Super Terça-Feira confirma reedição do duelo presidencial de 2020
Donald Trump selou ontem a reedição das presidenciais de há quatro anos frente a Joe Biden depois de Nikki Haley ter anunciado a sua desistência da corrida para a nomeação republicana, após uma Super Terça-Feira onde só conseguiu vencer no estado do Vermont. Na hora da despedida, a antiga embaixadora dos Estados Unidos na ONU recusou dar o seu apoio ao ex-presidente, que retratou nas últimas semanas como mentalmente incompetente, dizendo que Trump terá de conquistar o voto dos moderados que a apoiaram até agora. “Devemos afastar-nos da escuridão do ódio e da divisão”, defendeu ontem Haley em Charleston, Carolina do Sul, o seu estado natal e onde há umas semanas também foi derrotada por Trump, a quem desejou boa sorte. A republicana lamentou ainda a “retirada” dos Estados Unidos em questões mundiais, incluindo a Ucrânia, enquanto Trump e seus aliados republicanos mais radicais bloqueiam no Congresso a ajuda para Kiev.
A saída de cena de Haley deixa o campo republicano livre para Trump confirmando assim que, em novembro, os Estados Unidos e o mundo vão assistir a uma reedição das presidenciais de 2020. Mas desta vez com Joe Biden a sofrer críticas pela posição da Casa Branca em relação à Faixa de Gaza, a que se somam dúvidas quanto às suas capacidades para a presidência devido à sua idade (fará 82 anos dias depois das eleições), e Donald Trump, apesar de chegar às urnas com 78 anos, a ter a atenção sobre si centrada nas múltiplas acusações criminais que enfrenta, incluindo a sua tentativa de derrubar os resultados das presidenciais de há quatro anos.
Esta Super Terça-Feira, em que estavam em jogo 15 estados e um território e cerca de um terço dos delegados de ambos os partidos, foi pautada pela falta de suspense sobre o seu desfecho, já que Biden e Trump garantiram as nomeações. Mas, mesmo assim, ainda conseguiu reservar algumas (curtas) surpresas. Donald Trump conquistou 14 dos 15 estados em disputa, com Haley a conquistar apenas o Vermont. Em compensação, ontem recebeu um apoio de peso: Mitch McConnell, o líder da minoria republicana no Senado, anunciou o seu apoio ao ex-presidente - já tinha dito anteriormente que apoiaria o nomeado do partido -, após três anos de tensão entre os dois por causa das últimas presidenciais (Trump afirma que os resultados foram adulterados e McConnell aceitou a vitória de Biden).
“Chamam-lhe Super Terça-Feira por uma razão”, disse Trump na terça-feira à noite aos seus apoiantes em Mar-a-Lago. “Dizem-me, especialistas e outros, que nunca houve algo assim, nunca houve algo tão conclusivo”. Na verdade, há quatro anos, Trump venceu em todos os estados da Super Terça-Feira, incluindo no Vermont, onde agora foi derrotado por Nikki Haley.
Do lado democrata, Joe Biden obteve uma vitória clara em todos os estados, sendo apenas surpreendido no pequeno território da Samoa Americana, onde o desconhecido Jason Palmer conquistou 51 dos 91 votos democratas, apesar de nunca ter estado na região. Um percalço que não perturba a caminhada pela nomeação do presidente dos Estados Unidos - em 2020, este foi também o único local onde o bilionário Michael Bloomberg conseguiu uma vitória nas primárias democratas.
Espera-se agora que Biden use o seu discurso sobre o Estado da União (ver texto ao lado), marcado para hoje, para pintar a eleição de novembro como uma escolha difícil entre ele e uma ameaça ao país, como já começou a fazer logo na terça-feira. “Os resultados desta noite deixam o povo americano com uma escolha clara. Vamos continuar a avançar ou vamos deixar que Donald Trump nos puxe para atrás, para o caos, a divisão, e a escuridão que definiu o seu mandato”, questionou o democrata, através de um comunicado.
Sinais de alerta dos eleitores
A média das sondagens dão a Trump uma vantagem estreita, ao contrário de há quatro anos, quando Biden estava largamente à frente nas intenções de voto. No entanto, o mais recente estudo de opinião Reuters/Ipsos dá a cada um dos candidatos 36% das intenções de voto, com os restantes a mostrarem-se indecisos, preferirem votar noutro candidato que não estes ou mesmo em nenhum.
Numa tentativa de ganhar alguma vantagem, tanto Trump como Biden apelaram ontem ao voto dos apoiantes de Nikki Haley, pouco depois da ex-governadora da Carolina do Sul ter anunciado a sua desistência. “Gostaria de convidar todos os apoiantes de Haley a juntarem-se ao maior movimento da história do nosso país”, escreveu o republicano na sua rede social Truth. “Há um lugar para os apoiantes de Nikki Haley na minha campanha”, referiu o democrata num comunicado, onde elogiou também a “coragem” da candidata em desafiar Trump.
Os dois têm ainda de acautelar outros sinais de alerta vindos do eleitorado. Biden tem de lidar com uma votação de protesto contra o apoio da Casa Branca à ofensiva de Israel em Gaza, o que já se verificou em estados como o Minnesota, onde os eleitores democratas optaram por escolher a opção “não comprometido”.
Outro dos problemas é a perceção dos americanos - democratas e republicanos - relativamente ao estado da economia. Os indicadores são bastante positivos, e superiores ao do seu antecessor, mas, segundo uma sondagem Reuters/Ipsos, 39% dos eleitores dizem que Trump lidou melhor com o assunto enquanto foi presidente, e apenas 33% referem que Biden tem tido melhores resultados.
Do lado de Trump, os eleitores tradicionais republicanos nos principais estados indecisos podem ficar desanimados com o caos, escândalos e processos judiciais que giram à sua volta.