Falando no parlamento no passado dia 14, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, classificou Israel como um “Estado genocida”, garantindo que Madrid “não faz negócios” com um país desse calibre. Comentários que foram recebidos com fúria em Telavive, que convocou o embaixador espanhol em Israel para um “encontro de repreensão”. De acordo com os media espanhóis, esta foi a primeira vez que Sánchez usou a expressão “genocida” para se referir a Israel, mas não causou muito espanto tendo em conta que o líder do governo espanhol é há muito tempo crítico das políticas israelitas em relação aos palestinianos.A defesa de Sánchez em relação à causa palestiniana ganhou um especial significado quando há um ano anunciou que Espanha se tinha juntado “aos mais de 140 países que já reconhecem a Palestina como um Estado", intenção que já tinha revelado em novembro de 2023, quando visitou Israel, mas também a Cisjordânia. O reconhecimento da Palestina como Estado foi seguido por países como a Irlanda ou a Noruega, e levou o corpo diplomático israelita a sair de Espanha. A esta decisão seguiu-se, logo em setembro, uma visita a Madrid do presidente da Autoridade Palestiniana e, em novembro, Sánchez recebeu o seu homólogo palestiniano, Mohammad Mustafa, com vários dos seus ministros, tendo sido assinados acordos bilaterais sobre trabalho, educação, juventude e agricultura. “Esta reunião é um símbolo do compromisso que a Espanha tem com a Palestina: com o seu presente e o seu futuro”, referiu o líder espanhol na altura. Antes disso, Espanha, a par da Irlanda, já tinha pedido à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para que o acordo de associação entre o bloco e Israel fosse revisto, mas sem sucesso – esta revisão foi apenas aprovada esta terça-feira. No mês passado, Pedro Sánchez desautorizou o seu ministro do Interior e cancelou um contrato para adquirir munições para Guardia Civil a uma empresa israelita, numa cedência à pressão do seu parceiro de coligação, o Sumar, que tinha ameaçado abandonar o governo.O mais recente episódio de tensão entre Madrid e Telavive está relacionado com a Eurovisão, com Pedro Sánchez a defender na segunda-feira expulsão de Israel do Festival da Eurovisão por causa da ofensiva militar em Gaza, denunciando haver dualidade de critérios em relação à Rússia - o primeiro-ministro espanhol lembrou que "ninguém levou as mãos à cabeça" quando "se exigiu a saída" da Rússia das competições internacionais e da Eurovisão após a invasão da Ucrânia. "Não podemos permitir dois pesos e duas medidas, nem mesmo na cultura", disse Sánchez, citado pela Europa Press.A tensão nas relações entre Espanha e Israel não é uma novidade, começando pelo facto de Madrid só ter reconhecido o Estado judaico cerca de 40 anos após o seu estabelecimento. De notar ainda que desde 1998, com Benjamin Netanyahu, nenhum primeiro-ministro israelita visitou oficialmente Espanha. Já neste século, e num sinal dessa fragilidade, Israel anunciou em 2017 que iria congelar as suas relações com Madrid, depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas, presidido pelos espanhóis, ter aprovado uma resolução condenando os colonatos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Uma situação que só amenizou em em dezembro de 2020, quando Arancha González Laya se tornou na primeira líder da diplomacia espanhola a visitar oficialmente Israel desde 2015, mas que contou também com uma ida à Palestina e um encontro com Mahmoud Abbas.