Israel poderá lançar em breve um ataque contra o Irão, nomeadamente contra a suas instalações nucleares, de acordo com responsáveis dos Estados Unidos e da Europa, citados esta quinta-feira, 12 de junho, por medias norte-americanos como a CBS, a NBC e o New York Times, com Teerão a garantir que, se tal acontecer, irá responder, incluindo com ataques contra bases dos Estados Unidos, possibilidades que poderão desestabilizar ainda mais a situação no Médio Oriente e explicar a decisão da Casa Branca de retirar pessoal diplomático e civil da região.Este cenário surge ainda no dia em que Omã, que tem servido como mediador, anunciou que está prevista para domingo uma nova ronda de negociações entre Washington e Teerão sobre um potencial acordo nuclear e que a Agência Internacional de Energia Atómica revelou que o Irão violou as suas obrigações de não-proliferação.De acordo com os media norte-americanos, a possibilidade de Israel avançar contra o Irão surge numa altura em que o presidente Donald Trump indicou já não estar tão confiante na obtenção de um acordo com Teerão, que insiste em manter o enriquecimento de urânio de baixo nível.O presidente dos Estados Unidos foi questionado esta quinta-feira sobre se um ataque israelita ao Irão estaria iminente. "Bem, não quero dizer iminente, mas parece que é algo que pode muito bem acontecer", respondeu, acrescentando que "adorava evitar o conflito".Os media israelitas revelaram esta quinta-feira também que o ministro dos Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer, e o líder da Mossad, David Barnea, viajarão para Omã para se reunirem com o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, antes das negociações entre Washington e Teerão deste domingo, para tentar esclarecer a posição de Telavive.Sobre as conversas com Teerão, o líder norte-americano referiu que “o Irão terá de negociar um pouco mais duramente, o que significa que terá de nos dar algo que não está disposto a dar-nos agora". Na noite anterior, Trump já havia dito que os norte-americanos tinham sido aconselhados a deixar a região "porque pode ser um lugar perigoso, e veremos o que acontece", tendo reiterado ainda que os EUA não querem que o Irão desenvolva uma arma nuclear.De acordo com a Reuters, o Departamento de Estado norte-americano autorizou saídas voluntárias do Bahrein e do Kuwait, tendo ainda atualizado o seu alerta de viagens internacionais na noite de quarta-feira para refletir a mais recente postura dos EUA. "A 11 de junho, o Departamento de Estado ordenou a saída de funcionários não-urgentes do governo norte-americano devido ao aumento das tensões regionais", referiu o alerta.A AFP noticiou ainda que a Embaixada dos EUA em Jerusalém anunciou que está a restringir a circulação de funcionários e dos seus familiares, que ficam impedidos de “viajar para fora da Área Metropolitana de Telavive, Jerusalém e Bersheva até novas ordens", sendo permitidas viagens entre estes locais, para o Aeroporto de Telavive ou pela autoestrada que atravessa a Cisjordânia ocupada até à fronteira com a Jordânia.Uma alta-autoridade iraniana disse à Reuters esta quinta-feira que um país regional "amigo" alertou Teerão para um potencial ataque militar de Israel contra as suas instalações nucleares, reforçando que as tensões visavam "influenciar Teerão a mudar a sua posição sobre os seus direitos nucleares" durante as negociações com os Estados Unidos, marcadas para domingo, em Omã, e prometeu que Teerão manteria firme a sua insistência em manter algum enriquecimento.O comandante da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, garantiu esta quinta-feira também, em declarações aos meios de comunicação estatais, que a retaliação iraniana a qualquer ataque israelita será "mais contundente e destrutiva" do que no passado – em outubro, o Irão disparou uma série de mísseis contra Israel, depois de as forças israelitas terem bombardeado o consulado de Teerão em Damasco.Um alto-funcionário iraniano adiantou ao New York Times que as autoridades militares e governamentais de Teerão já se reuniram para discutir a sua resposta a um possível ataque israelita, tendo elaborado um plano que envolveria um contra-ataque imediato a Israel com centenas de mísseis balísticos.No dia anterior, o ministro da Defesa iraniano já havia alertado também que, se as negociações nucleares falharem e surgir um conflito com os Estados Unidos, o Irão atacará as bases americanas na região. “Algumas autoridades do outro lado ameaçam entrar em conflito se as negociações não derem frutos. Se nos for imposto um conflito, todas as bases americanas estarão ao nosso alcance e atacá-las-emos corajosamente nos países anfitriões", referiu Aziz Nasirzadeh numa conferência de imprensa.Apelo à comunidade internacionalEstas ameaças de uma possível escalada no Médio Oriente surgem no dia em que o conselho de governadores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) anunciou que o Irão não está a cumprir as suas obrigações nucleares pela primeira vez em 20 anos, uma decisão que poderá levar ao restaurar das sanções da ONU contra Teerão, cujo fim estava previsto para outubro."As inúmeras falhas do Irão em cumprir as suas obrigações, desde 2019, de fornecer à agência uma cooperação plena e atempada em relação a materiais nucleares não-declarados e atividades em múltiplos locais não-declarados no Irão constituem incumprimento das suas obrigações ao abrigo do Acordo de Salvaguardas", refere o projeto de resolução que foi aprovado por 19 dos 35 países do conselho de governadores. Rússia, China e o Burkina Faso opuseram-se, 11 abstiveram-se, entre os quais a África do Sul, a Índia, o Paquistão, o Egito, a Indonésia e o Brasil, e dois não votaram.“Infelizmente, o Irão não respondeu repetidamente ou não forneceu respostas tecnicamente fiáveis às perguntas da agência”, explicou Rafael Mariano Grossi, líder da AIEA. “Procurou também higienizar os locais, o que impediu as atividades de verificação da agência.”Esta decisão segue-se a uma série de impasses entre a AIEA e o Irão, desde que Trump retirou os Estados Unidos de um acordo nuclear entre Teerão e grandes potências durante o seu primeiro mandato, apenas três anos após a sua assinatura em 2015. Um responsável da AIEA adiantou à Reuters que o Irão respondeu a esta decisão informando a agência das Nações Unidas que planeia inaugurar uma terceira central de enriquecimento de urânio.O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel reagiu também à decisão da AIEA, apelando à comunidade internacional para "responder decisivamente" e impedir que o Teerão desenvolva armas nucleares. "O Irão tem obstruído consistentemente a verificação e monitorização da AIEA, removido inspetores e higienizado e ocultado locais suspeitos de serem não-declarados no Irão", referiu a diplomacia de Telavive no X, notando que “estas ações minam o regime global de não-proliferação e representam uma ameaça iminente à segurança e estabilidade regional e internacional".De referir que o Irão, ao contrário de Israel, é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares desde 1970.