Šefčovič, está hoje em Washington para reuniões com os seus homólogos norte-americanos a fim de explorar o terreno para uma solução negociada.

A adoção da decisão surge num momento de acentuadas tensões comerciais depois dos anúncios de Donald Trump de imposição de taxas de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário, estas últimas entretanto suspensas por 90 dias.

Esta suspensão acalmou os mercados, que têm vindo a registar graves perdas, e foi saudada e secundada pela UE, que suspendeu, durante o mesmo período, as tarifas de 25% a produtos norte-americanos que havia aprovado na quarta-feira em resposta às aplicadas pelos Estados Unidos ao aço e alumínio europeus.

A Comissão Europeia tem optado pela prudência e essa cautela é apoiada por países como Portugal.

Bruxelas quer, neste período de pausa de 90 dias, conseguir negociar com Washington, depois de ter já proposto tarifas zero para bens industriais nas trocas comerciais entre ambos os blocos.

Cálculos da Comissão Europeia dão conta de que os novos direitos aduaneiros norte-americanos podem implicar perdas de 0,8% a 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA até 2027, sendo esta percentagem de 0,2% do PIB no caso da UE.

No pior cenário, isto é, se os direitos aduaneiros forem permanentes ou se houver outras contramedidas, as consequências económicas serão mais negativas, de até 3,1% a 3,3% para os Estados Unidos e de 0,5% a 0,6% para a UE.

Em termos globais, o executivo comunitário estima uma perda de 1,2% no PIB mundial e uma queda de 7,7% no comércio mundial em três anos.

Lusa

EUA param encomendas de vinhos portugueses e da Europa

O presidente da Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (ANCEVE), Paulo Amorim, disse hoje que “os EUA pararam as encomendas de vinhos portugueses e de vinhos da Europa”.

“A incerteza é terrível e com a incerteza a cadeia de distribuição nos Estados Unidos parou as encomendas de vinhos portugueses e de vinhos da Europa e, portanto, neste momento estamos a enfrentar um problema terrível e não estamos a conseguir vender”, afirmou o presidente da associação.

Paulo Amorim teme ainda que, a concretizarem-se as tarifas, a “maior parte do prejuízo seja assumido pelos produtores de vinho”, o que considera uma “injustiça gigantesca”.

O responsável falou aos jornalistas após reunir-se, em conjunto com outras 16 associações setoriais, com o ministro da Economia e com o ministro da Agricultura e Pescas, em Lisboa, no âmbito das tarifas anunciadas pelo Presidente dos Estados Unidos.

O presidente da ANCEVE disse ainda que o vinho português precisa “de um novo plano Porter”, que “ajude a promover o vinho português de uma forma mais dinâmica”, tendo em conta que “o vinho leva longe o nome de Portugal”.

Lusa

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